``Somos livres, terminou a ditadura perfeita!', exclamava Gicela Sehedi, uma jovem de 25 anos, que corria com a camiseta ensopada de espuma spray pela avenida da Reforma, que atravessa o coraçao da capital mexicana.

A definiçao da ``ditadura perfeita', dita pelo escritor peruano Mario Vargas Llosa, perseguiu como uma maldiçao, durante uma década, o partido mais antigo no poder no mundo até agora, estabelecido depois do fim da revoluçao camponesa do início de século, desencadeada em 1910.

Milhares de jovens percorreram várias vezes as principais avenidas da capital, uns de carro e outros correndo, aos gritos de ``sim, posso, consegui!'.

``Um meteoro de votos da cidadania acabou com os dinossauros do PRI', fundado pelos caudilhos revolucionários em 1929, disse o cientista político Rubén Aguilar, confundido entre a multidao que rodeou a casa de campanha de Fox.

Do novo bunker de Fox, inaugurado no domingo eleitoral, mesmo dia de seu 58º aniversário, partiu uma caravana de milhares de pessoas aos quais se foram juntando em cada esquina mais e mais cidadaos, com bandeiras e barulhentas cornetas.

Adolfo Aguilar Zinser, um centro-esquerdista assessor de Fox, literalmente submergiu entre cerca de 30 mil seguidores, a grande maioria jovens, ante o obelisco do Anjo da Independência, repetindo: ``Nao posso acreditar, conseguimos, apesar dos ferozes ataques do velho regime!'.

O aroma de uma revoluçao cidada se expandiu velozmente pelo México quando foram conhecidos os resultados das pesquisas de boca de urna e depois com os resultados oficiais que davam Fox com a Presidência nas maos, com vantagem de entre 6 e 9 pontos sobre o segundo colocado.

Desde o início da campanha, Fox definiu sua estratégia como um plebiscito entre a mudança ou a continuidade.

A idéia de apresentar a eleiçao como um plebiscito foi apresentada a Fox por Jorge Castañeda, o autor de uma biografia do Che Guevara e de outros livros sobre a esquerda latino-americana e que foi assessor do centro-esquerdista Cuauhtémoc Cárdenas, antes de passar para as fileiras conservadoras.

Para o PRI, agora o maior desafio ``é pela primeira vez ser um partido e nao uma subsidiária do Estado. Se nao encontra forma de ter uma nova liderança separada do Estado, deixará de existir', acrescentou Aguilar, professor da Universidade Ibero-americana, jesuíta.

``Nós mexicanos resgatamos nossa dignidade, já nao somos marionetes, estamos vivos e somos livres', gritava eufórica outra jovem entre a multidao.

Apesar da euforia dos ganhadores, esta é a primeira vez que o poder passa de um partido para outro sem violência, sem conspiraçoes ou golpes de Estado em toda a história deste país.

A segunda-feira amanhecia no México. O PRI prepara-se pela primeira vez em sua história para deixar de governar.