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Márcio e Oswaldo se enfrentam em prévia no PT
Sérgio Vieira
Do Diário do Grande ABC
22/10/2007 | 07:12
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Os cerca de 10,5 mil filiados do PT de Mauá escolhem no próximo dia 11 quem será o candidato da legenda à Prefeitura, no próximo ano. Desde 1988, a vaga vem sendo alternada entre Oswaldo Dias e Márcio Chaves. Naquele ano, Oswaldo foi o escolhido do partido. Em 1992, os dois disputaram a prévia e Márcio saiu vencedor, no único confronto direto entre os dois. Nas duas eleições seguintes – 1996 e 2000 –, chegaram ao consenso e formaram a dobrada, com Oswaldo a prefeito e Márcio a vice. A dupla foi eleita e reeleita.

O grande trauma foi em 2004, quando Márcio – então candidato a prefeito – teve seu registro cassado dias antes do segundo turno, após sair na frente no primeiro turno contra Leonel Damo (PV). A decisão da Justiça Eleitoral foi motivada por um evento, organizado pela Prefeitura, chamado Túnel do Tempo. A exposição mostrava fotos e vídeos de realizações nos últimos oito anos no município.

Nesta questão, os dois divergem frontalmente. Oswaldo acredita não ter responsabilidade pela saída do então prefeiturável petista do páreo. Já Márcio é direto: “Manter a exposição foi em um erro da administração do prefeito.”

Também discordam na forma de arregimentar apoios dentro do partido. Para Márcio, o grupo de Oswaldo tem usado o método de “isolar” outras lideranças e precipitar a discussão sobre o vice, ao definir o nome do vereador Paulo Eugênio Pereira Júnior. O ex-prefeito, que tem o apoio da bancada do partido na Câmara, nega que já esteja tudo decidido.

Mas em uma coisa os dois concordam: o vencedor da prévia será definido por uma diferença mínima, o que evidencia a divisão de forças dentro do PT de Mauá.

Entrevista com Oswaldo Dias
DIÁRIO – O que difere a sua pré-candidatura da de Márcio Chaves?
OSWALDO DIAS – São duas pessoas diferentes. Eu fui prefeito oito anos e ele vice. Em termos programáticos, não diferencio. Temos praticamente os mesmos pensamentos. O que pode haver é diferença de estilo.

DIÁRIO – Por que, então, não se chegou ao consenso?
OSWALDO – Acredito que as forças que nos apóiam nos consideram aptos. Cada grupo apóia um lado e os dois estão qualificados para disputar a Prefeitura.

DIÁRIO – Mas o sr. governou a cidade por oito anos. Isso o coloca em vantagem?
OSWALDO – Nesse momento, é o filiado que vai avaliar. Não colocaria nenhuma vantagem. Não resta dúvida que fui duas vezes prefeito e tenho uma história na cidade. Mas ele foi vice e sempre ocupou cargos importantes. O filiado vai dizer quem é o melhor.

DIÁRIO – O vencedor da prévia passa a ser a grande liderança do PT de Mauá?
OSWALDO – Quem ganhar a prévia se colocará como futuro candidato e também como a liderança maior.

DIÁRIO – Pesquisas informais o colocam como favorito nas eleição. Como o sr. enxerga isso?
OSWALDO – Temos informações que estamos bem, mas temos de separar as coisas. A população é importante, mas antes é preciso se apresentar aos filiados.

DIÁRIO – Dá para governar uma cidade com R$ 1 bilhão de dívidas?
OSWALDO – Encontrei a mesma situação em 1997. Não era diferente. Hoje talvez esteja melhor. Tínhamos R$ 580 milhões em dívidas e um Orçamento de R$ 134 milhões. Hoje passa de R$ 1 bilhão, mas o Orçamento passa de R$ 300 milhões (R$ 444 milhões para 2008).

DIÁRIO – Quem será o principal adversário do PT em 2008?
OSWALDO – Parece que o nome mais significativo é o do vereador Diniz Lopes (PSDB). Mas sempre há uma tendência de polarizar com o candidato do governo.

DIÁRIO – Em caso de sua vitória na prévia, o eleitor poderá ter de escolher entre três ex-prefeitos (Oswaldo, Diniz e Leonel Damo, do PV). Isso não pode ser encarado como uma falta de opção pela população?
OSWALDO – Não vejo dessa forma. Se a proposta for boa, é independente se o candidato já foi prefeito.

DIÁRIO – O episódio de 2004 ainda atormenta o PT de Mauá?
OSWALDO – Acho que está razoavelmente compreendido. Nós tínhamos a posição de uma juíza (Ida Inês Del Cid), que foi afastada. Os motivos da cassação foram frágeis. No mínimo, foi excesso de zelo. Tivemos momentos difíceis, mas temos de tocar para frente.

