Setecidades Titulo Crise econômica
Busca por remédios sobe 15,48% no Grande ABC

Atendimentos na rede pública chegam a 1,8 mi
nos 7 primeiros meses, contra 1,6 mi em 2015

Por Vanessa de Oliveira
Do Diário do Grande ABC
12/09/2016 | 07:00
Compartilhar notícia
André Henriques/DGABC


A rede pública de Saúde, já saturada, vê a demanda de busca por serviços gratuitos aumentar a cada dia. Elevam-se as consultas, cresce a necessidade de medicamentos que possam curar o problema e, nessa questão, o Grande ABC registrou alta de 15,48% na procura por remédios nas redes municipais, na comparação dos primeiros sete meses deste ano, contra o mesmo período de 2015. De janeiro a julho do ano passado, São Bernardo, São Caetano, Diadema e Mauá contabilizaram 1.627.194 atendimentos nas farmácias de seus equipamentos municipais, saltando para 1.879.144 em 2016.

Em Santo André, a Secretaria de Saúde não possui os dados do período de 2015, pois a coleta passou a ser feita pelo Departamento de Assistência Farmacêutica a partir de agosto daquele ano. No entanto, a Pasta afirma que, em 2016, foi observada maior procura por medicamentos. Em janeiro, 106.978 pessoas foram atendidas nas farmácias e, em julho, 139.428, aumento de 30,33%. As prefeituras de Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra não retornaram as informações.

Diadema foi a cidade com maior crescimento na busca por remédios na rede pública, com 71,34% de aumento (passando de 42,3 mil pacientes atendidos para 72.480); seguida por São Bernardo, alta de 17,9% (de 892.692 para 1.052.525); Mauá, com 10,88% (de 489.065 para 542.322) e São Caetano, com 4,27% (de 203.137 para 211.817).

Ao comparar os períodos de 2014 e 2016, a alta é ainda maior em São Bernardo (35,28%, com 777.981 atendimentos no período de 2014) e em Mauá (28,93%, que dois anos atrás atendeu 420.631 pacientes). Na respectiva data, Diadema não possuía sistema informatizado. São Caetano não forneceu dados.

Os três remédios mais retirados na região são Omeprazol (indicado em casos de gastrite e úlceras), Hidroclorotiazida (medicação diurética normalmente utilizada para o tratamento da hipertensão arterial e inchaço devido à acumulação de fluidos) e Captopril (hipertensão arterial e alguns casos de insuficiência cardíaca).

Um dos fatores que levou ao aumento da retirada de remédios no sistema público é a crise econômica pela qual o País atravessa. Os cortes no mercado de trabalho desencadearam tanto a perda do plano de saúde arcado pela empresa quanto a impossibilidade de continuar pagando por um. Dado mais recente da ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar) mostra que, em junho de 2016, 32.848 pessoas deixaram de ter plano de saúde, na comparação com o mesmo mês do ano passado. Atualmente, as sete cidades possuem 1.423.109 de beneficiários de planos privados.

“Além da crise econômica, também existe a crise política, que não sabemos como vai ficar, pois existe tendência de tirar dinheiro da Saúde. A tensão vai aumentar”, aponta a professora de Saúde Coletiva da FMABC (Faculdade de Medicina do ABC) Vânia Barbosa do Nascimento. Ela lista que a situação se agravou, também, com “a expansão nos atendimentos, principalmente em razão do programa Mais Médicos (do governo federal) e também nos serviços, como novas UPAs (Unidades de Pronto-Atendimento) e serviços de especialidades”.

Quem já utiliza o sistema público de Saúde há tempos sabe da dificuldade em encontrar, nas farmácias dos equipamentos municipais, o medicamento que precisa e, com a demanda aumentando a cada dia, a situação só complica.

Weberson Lopes da Silva, 24 anos, de São Bernardo, perdeu o emprego de office boy em fevereiro e, junto com ele, o plano de saúde. Nesse tempo, já precisou de remédio e voltou para casa frustrado. “Nunca tem o Omeprazol”, reclama ele. “Minha mãe pega remédio na rede pública há bastante tempo, mas não consegue nem 50% dos produtos receitados pelos médicos”, diz.

O analista técnico Gilberto Machado, 51, de Santo André, também entrou na estatística do desemprego, em junho, e ficou sem o plano de saúde que atendia a ele, a esposa e os três filhos. Ele teme, alegando que “a tendência é piorar, não vejo perspectiva de melhora”. 

Prefeituras negam haver necessidade de rever planejamento

As administrações municipais dizem que o aumento na demanda por remédios não obrigou as Secretarias de Saúde a reverem o planejamento de compras dos itens.

A Prefeitura de São Bernardo afirmou que o aumento na dispensação de medicamentos verificado na comparação entre 2015 e 2016 não exigiu mudanças, mas ressaltou que a Assistência Farmacêutica está monitorando mensalmente essas variações para verificar alguma elevação acima do normal. “O maior impacto na compra de medicamentos ocorre quando há reajuste de preços por parte das distribuidoras”, salientou. Entre 20% e 30% da retirada de medicações vêm de prescrições de médicos particulares ou de convênios médicos.

O Executivo de Mauá também informou que não houve necessidade de reorganização, “uma vez que havia a previsão de aumento na demanda em até 25% e essa elevação discreta foi de apenas 10%”.

Em Santo André, a Secretaria municipal de Saúde destacou que “é prática rever o consumo dos medicamentos a fim de adequá-los para mais ou para menos (a quantidade), de acordo com a disponibilidade financeira”. De janeiro a julho, a média de receitas atendidas no Centro de Especialidade, vindas do serviço público, foi de 57,5%. De origem privada, 42,5%.

As demais cidades não informaram se houve alteração no planejamento de compra dos remédios.

“Os municípios vão ter que se preparar para assumirem essa demanda, mas sozinhos não conseguem, se não tiverem a participação dos governos estadual e federal. O SUS (Sistema Único de Saúde) precisa sobreviver e, para isso, necessita de financiamento. É preciso investir muito mais na área da Saúde, pois é uma necessidade básica do ser humano. Sem Saúde não se vive”, salienta a professora de Saúde Coletiva da FMABC (Faculdade de Medicina do ABC) Vânia Barbosa do Nascimento.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;