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Mamet amontoa clichês em 'cinturão vermelho'
Ângela Corrêa
Do Diário do Grande ABC
20/06/2008 | 07:09
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Além de Rodrigo Santoro e Alice Braga, o drama Cinturão Vermelho, que estréia hoje apenas em São Paulo, tem outro ingrediente bem típico do Brasil: a prática do jiu-jítsu. Apesar de escrito e dirigido por David Mamet, um dos mais admirados dramaturgos e escritores norte-americanos, o filme escorrega nos clichês, não só em relação ao País, como também aos filmes de artes marciais das décadas passadas.

Alice e Santoro interpretam irmãos brasileiros criados entre os tatames. Sim. Os dois têm bastantes diálogos, tanto no idioma materno quanto em inglês. E estão muito bem. Mas é da atriz paulistana um dos personagens principais. Ela é Sondra, mulher do protagonista Mike Terry (o britânico Chiwetel Ejiofor), professor de jiu-jítsu bem distante do rótulo que se atribui aos lutadores no Brasil. Paciente, polido e nem um pouco truculento. Praticamente a versão em ébano do Sr. Miyagi, de Karatê Kid. Fiel aos preceitos do esporte, recusa-se a competir no circuito local, movido por apostas. Para Sondra, cujo irmão mais velho é estrela do esporte (ponta do professor John Machado), isso é absurdo.

Com as contas no negativo, surge uma despesa inesperada após mal-entendido dentro da academia entre a advogada Laura (Emily Mortimer) e o aluno Joe (Max Martini). Além da vidraça quebrada, a noite desencadeia uma seqüência de eventos desastrosos na aparentemente pacata rotina de Mike. No caminho, o cunhado negociador (Santoro), um astro de Hollywood (Tim Allen) e um agente (Joe Mantegna).

O filme é uma espécie de homenagem de Mamet ao esporte, que pratica há cerca de cinco anos com o mestre brasileiro Renato Magno. O diretor tentou, mas não conseguiu ir além de um Grande Dragão Branco (1988) da vida, em que Van Damme luta ninjitsu. Trilha e frases são lugar-comum e a calma absurda do protagonista irrita. Alice Braga defende a forma como o personagem foi construído. "O Mike se expressa muito como o David enxerga o esporte", explica. Sua personagem e a de Santoro carregam certa vilania, mas eles não enxergam isso como um ataque. "Mesmo porque a princípio o personagem teria outra nacionalidade. O Bruno se chamaria Hector", contemporiza. Embora o par de intérpretes não tenha comentado o figurino, ficaria difícil justificar o exagero na latinidade (Alice lembra a viúva Porcina na seqüência final e Rodrigo é o malandro de correntes). Para ambos, o mais excitante foi ter atuado pelo método naturalista de Mamet.




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