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PT rejeita em congresso o "Fora FHC"
Por Do Diário do Grande ABC
28/11/1999 | 15:05
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Os moderados do PT venceram a disputa com os radicais e rejeitaram neste sábado, por ampla maioria, a proposta de adoçao, pelo partido, do slogan "Fora FHC" - pregaçao do impeachment do presidente Fernando Henrique Cardoso e antecipaçao da eleiçao de 2002.

A decisao, tomada no plenário do 2º Congresso Nacional do PT, em Belo Horizonte (MG),foi marcada por disputas de palavras de ordem entre tendências rivais. Logo após a votaçao, houve no palco um tumulto, envolvendo os petistas Jorge Almeida, Valter Pomar, Delúbio Soares e outros, que quase degenerou em briga e obrigou seguranças a intervir.

A votaçao antecipou em um dia a disputa, marcada para este domingo, entre os três candidatos à presidência do PT - os deputados José Dirceu, da Articulaçao, que concorre ao terceiro mandato; Milton Temer, apoiado pela esquerda, e Arlindo Chinaglia, do Movimento PT.Cada um dos candidatos fez a defesa de uma emenda diferente à tese-guia Programa da Revoluçao Democrática, que vai orientar os rumos do partido.

O texto aprovado foi resultado de uma negociaçao interna do próprio bloco liderado pela Articulaçao e estabelece que o partido assume o compromisso de continuar na "ofensiva política" contra o governo de Fernando Henrique, mas nao menciona o slogan "Fora FHC". Estabelece ainda que o diretório nacional do PT "impulsionará a mobilizaçao popular e, levando em conta as condiçoes objetivas da conjuntura e das alianças do campo da oposiçao e da sociedade, definirá os próximos passos políticos e institucionais para derrotar FHC".

"Temos compromisso com a Constituiçao e a democracia", afirmou Dirceu. Ao defender a proposta, o presidente do PT pregou: "Nao vamos fazer impeachment para que a coalizao conservadora depois hegemonize o governo." A resoluçao aprovada contemplou setores descontentes da ala moderada, ligados aos deputados federais Ricardo Berzoini, presidente do diretório paulistano, e Joao Paulo Cunha, que chegaram a ensaiar votar com a esquerda. Eles defenderam, nos encontros de base em Sao Paulo, o "Fora FHC". A emenda que resultou do acerto reconhece a legitimidade e autonomia das entidades do movimento popular e sindical para pedir o afastamento do presidente, mas nao adota o lema para o PT.

Os votos do grupo de Joao Paulo e de Berzoini foram considerados necessários para dar a vitória ao chamado bloco majoritário, formado pelas correntes Articulaçao e DemocraciaRadical. Os dois acabaram aceitando o acordo, convencidos pelo presidente de honra do PT, Luiz Inácio Lula da Silva. "Criou-se aqui um acirramento absolutamente desnecessário", disse Lula. O embate em torno do "Fora FHC" acabou transformando o 2.º congresso do PT num encontro dominadopor um único tema: a legalidade do mandato de Fernando Henrique. De um lado estavam as facçoes da esquerda, que apóiam a candidatura de Temer. De outro as tendências moderadas, defensoras da reeleiçao de Dirceu. No centro, correndo por fora, aparecia o Movimento PT, capitaneado pelo ex-prefeito de Porto Alegre (RS) Tarso Genro, que sustenta a candidatura de Chinaglia.

Diante do impasse, o plenário do congresso petista virou palco de mais palavras de ordem. "El, el, el, vocês querem Maciel", gritavam os moderados para os radicais, numa referência à posse do vice-presidente, Marco Maciel, em caso de impeachment do presidente. "É Itamar, é Garotinho, agora querem o Fernandinho", respondiam os xiitas, ironizando as alianças com os governadores de Minas, Itamar Franco (PMDB), e do Rio, Anthony Garotinho (PDT).

"Esse slogan foi usado nesse encontro para fazer luta interna, uma mesquinharia política",afirmou Dirceu. "É deseducativo para o País, no momento em que o PT quer formar uma coalizao para governar e debater um novo rumo, dizer que o problema do País é Fernando Henrique." Na outra trincheira, Milton Temer mostrava inconformismo com o discurso dos moderados. "Nao se trata aqui de uma questao política, mas de psicanálise e de afirmaçao de ego porque transformaram isso num drama", dizia o deputado. Ao sustentar sua proposta, Temer foi irônico.

"Nao era sobre este tema que eu queria discutir,eu queria falar sobre nosso projeto socialista e sobre que partidoqueremos para nos diferenciar", afirmou.

Chinaglia admitiu que o debate do tema monopolizou ocongresso."Isso aconteceu mais pelas nossas divergências em outros temas do que pela avaliaçao que o PT faz do governo Fernando Henrique", disse. No fim da plenária, uns jogavam a culpa nos outros pelas excessivas horas dedicadas à discussao de um slogan. "Foi uma perda de tempo lamentável", protestou o deputado Joao Paulo. "É inacreditável que, no fim do século 20, quando deveríamos estar discutindo problemas do Brasil e o que o PT vai fazer, o debate fique engessado numa palavra de ordem." O governador do Acre, Jorge Viana, concordou com Joao Paulo.

"O PT precisa gastar mais energia com propostas alternativas e um projeto para o Brasil", argumentou. Para o prefeito de Porto Alegre (RS), Raul Pont, a discussao que predominou no congresso do PT foi "completamente desfocada". Um dos líderes da tendência de esquerda Democracia Socialista, Pont considerou que o encontro do PT perdeu uma grande oportunidade de afinar o discurso em torno de temas fundamentais como estratégias edesafios do partido. "Estamos vivendo um problema: a direçao falseia o debate, talvez para esconder o outro, sobre o socialismo que defendemos."




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