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Casas abrigo ajudam vítimas de violência

Unidades mantidas pelo Consórcio Intermunicipal atendem 14 mulheres e seus filhos na região

Por Natália Fernandjes
do Diário do Grande ABC
22/02/2015 | 07:07
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Denis Maciel/DGABC


A auxiliar de limpeza Joana D’arc, 59 anos, chegou ao fundo do poço. Há cerca de dois anos, a típica mineira, simpática e de fala mansa, acreditava que só lhe restava a morte. Estava sem emprego, em situação de rua, dependente de crack e submetida às ameaças e agressões físicas do namorado. Foi nessas condições que ela chegou até uma das duas casas abrigo que são mantidas pelas sete prefeituras da região via Consórcio Intermunicipal do Grande ABC para mulheres vítimas de violência, onde permaneceu por sete meses em recuperação.

“Não tinha para onde ir, não sabia onde procurar ajuda. Até que um dia meu companheiro me agrediu e fui encaminhada (pelo Cras – Centro de Referência da Assistência Social) para a casa-abrigo. Estava toda machucada, com a retina descolada, sem roupa, sem dinheiro, com os dentes estragados e o pior, ninguém acreditava mais em mim”, lembra a ex-moradora do local. A situação de Joana D’arc é semelhante à de outras 1.400 mulheres que já passaram pelas casas-abrigo desde a sua fundação, em 2003. Somente em 2014, foram atendidas 226 pessoas.

O endereço das residências é mantido sob sigilo absoluto para garantir a segurança e integridade física das atendidas. Da mesma forma, o nome da personagem é fictício, escolhido pela própria entrevistada por se tratar de heroína que morreu por defender seus ideais e se tornou santa da Igreja Católica. Atualmente, os dois espaços servem de residência para 14 pessoas, entre mulheres e seus filhos, e conta com 14 funcionários, entre motorista, faxineira, cozinheira, psicólogos, assistentes sociais, educadores e administrador.

A manutenção do serviço é feita mediante rateio entre as sete prefeituras da região. Mensalmente, o custo das duas residências é de R$ 90 mil. Cada atendida permanece na unidade por no mínimo 180 dias, período que pode ser estendido, dependendo de cada caso. “Elas recebem desde um kit com roupa e itens de higiene até seis refeições por dia, e acompanhamento de profissional nas atividades do dia a dia, como médico, idas ao fórum”, destaca a presidente do conselho gestor do programa, Maria Aparecida da Silva.

“Nossa meta é restabelecer a autoestima dessas mulheres, empoderá-las e mostrar a elas seus direitos. Para isso, são tratadas biopsicossocialmente e os filhos também recebem cuidados e frequentam a escola”, explica Maria Aparecida. Durante o período de abrigamento, familiares podem obter informações sobre as abrigadas junto ao Cras da cidade. A presidente ressalta ainda que as beneficiadas podem deixar o abrigo a qualquer momento, desde que assinem termo no qual se responsabilizem pela sua vida e a dos filhos.

RECOMEÇO - Aos 59 anos, a ex-abrigada Joana D’arc voltou a sonhar. “Estou começando a viver agora. Não posso decepcionar meu filho, quero dar orgulho para a minha família”, comenta. O recomeço se deu graças à sua vontade e também à oportunidade na casa abrigo, considera a mineira natural de Juiz de Fora, que chegou à região com os quatro filhos há cerca de dez anos. “No abrigo a gente tem tempo para analisar nossa vida, repensar o que significa a família e se reestruturar, conseguir um emprego.”

Ao olhar para trás, Joana D’arc se emociona ao constatar que finalmente encontrou a paz que tanto esperava. “Tinha medo de procurar ajuda porque ele (namorado) ameaçava me matar. Ele era muito ciumento, mas eu ficava com ele porque tinha estabilidade emocional e financeira. Infelizmente é o que acontece com a maioria das mulheres”, desabafa.

Hoje a jovem senhora só pensa em fazer o seu melhor no trabalho como auxiliar de serviços gerais em uma lanchonete, cuidar da sua casa e arranjar tempo nas folgas para ficar com o filho e o neto. “Para ser mais feliz que isso, só se eu fizer uma cirurgia plástica para melhorar a aparência”, brinca a mineira.
 




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