Cultura & Lazer Titulo
'Trintão', Hip Hop ganha força no ABC
Por Alessandro Soares
Do Diário do Grande ABC
20/09/2003 | 19:04
Compartilhar notícia


"Somos todos sobreviventes do inferno. Não quero ter filhos. Se tiver, não quero recriminar, como a minha mãe faz comigo o tempo todo. Em meio à malandragem, temos de ser malandros e ligeiros. Perguntamos ao senhor que é professor universitário: como podemos viver sem astúcia? O movimento hip hop nos ensina a viver. Cantamos a periferia, contamos nossos dramas através dos quais elevamos os níveis de consciência dos moradores. Somos vítimas freqüentes dos pés-de-pato (uma gíria que significa policiais)".

O depoimento acima está no livro 'Educação Inclusiva – Movimento Hip-Hop', de Alexandre Takara, professor de Educação e Antropologia da Universidade Metodista de São Paulo (Umesp) e secretário adjunto municipal de Educação, Cultura e Lazer da Prefeitura de Santo André, que traça um panorama do hip hop na região, especialmente Santo André.

O movimento completará 30 anos em novembro, em sua versão norte-americana. O termo foi criado pelo DJ Afrika Bambaataa, em Nova York. Como cultura de rua, de resistência social e conscientização na região, o hip hop é um meio de expressão que influencia jovens da periferia a se comunicar pela arte. Para caracterizar o hip hop, cinco elementos precisam estar juntos: rap, b.boys e b.girls (dança), discotecagem (DJ), grafites e consciência.

Esse é o modelo da Casa do Hip Hop em Diadema, que Bambaataa visitou em julho deste ano. Em Mauá, foi criado um Conselho Municipal do Hip Hop, que promoverá encontros, eventos e palestras envolvendo os cinco elementos.

Independentes do mercado fonográfico, rappers se viram como podem, produzindo seus próprios CDs e até montando rádios comunitárias. Só não vale pregar a violência, senão não é hip hop.

Pulso acelerado - O movimento hip hop se renova na região. Prestes a completar 30 anos – o termo foi oficialmente cunhado em novembro de 1973 nos Estados Unidos –, a filosofia de mostrar alternativa à realidade da periferia encontrou no Brasil uma referência nacional na Casa do Hip Hop, consolidada em Diadema como núcleo de resistência cultural por meio do rap, do grafite, da discotecagem, da dança de rua e da conscientização. O exemplo desse projeto possibilitou a criação do Conselho Municipal do Hip Hop em Mauá.

Na ativa desde 1987, os rappers do MC’s Black fazem da conscientização uma prática do “proceder”: atuam em sua comunidade com uma rádio comunitária, no bairro Paraíso em Santo André. E a nova geração vem aí. A dupla MC’s FM, os irmãos Felipe e Miguel Martins Medina, de 11 e 9 anos respectivamente, fazem em Mauá raps com jeito de adulto, nos quais “realidade” é uma palavra constante.

O hip hop será atração no próximo sábado, no Sesc Ipiranga (tel.: 3340-2000), em São Paulo, com show do rapper francês Pyroman, que começou aos 24 anos na primeira banda que consagrou o rap na Europa, em 1997, a Assassin. Sua apresentação, às 17h30, com entrada franca, lançará o CD Incendie Lyrical no Brasil, dentro do projeto Expressões Urbanas, que terá as oficinas de hip hop com os rappers franceses Hakim Maïche, Régys Truchy, Xavier Plutus e Karim Barouche.

O quarteto propõe mostrar aos brasileiros movimentos típicos da dança do hip hop locking, popping, ondulações e boogaloo. A seleção será na próxima segunda, das 13h às 16h, e as oficinas, gratuitas, acontecem de terça a quinta-feira (tel: 3277-3611, ramal 217).




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;