Política Titulo Nova ideologia?
PT decide candidaturas de cima para baixo

Partido que sempre defendeu bandeiras democráticas age de maneira autoritária em eleições

Por Raphael Rocha
Do Diário do Grande ABC
13/11/2011 | 07:05
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O anúncio da união em torno da pré-candidatura do ministro da Educação, Fernando Haddad, à prefeitura de São Paulo externou a nova tendência no PT: costurar alianças por cima, entre caciques, e eximir ao máximo a possibilidade de prévia partidária, antes enaltecida pelos militantes da legenda como exemplo da abertura democrática que sempre norteou os petistas.

Com articulação ferrenha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Haddad retirou, um a um, os postulantes à indicação petista: os senadores Eduardo e Marta Suplicy e os deputados federais Jilmar Tatto e Carlos Zarattini. Tática política semelhante ocorreu em Santo André, onde o deputado estadual Carlos Grana, também com a bênção de Lula, aglutinou em torno de seu projeto ao Paçç o deputado federal Vanderlei Siraque, a ex-vice-prefeita Ivete Garcia e o ex-prefeito João Avamileno.

Petistas da região creditam à maturidade política do PT a formação de alianças antes de consulta à militância. Presidente da sigla em Ribeirão Pires, Antônio Carlos Pereira de Souza, o Carlão, afirma que prévias provocaram derrotas históricas e que a legenda aprendeu com os erros. "Não precisamos de prévias viscerais, que destroem candidaturas do partido."

Diadema e Santo André registraram os dois piores reveses da sigla devido à racha interno. Em 1996, José Augusto da Silva Ramos rompeu com José de Filippi Júnior e provocou a vitória de Gilson Menezes (PSB) no segundo turno, acabando com legado de 14 anos ininterruptos do PT à frente do Paço de Diadema. Em 2008, o apoio de Avamileno à campanha de Siraque gerou cisão no grupo de Ivete Garcia. A turbulência foi determinante para que Aidan Ravin (PTB) chegasse ao poder e interrompesse a série de 12 anos consecutivos do PT no comando da Prefeitura de Santo André.

 "Antes agíamos muito com o coração e deixávamos a razão de lado. Com três décadas de existência, o PT aprendeu a ter responsabilidade, maturidade e respeitar o projeto político", analisou o vereador Edgar Nóbrega (PT), de São Caetano. O petista, que é pré-candidato à Prefeitura em 2012, não acredita que os acordos entre lideranças nacionais ou estaduais sejam prejudiciais ou que limem a participação da militância no processo de escolha dos concorrentes.

Professora da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, Jacqueline Quaresemin de Oliveira analisa que o consenso partidário sem disputa interna será essencial para o PT na briga pela prefeitura de São Paulo, a qual a legenda ocupou por duas vezes: com Luiza Erundina, entre 1989 e 1993, e Marta Suplicy, entre 2001 e 2004. A especialista não crê que possa haver divergência da militância por não ter participado ativamente da indicação de Haddad. "A militância segue os líderes e acabam sendo convencidos por eles da melhor escolha."

 

PLANO ESTADUAL

A eliminação das prévias faz parte da estratégia da legenda de alcançar o governo do Estado, algo que nunca aconteceu na história. "Se tivermos candidaturas unidas, temos mais chances de conquistar prefeituras. Com o maior número de Executivos municipais, teremos estrutura suficiente para dar musculatura à candidatura do PT ao Estado. Esse é o grande objetivo", revelou Humberto Tobé, coordenador da Macro PT no Grande ABC.




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