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Túmulos de santas e milagreiros são visitados nesta terça
Por Ângela Corrêa e
Renata Gonçalez
Do Diário do Grande ABC
02/11/2004 | 09:19
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Santas que não foram beatificadas, pessoas que morreram tragicamente e que são consideradas milagreiras. Há prefeitos, líderes comunitários e religiosos. Todos personagens enterrados nos cemitérios da região e que levam aos túmulos curiosos, pessoas em busca dos mais variados tipos de ajuda.

A atriz Jacyra Almeida Sampaio, a tia Anastácia da antiga versão do Sítio do Pica-pau-amarelo, é uma delas. Morta há seis anos, está enterrada no cemitério da Colina, em São Bernardo. "O jazigo dela é um dos mais visitados. As pessoas vêm, rezam e choram, inclusive crianças que nunca viram os episódios antigos do Sítio", disse o funcionário Pedro Melo. No jazilo, lê-se: Jacyra - Tia Anastácia.

Na mesma cidade, no cemitério municipal da Vila Euclides, está enterrado o pároco Tarcísio Zanotti. A população vai ao túmulo e alisa a pedra da lápide. Se minar água, o desejo da pessoa será atendido. "Aconteceu com meu irmão. Ele andava com uma aflição e passou a mão no túmulo do padre. Saiu água da pedra e o problema dele foi resolvido", disse o encarregado da limpeza do cemitério Ricardo Zapparoli, 61 anos.

Em Santo André, o túmulo da professora Hermínia Lopes Lobo, que dá nome à escola estadual da Vila Assunção, certamente é um dos mais visitados. Todos os anos, os alunos da escola que fica ao lado do cemitério fazem excursões para visitar o mausoléu no dia de aniversário de morte da professora. "Aproveitávamos e víamos coisas curiosas, como o túmulo de um aviador, onde a asa do seu avião permaneceu durante anos", afirmou o ex-aluno Ademir Matheus Pernias, 44. A asa, deteriorada pelo tempo, foi guardada dentro do túmulo.

O túmulo da menina Emile Perez Souza, seqüestrada e morta brutalmente aos 10 anos no início de outubro, é o de maior visitação no cemitério São Sebastião, em Rio Grande da Serra. Ainda sem lápide, não há a foto da menina nem a data de seu aniversário no local. "As pessoas ficaram impressionadas com o caso e vêm aqui prestar homenagens", afirmou o administrador do cemitério, Antônio Mário Pinto, que afirma ter perdido a conta de quantas pessoas visitam diariamente o túmulo. Coveiro e administrador ajudam curiosos a identificarem o local onde Emile está enterrada. "Ele é o mais florido de todos", disse o coveiro Jairo Roberto Rodrigues, que arrumava as flores fincadas sobre a terra ainda exposta.

O túmulo da menina Neves Nascimento Ribeiro, a Santa das Neves, é responsável pela ida de uma legião de fiéis ao cemitério da Saudade, no bairro Cerâmica, em São Caetano. Não se sabe ao certo quem teria tido o primeiro milagre atendido pela menina; sabe-se apenas que a crença é forte e resistente. Os agradecimentos, em geral, vêm em forma de brinquedos que são depositados no mausoléu da família. "Um dia desses, uma mulher que teve um pedido atendido disse que vai mandar pintar o túmulo", contou um funcionário do cemitério. A menina morreu vítima de tétano, aos 11 anos, em 28 de julho de 1948. Ela era moradora da Vila São José, bairro vizinho ao cemitério.

A professora de dança Vanilda Sanches Bébér só tinha 15 anos quando morreu em um parto, há 56 anos. Por causa de sua atuação entre as comunidades carentes de Santo André, onde morava, a garota ganhou fama de milagreira, o que pode ser verificado nas várias plaquinhas de agradecimento fixadas em seu túmulo. A mãe, Ionice Pereira Sanches, 85 anos, vai quinzenalmente ao túmulo da filha, no cemitério da Vila Assunção, em Santo André, para retirar os centenas de bilhetes e flores em agradecimento aos suspostos milagres da menina. Ionice também acredita no poder da filha. "O primeiro milagre foi concedido a uma aluna dela, pouco tempo depois de sua morte." A dona de casa Umbelina Retti, 84 anos, vai ao túmulo da garota toda semana. "Já recebi muitas graças da Vanilda e sempre venho agradecer."

No cemitério da Vila Vitória, em Mauá, o túmulo mais visitado é o do monsenhor Alexandre Venâncio Árminas, morto em 1975 e primeiro pároco da igreja Matriz, fundada em 1954. A paroquiana Marlene Antunes dos Santos, 60 anos, é responsável pela limpeza semanal do túmulo e diz que é costume da população rezar no mausoléu do pároco logo na entrada do cemitério. "É um sinal de respeito mesmo." No cemitério Parque Vale dos Pinheirais, no Jardim Primavera, na mesma cidade, o túmulo mais visitado é o do vice-presidente do Motoclube Cachorros Loucos, João Borba, 34 anos, conhecido como João Galo, morto há um ano. Pelo menos uma vez por semana os amigos do clube vão prestar homenagem a ele.

Um cigano bonito, de faixa na cabeça e brinco na orelha, é o responsável pelos vários bilhetinhos colocados em um mausoléu azul no cemitério da Vila Pires, em Santo André. O cigano em questão é o estudante de Medicina José Magalhães Coelho, também conhecido como Zito, morto de infarto em 1976, aos 25 anos. Não se sabe se foi a foto do mausoléu, tirada em época de Carnaval, que deu a entender que Zito tinha poderes mágicos, mas logo após a sua morte começou o boato de que o estudante poderia unir casais. "Jovens estudantes vinham e pediam para conseguirem um amor na vida", afirmou a faxineira Ana Eufrásia Lopes Antonio, 60 anos, que trabalhou no cemitério por 15 anos.




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