DIÁRIO – O Túnel do Tempo foi um erro?
OSWALDO – Não. Não tem nada a ver. A exposição era uma demonstração dos 50 anos de Mauá. Fizeram um cavalo de batalha. A juíza não foi imparcial. Qualquer coisa serviria para ela fazer o que fez.

DIÁRIO – O sr. se sente responsável pela cassação do registro do Márcio, em 2004?
OSWALDO – Nunca tive essa sensação. Em momento algum eu senti que tivesse responsabilidade sobre isso.

DIÁRIO – O sr. aceitaria repetir a dobrada de 1996 e de 2000 (Oswaldo e Márcio)?
OSWALDO – Não faço essa escolha e não tenho feito essa discussão. Isso deve ser só depois do dia 11.

DIÁRIO – Na hipótese de o sr. não vencer a prévia, declararia imediatamente apoio ao Márcio?
OSWALDO – Lógico. Isso é concreto. O escolhido será de todo o partido. Antecipação ajuda a resolver possíveis mágoas antes das eleições. Esse tempo é importante para, se tiver alguma ferida, cicatrizar.

Entrevista com Márcio Chaves
DIÁRIO – O que difere a sua pré-candidatura da de Oswaldo Dias?
MÁRCIO CHAVES – Do ponto de vista programático as duas candidaturas não se apresentam com grande diferença. Do ponto de vista do método para a disputa interna, há uma grande diferença. Defendo a construção da unidade partidária, sem o isolamento de qualquer força. A partir do momento que duas ou três forças se agrupam para definir os candidatos a prefeito e a vice aí você tem isolamento. Se eu ganhar a prévia, quero que o vice seja de outras forças. Poderia ter Oswaldo ou Paulo Eugênio. Eu jamais me uniria a uma ou duas forças para isolar o Oswaldo, por exemplo. Essa é a diferença.

DIÁRIO – O fato de ter um ex-prefeito como concorrente o coloca em desvantagem?
MÁRCIO – Eu participei ativamente do governo Oswaldo Dias. Liderança e competência administrativa todos nós temos.

DIÁRIO – A alternância de poder entre o sr. e o Oswaldo vem ocorrendo desde 1988. Não faltam novas lideranças no PT?
MÁRCIO – Isso é fruto de nossa liderança e compromisso exercidos dentro do PT. Ao longo desses anos tivemos outras lideranças sendo projetadas em outras disputas. Esse não é o problema do PT.

DIÁRIO – O vencedor da prévia passa a ser o grande vencedor do PT de Mauá?
MÁRCIO – A grande liderança é a militância do PT. Tenho convicção que se saio por outro partido, não teria a força de uma militância como a do PT, assim como o Oswaldo. A responsabilidade de quem ganhar a prévia é de liderar o processo, mas não pode se sentir como o todo-poderoso ou o salvador da Pátria.

DIÁRIO – Dá para governar uma cidade com uma dívida de R$ 1 bilhão?
MÁRCIO – Dá para governar de forma planejada. Aliás o atual governo fala da questão de precatórios, mas isso é de responsabilidade dele. Isso é das administrações anteriores a 1996. O problema é a gestão.

DIÁRIO – Qual seu sentimento quanto ao episódio de 2004?
MÁRCIO – Nós fomos roubados. O grupo que está no poder fez de tudo para chegar lá. Vencemos no primeiro turno e venceríamos no segundo. Meu sentimento é de um nó na garganta e uma ansiedade de colocar em prática tudo o que tínhamos divulgado na campanha.

DIÁRIO – O Túnel do Tempo foi um erro?
MÁRCIO – Foi um erro de avaliação da Prefeitura naquele momento. Não tive responsabilidade direta sobre a realização da exposição. Tínhamos uma avaliação jurídica que a manutenção do Túnel do Tempo poderia trazer problemas. Mas ressalto que não havia nada que associasse ao candidato.

DIÁRIO – O sr. acha que Oswaldo foi o responsável pela cassação do seu registro?
MÁRCIO - Não estava sendo questionado a figura do candidato e sim uma exposição da Prefeitura. O responsabilizado no processo foi do Oswaldo e eu, como candidato do partido, sofri as conseqüências. Mas garanto que o Oswaldo fez de tudo para que saíssemos vitoriosos.

DIÁRIO – Um futuro mandato do sr. poderia ser encarado como continuidade da gestão Oswaldo?
MÁRCIO – Hoje não dá para falar em continuidade porque temos esse desgoverno. O que pode se falar é em resgatar uma série de políticas que vinham sendo desenvolvidas nos oito anos do PT. Nós temos de fazer uma mudança de 180 graus e desenvolver programas mais condizentes com a realidade do Grande ABC pós-governo Lula.

DIÁRIO – Na hipótese de o sr. não vencer a prévia, declararia imediatamente apoio ao Oswaldo?
MÁRCIO – Com certeza.



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