Política Titulo Sabatina
Serra critica a maldição dos juros do atual governo

Durante sabatina, tucano atacou a política externa brasileira, segundo candidato de forte publicidade e de marketing

Aurélio Alonso
Rede APJ
13/09/2010 | 08:33
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O candidato a presidente da República José Serra (PSDB) critica a política econômica do atual governo de manter juros altos, ataca o projeto do Trem de Alta Velocidade, o chamado trem-bala, e rejeita a política externa brasileira. Sobre o terceiro aeroporto metropolitano, diz que é preciso planejar já, mas antes investir na ampliação de Viracopos (Campinas) e construir o terminal 3 de Cumbica (Guarulhos). Durante 1h40, o tucano participou na capital paulista de sabatina do projeto Agenda Brasil, na sede da APJ (Associação Paulista de Jornais).

Durante a sabatina, o tucano atacou a política externa brasileira, segundo ele, de forte publicidade e de marketing de "vender" o Brasil no Exterior e fraca na defesa em matéria econômica.

Sobre a sua adversária, Serra não poupa críticas: "Ela representa a incerteza, porque não tem história, o pouco de história que tem é secreta", afirma.

A seguir os principais trechos da sabatina:

ECONOMIA
"Não há nenhuma maldição da natureza e nem de Deus para que o Brasil tenha a maior taxa de juros do mundo. É possível baixar, melhorar o câmbio que representa um elemento de devastação do nosso parque industrial que afeta o Interior paulista, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. O que castiga também a agricultura, porque o agricultor exporta mais e recebe menos. É perfeitamente possível se tiver uma equipe integrada com esse objetivo: Fazenda, Planejamento e Banco Central. Integrados, jogando na mesma direção. Não há motivo para ter essa taxa. O Brasil é um caso folclórico. O Brasil teve um desempenho ruim na crise, porque está estagnado o PIB (Produto Interno Bruto) por habitante, enquanto a China continuou com taxas razoáveis de crescimento. Mas se criou o folclore de que o Brasil foi bem, não é verdade."

TREM-BALA
"O trem-bala é uma ideia fantasiosa levantada pelo atual governo federal. Essa obra não custa R$ 35 bilhões, mas algo em torno de R$ 45 bilhões a R$ 50 bilhões. Puseram Campinas no projeto, porque eu sugeri a inclusão. Fizeram um edital de licitação que não se sabe qual é a trajetória do trem e não constam questões de impacto ambiental. Isso só tem finalidade eleitoral. Não tem viabilidade econômica. O que tem que fazer é linha de Campinas e Jacareí, que possa misturar carga e passageiro. Não vamos dar de botocudos, funcionar na fantasia. Se um grupo privado quiser investir, qual o problema? O projeto atual do trem-bala é com recursos públicos e garantia de venda de passagem. Parece piada. Países desenvolvidos fizeram trem de alta velocidade, em todos dá prejuízo. Faz-se um tipo de empreendimento que vai dar prejuízo com dinheiro público. Agora na eleição fala: ‘se for o Serra não tem o TAV (Trem de Alta Velocidade)'. Isso é uma enganação em estado puro."

AEROPORTOS
"Desde que tomei posse no governo do Estado estou brigando com o governo federal para o aeroporto de Viracopos, com movimento de 3 milhões de passageiros por ano, que pode ir para 60 milhões por ano. Propus desde 2007 que essa seria a melhor solução. Convenci o ministro da Defesa, quando fui prefeito de São Paulo, mas por fatores ideológicos não prosperou. Imagina esse aeroporto com movimento de 60 milhões de passageiros? Vamos cuidar de desenvolvimento de verdade e não de pirotecnia eleitoral. A prioridade zero é ampliar Viracopos e fazer o terminal 3 de Cumbica, que também foi vetado por motivos misteriosos. A concessão de Cumbica do terminal 3 é uma moleza. Qualquer empresa privada tem um interesse enorme nisso, mas eles não fazem a concessão por ideologia e por questão sindical. Quanto ao terceiro aeroporto, é preciso ver se há empresas privadas que possam fazer sem nenhum custo direto para o governo.

