Misto de emoção e orgulho tomou conta dos estudantes da EE Diadema, na tarde de ontem, 42 dias após o movimento pioneiro de ocupação do espaço em protesto contra a reorganização da rede estadual. Carregando na bagagem conquistas como a suspensão do projeto pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB) para 2017, o pedido de demissão do secretário estadual da Educação, Herman Voorwald, e, acima de tudo, a certeza de que são capazes de lutar pelos seus direitos, os jovens voltaram para casa. Em Santo André, as quatro unidades que seguiam em poder dos alunos também foram liberadas.

“Ninguém está saindo da mesma forma que entrou. Foi um período no qual crescemos muito como pessoas. Pode ter certeza de que daqui estão saindo cidadãos que vão fazer a diferença. Militantes de diversas causas”, considera a aluna do 2º ano Fernanda Freitas, 17 anos, que colocou para fora, com tinta azul no muro da escola, um sentimento do grupo: “Esse foi só um recado da força que o estudante tem.”

Além de frases de efeito, o muro da EE Diadema ganhou grafites e também as mãos dos protagonistas da ocupação em forma de assinatura. Antes de liberarem o espaço e levarem para casa seus pertences, os jovens contaram com o auxílio de pais e professores para a limpeza do local. “Confesso que está sendo estranho voltar para casa. Nesse período, nossa relação afetiva com a escola melhorou muito. Já vi diretor, professor e alunos saírem daqui, mas permaneço desde o 2º ano do Ensino Fundamental. Podemos comparar nossa luta a uma escada e a cada dia estamos subindo um degrau”, revela o estudante do 9º ano Carlos Ramiro, 14 anos.

Apesar da pouca idade, o jovem já demonstra forte sentimento de cidadania. “Costumo dizer que tem pessoas que se acomodam naquela vida mais ou menos de ir do trabalho para casa e não pensam no próximo. Se está tudo bem para elas, estão satisfeitas. Mas isso não torna o mundo melhor”, ressalta.

Em Santo André, estudantes das EE Américo Brasiliense, EE Parque Marajoara 2, EE Professor Oscavo de Paula e Silva e EE Wanda Bento Gonçalves também devolveram as chaves das unidades de ensino para os diretores. A decisão foi tomada pelo Comando das Escolas em Luta em assembleia na quinta-feira e vale para todo o Estado. Durante o movimento, 200 instituições de ensino, sendo 25 no Grande ABC, foram ocupadas.

Ontem, os jovens realizaram novo ato contra a reorganização e em favor da Educação de qualidade na Avenida Paulista.

Embora o plano tenha sido adiado pelo governador, a Justiça de São Paulo deu prosseguimento à ação civil pública proposta no dia 3 pelo Ministério Público e pela Defensoria Pública do Estado e acolheu o pedido de liminar que pede a suspensão do projeto. A decisão obriga a manutenção do sistema educacional da forma anterior ao plano, com a permanência dos alunos nas unidades onde já estavam matriculados neste ano, conforme promessa feita por Alckmin.

Enquanto isso, as unidades estão definindo e colocando em prática o calendário de reposição de aulas para a garantia dos 200 dias letivos. Diante do cenário, o Estado decidiu adiar o início das aulas em 2016 em duas semanas: passando do dia 1º para o dia 15 de fevereiro.

O projeto prevê a distribuição de alunos nas escolas de acordo com o ciclo de aprendizado: 1º ao 5º ano (crianças com idade entre 6 e 10 anos), 6º ao 9º ano (11 a 14 anos) e Ensino Médio (15 a 18 anos). Além disso, a proposta acarretaria o fechamento de 94 unidades de ensino, sendo seis na região, além da transferência de 311 mil estudantes e seus professores.