Turismo Titulo
De Praga a Bratislava
Heloísa Cestari
Enviada à República Tcheca
28/07/2011 | 07:12
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1º de janeiro de 1993. A antiga Tchecoslováquia divide-se pacificamente no chamado Divórcio de Veludo. O processo de partilha havia iniciado em 1989, sob influência das reformas empreendidas pelo líder soviético Mikhail Gorbatchov, mas, como toda separação que se preze, levou um tempo para ser oficializado com a anuência de ambas as partes. De um lado ficou a República Tcheca, com seus jardins, spas, bares, esculturas, pontes e cenários tão impecavelmente iluminados que lhe conferiram o merecido título de Paris do Leste Europeu. Do outro, a Eslováquia, ainda pouco explorada pelo turismo se comparada à vizinha famosa, o que é uma pena. Se politicamente elas se deram bem separadas, turisticamente continuam sendo um exemplo de casamento perfeito. E a exemplo de todo bom casal, não só combinam como se completam.

Quer provar um bom vinho? Siga à região das vinícolas a Oeste da Eslováquia, terra dos premiados cabernet sauvignon Mrva & Stanko e Mavin. Prefere cerveja? Então, seu destino deve ser a República Tcheca, berço da pilsner urquell, a mãe de todas as louras geladas. Os tchecos são o povo que mais consome chope no mundo - 158 litros por habitante ao ano - e oferecem até spa com banhos de imersão e cosméticos à base da bebida.

A fama das capitais Praga e Bratislava também é bem diferente. A primeira interpreta o papel da mocinha de temperamento romântico que faz questão de viver em um conto de fadas, repleto de castelos medievais e jardins floridos. A segunda veste a máscara do noivo sóbrio e, por vezes, sombrio, que frequenta alguns inferninhos madrugada adentro, carrega o estigma de truculento pintado nas telas de cinema norte-americanas, mas, no fundo, tem coração mole, vocação para as artes e refinado senso de humor.

Basta uma caminhada pelo centro histórico da capital eslocava para perceber que se trata de uma cidade animada e conferir cenas inusitadas, como uma multidão de jovens travando uma divertida guerra de travesseiros em praça pública ou eslovacos arriscando passos de samba ao som de salsa e vice-versa, como se fosse tudo a mesma coisa. Algo bem diferente da sisuda Eslováquia exibida nas telonas.

Para completar o casamento à la Eduardo e Mônica, os dois países pouco se entendem quando o assunto é dinheiro. Os eslovacos já aderiram ao euro e têm investido pesado para correr atrás do prejuízo deixado pelas décadas de subjugo soviético. O número de empreendimentos com ares moderninhos não deixa dúvidas de que o flerte com o capitalismo virou união estável. Já os tchecos apostam na preservação de suas construções históricas e na desvalorizada moeda local, a coroa, para cativar turistas que não pensam duas vezes antes de se atirar às compras - afinal, os dias de lado B do Velho Continente estão contados, e é melhor aproveitar as ofertas enquanto é tempo. Mas o euro também é aceito em quase todos os estabelecimentos.

Diversidades à parte, esse casal também tem lá suas afinidades. Para evaporar o álcool do vinho ou da cerveja na corrente sanguínea e resistir às temperaturas negativas do inverno europeu, eslovacos e tchecos jogam hóquei. De vez em quando, também rola uma partida de futebol, mas a preferência nacional são mesmo as tacadas no gelo.

Apesar de sequer terem atingido a maioridade como nações independentes, os dois países apresentam farta lista de patrimônios com séculos de história.

E as mesmas pessoas que participaram das manifestações que derrubaram o comunismo - algumas duramente reprimidas, como a Primavera de Praga - hoje comemoram a adesão de seu país à União Europeia. É o sinal da constante metamorfose pela qual o centro e o leste europeu vêm passando. Até que a sorte os separe.

 

A jornalista viajou a convite dos escritórios de Turismo do Grupo V4 (República Tcheca, Eslováquia, Hungria e Polônia).




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