Setecidades Titulo Preocupação
Queda de árvores tem alta de 135% na região

Entre os meses de janeiro e fevereiro, três cidades do Grande ABC registraram 188 acidentes

Por Aline Melo
Do Diário do Grande ABC
10/03/2019 | 07:00
Compartilhar notícia
Celso Luiz/DGABC


Nos dois primeiros meses do ano, três cidades da região – São Bernardo, São Caetano e Diadema (as únicas que forneceram dados) – contabilizaram 188 quedas de árvores, número 135% maior do que o observado no mesmo período de 2018 – foram 80 ocorrências no primeiro bimestre do ano passado. Conforme especialistas, o cenário está associado a conjunto de fatores, como alta no volume de precipitação no intervalo analisado (choveu 169,57 milímetros mais em 2019), episódios de ventanias de até 80 km/h e ausência de ações preventivas por parte das prefeituras.

O cenário é ainda pior conforme levantamento do Diário com base nas reportagens publicadas neste ano. Pelo menos 284 árvores caíram em seis das sete cidades: Santo André (87), São Bernardo (90), São Caetano (60), Diadema (38), Mauá (quatro) e Ribeirão Pires (cinco). Apenas entre os dias 25 e 26 de fevereiro, foram 84 ocorrências do tipo. Na ocasião, ventos superiores a 80 km/h atingiram as cidades. A velocidade considerada normal é entre 30 km/h e 60km/h.

O meses de janeiro e fevereiro também tiveram incidência maior de chuva neste ano em relação a 2018 – o acumulado passou de 238,6 milímetros para 408,17 milímetros no período. Segundo dados do CGE (Centro de Gerenciamento de Emergências) do Grande ABC, a média mensal de fevereiro deste ano foi de 238,47 milímetros contra 59,1 milímetros no mesmo mês de 2018. Especialistas avaliam que os eventos climáticos extremos impactaram nas quedas, mas também destacam que faltam ações preventivas por parte das prefeituras.

O botânico e professor de Ecologia da UFABC (Universidade Federal do ABC) Marcio Werneck explicou que o acompanhamento do estado de saúde (fitossanitário) das árvores deve ser feito periodicamente, de preferência com intervalo de três meses, especialmente nos períodos de transição entre as estações. “Quando uma árvore está adoecendo, ela perde tamanho, e isso pode ser diagnosticando com medições. Os galhos também ficam mais suscetíveis às quedas, por isso é importante o acompanhamento e a poda preventiva”, explicou.

Werneck destacou que mesmo uma árvore saudável pode cair, especialmente se estiver em área inclinada. “As chamadas madeiras claras, que são usadas em ambientes urbanos, tendem a se quebrar mais facilmente”, detalhou.

Espécimes urbanas, próximas à prédios, podem se beneficiar da proteção do vento feita pelos edifícios. Em contrapartida, em situações de vento acima da média, estes mesmos prédios podem criar corredores que potencializam a força das correntes de ar. “É preciso que as administrações saibam o estado das árvores, para poder realizar podas preventivas nos espécimes mais velhos. Não tenho conhecimento que alguma cidade realize com esse intervalo de tempo”, afirmou Werneck.

Em agosto do ano passado, o Diário mostrou que Santo André, São Bernardo, São Caetano, Mauá e Ribeirão Pires planejavam e/ou atualizavam estudos e mapeamentos sobre as árvores, mas nenhuma tinha planos de manejo atualizados e em curso.

Meteorologista e responsável pelo setor meteorológico do CGE ABC, Caio Pereira Souza, explicou que um dos fatores que podem ter influenciado no volume de chuvas neste ano foi o fenômeno climático El Niño, quando as águas do Oceano Pacífico se aquecem e resultam em deslocamento atmosférico, aumentando as chuvas na América Latina, Centro Oeste, Sul e Sudeste do Brasil. “Não é possível prever até quando haverá essa influência, mas pode ser uma das explicações”, pontuou.

Equipes para podas devem ser estruturadas
O professor de Ecologia da UFABC (Universidade Federal do ABC) Marcio Werneck destacou que as administrações devem investir nas ações preventivas, mas também manter equipes estruturadas e com condições de atender às solicitações dos munícipes.

Santo André informou que faz monitoramento das árvores urbanas de forma contínua com técnicos habilitados e que também realiza inventário de todas as especies arbóreas plantadas em calçadas, atualizando cadastros sobre doenças, danos e necessidade de intervenções. A equipe responsável pelas podas conta com 70 pessoas. Notificações sobre árvores que precisam de podas podem ser feitas pelo 0800-0191944.

Em São Bernardo, 1.930 espécimes foram identificadas com risco e estão em programação para a remoção. A Prefeitura informou que realiza vistorias diárias e que a equipe de poda conta com 20 funcionários (em dias sem ocorrências). Pedidos podem ser feitos pelo 0800-7708156.

O Saesa (Sistema de Água, Esgoto e Saneamento Ambiental) de São Caetano informou que mantêm vistorias diárias e que as equipes para poda e atendimentos de emergências podem chegar a 50 servidores. Em Diadema, o monitoramento é feito em visitas técnicas e a equipe de poda conta com 15 funcionários. Mauá tem apenas seis funcionários para podas e remoção de árvores.

As demais prefeituras não retornaram até o fechamento desta edição.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;