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'Qualidade dos cursos vai cair', diz reitor
Adriana Ferraz
Do Diário do Grande ABC
07/07/2008 | 07:04
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A manutenção da qualidade das universidades federais corre risco com a aprovação da nova proposta de cotas, segundo o pró-reitor de Graduação da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), Luiz Eugênio Mello. Ele diz que a reserva de vagas pode levar para as instituições alunos não-preparados para enfrentar o nível de dificuldade imposto pelos cursos.

"Teremos duas categorias de alunos numa mesma classe. Os professores terão de trabalhar grandes desigualdades que serão refletidas na qualidade do curso, que vai decair", afirma Mello.

A proposta dos senadores Ideli Salvatti (PT) e Marconi Perillo (PSDB) está equivocada, segundo o pró-reitor. "Criar reserva de mercado não garante empenho e melhora na Educação. Pelo contrário, cria uma falsa promessa de sucesso. Não há contingente qualificado para ocupar essas vagas. Não é se dando as coisas que se consegue incentivo e resultado na área da Educação. Defendo ações afirmativas, mas elaboradas de acordo com as necessidades de cada instituição. Este modelo é uma camisa-de-força, modelo único que não serve para todos", alerta.

O projeto ainda requer ajustes para não ser considerado discriminatório, diz o diretor de vestibular do sistema Singular/Anglo, Paulo Roberto De Francisco. "As universidades públicas, federais ou não, têm grande procura por parte dos vestibulandos. Para conseguir uma vaga, todos devem se preparar, estudar muito. Os alunos da rede particular saem na frente porque tiveram uma educação melhor, mas por isso serão preteridos? O sistema deve ser por merecimento, não por reserva."

Nas universidades mais tradicionais do Brasil - como a Unicamp e a USP - os programas de incentivo já existem, mas funcionam sem reservar vagas fixas. O mérito é levado em consideração na conta final. O candidato que se inscreve nas ações afirmativas recebe um acréscimo em sua nota. Na Unicamp, o bônus chega a 13% e na USP, alcança 12%.

A própria Unifesp trabalha com um modelo de incentivo ao desempenho do aluno, com a preocupação de não tirar vagas de outros candidatos que consigam melhores notas. Com isso, o número de vagas foi aumentado em 10% para alunos da rede pública.

"Os inscritos, porém, não podem zerar em nenhuma prova. Podem tirar até meio, mas não zero. O que aconteceu? Tivemos vagas ociosas. Apesar disso, temos um percentual grande de alunos da rede pública, 36% do total no campus de São Paulo e 23% no campus de Diadema", conta Luiz Eugênio Mello. "Este projeto é demagógico. O que precisa é melhorar a qualidade do ensino público, que é sofrível. O resto é conversa."

A senadora Ideli Salvatti rebate as críticas. "Esse projeto vai incentivar a melhora da escola pública. Não dá para analisá-lo de maneira isolada. O governo está trabalhando para uma transformação na Educação do País, com aumento de salário, inclusão digital, capacitação de professores. Temos de esperar o resultado destas medidas, por isso a proposta tem prazo de quatro anos para ser implementada", diz.

No Câmara dos Deputados, o sistema proposto pode ser anexado a outros projetos da mesma natureza antes de ser votado e seguir para sanção do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.




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