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Obras de arte saem de fábrica de Ribeirao Pires
Mario Gioia
Da Redaçao
04/03/2000 | 13:57
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De um galpao de 1.000 m² instalado em uma empoeirada avenida do bairro Aliança, em Ribeirao Pires, saem tubos e placas de aço que seduzem os olhares em vários museus e espaços públicos do Brasil. Com estilo interiorano, Paulo Cícero Gracindo, 44 anos, comanda a metalúrgica SCA, e produz obras de diversos tamanhos para o andreense Luiz Sacilotto e a nipo-brasileira Tomie Ohtake, dois importantes nomes da segunda metade do século nas artes plásticas brasileiras.

As soldas, esmerís e maçaricos manuseados pelos 19 funcionários da empresa também realizam projetos especiais para arquitetos da regiao e de Sao Paulo, como Joao Armentano.

Com acabamento detalhado, o último trabalho para Armentano foi uma escada de ferro, instalada em uma residência do Condomínio Pignatari, no bairro paulistano do Morumbi. Apesar do serviço diferenciado, a maior parte das encomendas sao destinadas a obras comuns de construçao civil.

Concreçoes - A primeira experiência da SCA com o meio artístico surgiu em 1996, quando Sacilotto encomendou uma escultura, com a tradicional estética concretista. "O resultado agradou o seu Luiz, que continuou a trazer os esboços dos projetos, em papel ou em maquete. A produçao de esculturas dele nao é tao grande, mas ele sempre vem aqui quando precisa das peças", conta Gracindo.

A próxima escultura do artista andreense é uma de suas concreçoes, que será instalada no Largo da Estátua, Centro de Santo André, dentro do projeto de revitalizaçao da rua Coronel Oliveira Lima, elaborado pelo arquiteto Décio Tozzi. O artista também criou um painel para o calçadao.

A escultura de 4 m x 4 m testa as formas quadradas e retas, mas uma de maior porte está pronta em maquete e deve ser colocada em frente à EE Américo Brasiliense, também no Centro da cidade. De formato esférico, mas dividida em planos, a obra tem 8 m de diâmetro e deve consumir dois meses de trabalho da SCA.

Gracindo ressalta a dificuldade de confeccionar o projeto de Sacilotto, apesar da aparente simplicidade em suas retas. "Os planos têm de ser simétricos. Apesar da forma, sempre existe a contraposiçao dos planos e suas dobras. O aço nao pode ter nenhum traço de soldagem e esmerilagem", conta ele.

Tubos - Já Tomie Ohtake, 86 anos, veio à metalúrgica-ateliê por recomendaçao de Sacilotto, e aprecia o trabalho de Gracindo e seus funcionários. "Eles fazem um serviço muito bom, com minhas esculturas grandes, sao caprichosos e nunca atrasam uma encomenda", diz ela, que irá aparecer na metalúrgica depois do Carnaval para apresentar outro projeto tridimensional. Um deles ainda permanece no terreno da empresa, elaborado para o MAM-RJ (Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro), mas que ainda nao foi enviado à instituiçao por problemas burocráticos.

Com 6 m de diâmetro e aproximadamente 180 kg, a obra se enquadra no trabalho apresentado por Tomie na 23ª Bienal Internacional de Sao Paulo (1996) - a da desmaterializaçao da arte - feitas em tubo de aço carbono.

"A Tomie vem aqui e tem um pique impressionante. Ela senta horas a fio em frente da obra, observando o movimento dela. Depois chama a gente e fala: `Tem vida, né?", conta Gracindo.

A escultura, que ainda está na empresa, tem apoio em apenas três extremidades e ganha ritmo em contato com o vento. Pela síntese da forma, o trabalho de metalurgia é muito complicado. "O tubo tem diferentes curvaturas. Entao, o material tem diferentes espessuras em toda a peça, para manter-se em pé".

Gracindo considera seu trabalho mais importante - assinado por Tomie - o monumento em homenagem à imigraçao japonesa, instalado no campus da USP (Universidade de Sao Paulo), próximo à Casa de Cultura Japonesa e à FFLCH (Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas). A obra, composta por planos e curvas, custou R$ 35 mil. "Se pudesse, viveria apenas de trabalhos artísticos. Gosto de ter uma obra que vai ter reconhecimento público ao ser exposta. Sou vaidoso", diz o ex-caldeireiro da Termomecânica, de Sao Bernardo, que prosperou com seu próprio negócio e tem como um dos hobbies fotografar estruturas de aço quando viaja.




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