RODOVIAS
"As cidades que têm rodovias federais que cortam a zona urbana a melhor solução é construir contornos nas marginais. As concessões federais ou são muito antigas, como no caso da rodovia Presidente Dutra (Rio-São Paulo), ou são muito mal-feitas. Isso tem de ser revisto. Tenho dito que PT quer trazer o padrão de estrada brasileira para São Paulo, eu quero levar o padrão de estradas de São Paulo para o Brasil: 75% das estradas avaliadas em São Paulo são ótimas e boas contra 25% e 30% de ótima e boa do governo federal. Veja as notas de avaliação das duas mais conhecidas: Fernão Dias e Régis Bittencourt. Quando vai para o Paraná, tem 30 quilômetros chamado de estrada da morte. A Fernão Dias vivendo sempre em emergência.

IMPOSTOS
A carga tributária no Brasil tem um lado muito mais perverso do que se imagina. Não são 36%. É muito mais, porque há quem não paga imposto, por isso quem recolhe imposto paga por quem não paga. É absurdo. Os 36% são uma carga alta, mas percepção correta é que pagamos muito mais, inclusive com o custo da mão de obra. 50% da mão de obra são informais, isso significa que não está recolhendo INSS além de FGTS."

REFORMA TRIBUTÁRIA
"Não sou a favor de uma reforma tributária, porque os interesses contrariados se juntam e formam uma frente que derruba qualquer proposta. O projeto que o governo federal enviou ao Congresso era ruim, não por maldade, mas porque ele não sabia o que era reforma tributária. Encarregaram umas pessoas que não entendiam. É muito difícil entender de tributação. Fui relator na Constituinte e sei da dificuldade. É muito complicado. No governo o conhecimento sobre economia é muito baixo. E aí montaram um projeto ruim, chegou lá o relator transformou em bandeira política. Resultado: montou-se um monstrengo que aumentava a guerra fiscal, a carga tributária, aumentava o déficit federal e punha fogo no Brasil. A reforma tributária tem que ser feita diferente: pega só um objetivo concentra nele e isola o inimigo."

MUDANÇAS CLIMÁTICAS
"O Brasil ficou caudatário na discussão internacional com a posição da China. Ela leva a ideia mais longe de que os ricos poluíram quando se desenvolveram e nós não vamos desenvolver sem poluir. Acho que há possibilidade de ter desenvolvimento com energia limpa, é só abrir nova frente de investimento no mundo, mas tem que ter o engajamento mundial. Outra questão é o fundo internacional de preservação de crédito de carbono. Isso daria um valor monetário para nossas florestas. Eu era a favor de o Brasil pôr dinheiro, a Dilma era contra, fui o principal a convencer o Lula. Valia a pena, mas aí naufragou."

PETRÓLEO
"Esta eleição no Brasil é muito importante: vai definir o rumo do País. Os bônus são o petróleo, as commodities - somos grandes produtores - e o demográfico - a taxa caiu, menos crianças, e abre a perspectiva de investimento em qualidade do que em quantidade em Educação e pode recuperar mais facilmente os enormes atrasos em saneamento. Isso pode ser aproveitado e desaproveitado. O petróleo para Venezuela foi uma tragédia, para o México não adiantou nada, a América Latina é tradicional de não aproveitar essa riqueza, Equador é a mesma coisa - a moeda lá é o dólar, veja que situação chegou o País. O petróleo é bom? Claro que é. Como o Chile soube aproveitar o preço do cobre. Criou fundos que patrocinam aposentadorias. Seguiu um caminho inteligente, mas se o Brasil não seguir um caminho inteligente vamos voltar a ser uma economia primária como era antes de 1930. Estamos no caminho da desindustrialização. Hoje produzimos celulose, exportamos até para a China e eles fazem o papel e depois vendem para o Brasil. Com o milho está ocorrendo a mesma coisa. Então, vamos ter que ter uma política nacional planejada. É tudo o que não temos: não temos política industrial, não temos política de defesa comercial, não tem política de desenvolvimento."

ATUAL SITUAÇÃO DO PAÍS
"Na área social estamos piores do que estávamos há oito anos no que se refere à Educação, Saúde e Segurança. Educação tem a ver com o futuro e Saúde e Segurança tem a ver com a vida. Metade dos adolescentes não está na escola certa. Os índices de saneamento são escandalosos para média brasileira. Segurança, a situação piorou, tem um grande problema grave da cocaína e de armas, que entram no Brasil livremente não se fez nada nessa área. Por isso que quero criar o Ministério da Segurança. O atual governo renunciou da política diplomática dos países que fazem o tráfico de cocaína para o Brasil por fatores ideológicos e partidários, como é o caso da Bolívia, que é o principal abastecedor de cocaína e o Brasil faz muitos favores econômicos por isso não faz pressão nenhuma."




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