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Coronavírus afasta um terço dos carteiros do Grande ABC

Mesmo atuando em serviço essencial, porém, categoria não será vacinada nesta primeira fase

Yasmin Assagra
Do Diário do Grande ABC
25/01/2021 | 00:01
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Desde que teve início no País, em meados de março do ano passado, a pandemia do novo coronavírus já afastou cerca de um terço dos carteiros que diariamente percorrem as ruas do Grande ABC para distribuir correspondências. Significa que, dos 600 profissionais atuantes na região, aproximadamente 200 já contraíram a Covid-19. Embora a atividade exponha ao risco os trabalhadores – que celebram hoje o Dia do Carteiro –, eles dizem que, apesar do medo constante, é preciso dar conta do recado.

A estimativa é da Findect (Federação Interestadual dos Sindicatos dos Trabalhadores e Trabalhadoras dos Correios). Procurados, os Correios não informaram o número exato dos afastados.

“Antes de sair para entregar cartas e encomendas, os carteiros passam em média quatro horas no centro de distribuição identificando os itens e separando conforme o CEP. Só depois eles fazem a entrega. E não há distanciamento nesses locais, sem contar que muitos profissionais manuseiam as mesmas correspondências. É aí que existe o maior risco de contaminação”, explica Douglas Melo, diretor da Findect. “Os carteiros, na verdade, correm risco duas vezes, porque também estão expostos a diversas pessoas ao realizarem as entregas. E são eles que têm de comprar suas máscaras, pois desde que a pandemia começou, eles só receberam uma de tecido da empresa.”

O carteiro Marcelo Braga, 55 anos, que atua há 17 em São Caetano, precisou driblar as inseguranças para continuar a trabalhar, mesmo não tendo testado positivo para doença em nenhum momento. Ele conta que, pelas dúvidas que a doença traz, o medo tomou conta da profissão, em que há contato diário com encomendas para serem entregues. “Algumas pessoas já começaram a ficar em casa, justamente, por terem comorbidades e sentirem mais medo de ficarem expostas ao vírus. Até hoje, muitos profissionais ainda não voltaram a trabalhar, diante dessa nova onda da Covid”, relata Braga.

Conforme o carteiro, os trabalhadores tentam seguir orientações para evitar a contaminação, como uso de máscara, luva e álcool gel nas encomendas, além de higienização ao chegar em casa, mas ainda assim é difícil escapar. “A rotina está ainda mais cansativa, já que, com alguns trabalhadores afastados, as tarefas chegam a dobrar. Nos dividimos para entregar todas as encomendas. É uma correria, mas faz parte, e logo tudo isso vai passar”, avalia.

Luiz Carlos Vieira, 50, carteiro há 31, atua em Santo André e testou positivo em dezembro. Até ter parado por causa da Covid, conta que precisou trabalhar direto por causa de colegas de profissão afastados por serem do grupo de risco. “Estou 85% recuperado, mas ainda percebo um pouco de cansaço no fim do dia. É um processo. Acho que ainda vai levar um tempo para que eu esteja totalmente recuperado”, avalia. “O trabalho nos Correios é para quem gosta. Depois de ter a doença fiquei traumatizado, mas redobrei os cuidados”, completa. 

Vieira conta que os Correios também adaptaram processos para a realização de entregas. “Antes, a pessoa que recebia a correspondência precisava assinar, e o carteiro emprestava a caneta. Hoje, apenas confirmamos o nome do destinatário e pedimos o nome da pessoa que está recebendo, sem assinatura.”

Atuante nas ruas de Diadema, a carteira Juliana Bianchini, 39, na profissão há 18, acredita que a Covid-19 veio para criar novos hábitos na rotina, não só em seu ofício, mas para todas as pessoas. “Acredito que vai manter esse novo hábito de que quem recebe a correspondência não precisa mais assinar. Nós, que trabalhamos na rua, ficamos expostos aos riscos e, querendo ou não, muitas vezes, temos contato com outras pessoas.” 

Embora não tenha contraído o coronavírus, seu marido, Alisson Marcos Bezerra, 41, também carteiro, apresentou sintomas leves, como falta do olfato e paladar. “Como o trabalho dos Correios foi estabelecido como serviço essencial, atuamos direto, em feriados e fins de semana, desde o começo da pandemia. Ainda hoje, muitos profissionais seguem em casa por serem de grupo de risco, mas nós, que conseguimos ir para rua, vamos continuar, não tem jeito”, finaliza ela.

Melo chama atenção ao fato de que, embora atuem em um serviço essencial, os profissionais não foram incluídos como prioritários no cronograma de vacinação pelo Ministério da Saúde.

Além da redução do efetivo por causa da pandemia, no Grande ABC, ao longo de uma década, o volume de profissionais já sofreu forte redução, ao encolher 66% – em 2010, eles somavam 1.800 profissionais. Desde 2011, segundo o diretor da Fentect, não há novos concursos e, de lá para cá, houve PDIs (Programas de Demissão Incentivada) que contribuíram para enxugar ainda mais o efetivo.

(Colaborou Soraia Abreu Pedrozo) 




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