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Relação com Morando deprecia trajetória de Reple

Secretário de Saúde de S.Bernardo foi denunciado pelo MPF por fraudes em contratos após carreira considerada técnica

Fábio Martins
Raphael Rocha
Do Diário do Grande ABC
11/07/2020 | 00:01
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Com histórico de carreira considerada técnica mesmo ocupando cargos no poder público, o médico ginecologista e secretário de Saúde de São Bernardo, Geraldo Reple Sobrinho, 62 anos, viu trajetória em parte depreciada diante do elo estreitado com o prefeito de São Bernardo, Orlando Morando (PSDB), principal alvo da denúncia do MPF (Ministério Público Federal) por corrupção passiva, no âmbito da Operação Prato Feito. Reple figura na acusação formal por envolvimento nos crimes de fraudes em licitação e organização criminosa. Ele nega as irregularidades apontadas.

Em 2017, já no primeiro ano do governo tucano, a Nutrivida Alimentação e Serviços Ltda, acusada de ter ‘laranjas’ ligados ao secretário Carlos Maciel no comando, foi contratada, de forma emergencial, para oferecer refeições da rede de saúde municipal. Foram dois vínculos separados, que, somados, representaram R$ 15,2 milhões. A assinatura de Reple se deu em julho, com dispensa de licitação, em convênios válidos por seis meses, sob justificativa de, no período, realizar concorrência. Em dezembro, o edital foi lançado. A empresa contestou regras e, mais tarde, recorreu à Justiça, que acatou liminar e suspendeu o certame. No dia seguinte, o secretário celebrou novo acordo, de prorrogação, com a terceirizada por igual prazo.

A denúncia foi oficializada em junho. De acordo com o documento, em conluio, os envolvidos no episódio praticaram atos delituosos, consistentes em dispensar a realização de licitação fora dos casos previstos em lei, por meio da criação artificial de situação emergencial, que possibilitaram à Nutrivida manter os contratos. A fraude nos certames teria ocorrido justamente para beneficiar empresas atreladas ao núcleo de Fábio Mathias Favaretto, coordenador da organização e genro de Maciel, mediante pagamento e recebimento de vantagens indevidas.

A acusação destoa da estrada percorrida por Reple, que antes de assumir o posto em São Bernardo, no começo de 2017, teve convite para exercer a função de secretário adjunto de Saúde do Estado, na gestão de Geraldo Alckmin (PSDB) – à época, então detentor do cargo, Wilson Pollara, foi nomeado titular do setor na gestão João Doria (PSDB), na Capital. Também teve passe pleiteado por Paulo Serra (PSDB), eleito em 2016 prefeito de Santo André. Escolheu ficar com Morando, na região onde se formou (Faculdade de Medicina do ABC), constituiu família (é casado e tem quatro filhos) e ocupou cargos públicos de destaque.

O hoje secretário presidiu em duas ocasiões a FUABC (Fundação do ABC) – a primeira passagem por dois anos, entre 1994 e 1996, e a última ficou praticamente um exercício, em 2000. O período derradeiro de trabalho serviu de transição antes de ser alçado à superintendência do Hospital Estadual Mário Covas. Ficou no comando desde a sua fundação, no fim de 2001, fixando-se no posto por dez anos, até início de 2012, quando deu lugar a Desiré Callegari. Por essa bênção à unidade custeada pelo governo paulista, há décadas gerido pelo PSDB, sempre foi identificado pelo elo com o tucanato – o que aproximou-lhe de políticos da legenda.

Apesar da ligação com a sigla, Reple evitava a pecha de partidário no período. Registrou relação, inclusive, com o ITV (Instituto Teotônio Vilela), braço do tucanato para formulação de políticas públicas, entre 2008 e 2009. Foi em 2015, por sua vez, já fora do holofotes do Mário Covas, que ele vestiu a camisa e se filiou ao PSDB, onde chegou a ser cotado a compor chapa majoritária. Continua com a ficha válida.

Reple foi coordenador do programa de saúde da mulher no governo de Walter Demarchi em São Bernardo e continuou na função quando Mauricio Soares assumiu o Paço, em 1997. Sua aproximação com Morando se deu quando ele foi ao Hospital Mário Covas. Morando era deputado, tinha no então prefeito William Dib seu padrinho político e costumava recorrer a Reple.

Foi no Hospital Mário Covas que Reple recebeu um dos raros apontamentos ao trabalho. O TCE (Tribunal de Contas do Estado), ao avaliar o exercício de 2012 do equipamento, considerou irregular a prestação de contas pelo descompasso financeiro. Filas de espera por cirurgia de alta complexidade e para obter remédio na farmácia de alto custo também resultavam em críticas recorrentes.

Reple rechaça qualquer ilicitude no caso. Argumentou ter visto a denúncia com surpresa.




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