Setecidades Titulo São Bernardo
Explosão mata 2 e
fere 12 em academia

Corpo de Bombeiros apontou vazamento de gás
como possível causa do acidente em S.Bernardo

Por Caroline Ropero, Fábio Munhoz e Pedro Souza
18/05/2014 | 00:23
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Denis Maciel/DGABC


Duas pessoas morreram e pelo menos 12 ficaram feridas após explosão ontem, às 11h, na academia Tem Esportes do bairro Pauliceia, em São Bernardo. O Corpo de Bombeiros apontou vazamento de gás como possível causa do acidente. O combustível era utilizado para aquecer a caldeira.
 
As vítimas fatais foram o torneiro mecânico Marcos Aparecido Pardim, 50 anos, e a professora de natação Hélne Boriczeski Alves, 26. Pardim era vizinho do estabelecimento e, segundo familiares, estava estendendo roupas no varal no momento da explosão. O corpo foi arremessado a distância de 15 metros e ainda foi coberto por água da piscina. Hélne era funcionária do estabelecimento há poucas semanas e também morreu no local. Durante pelo menos oito horas, os bombeiros trabalharam na retirada dos escombros; com a explosão, paredes e teto ruíram.
 
Os feridos foram socorridos ao Hospital Anchieta e à UPA (Unidade de Pronto Atendimento) da Pauliceia, em São Bernardo, e ao Hospital Brasil, em Santo André. Uma das vítimas estava internada em estado grave e outra, com fratura exposta no joelho, passaria por cirurgia no Hospital de Clínicas. O número de feridos deve ser ainda maior, já que alguns foram levados a unidades de Saúde por vizinhos e parentes.
 
Segundo o comandante do Corpo de Bombeiros no Grande ABC, tenente-coronel Roberto Alboredo Sobrinho, a maioria dos feridos estava na área da piscina. “Possivelmente houve vazamento de gás e deve ter se acumulado na laje em volta das piscinas. Teve a ignição e ocasionou uma explosão ambiental”, explica. A causa só será confirmada após a conclusão dos laudos da perícia. Alboredo descarta que o acidente tenha sido motivado por problemas na caldeira. A busca por outras vítimas foi encerrada por volta de 14h. Participaram da operação 55 bombeiros e 18 viaturas.
 
O comandante garantiu que a academia possuía AVCB (Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros) válido. O secretário de Serviços Urbanos de São Bernardo, Tarcísio Secoli, afirmou que o estabelecimento tinha alvará de funcionamento emitido pela Prefeitura com vencimento em dezembro. Apesar da situação regular, vizinhos relatam que era comum sentir cheiro de gás vindo de dentro da academia.
 

Pelo menos quatro casas – além da academia – foram interditadas pela Defesa Civil. De acordo Secoli, nos próximos dias as equipes do departamento farão outra vistoria aos imóveis para confirmar se as estruturas foram comprometidas.

 (Colaborou Marília Montich)


Vizinhos relatam que odor era comum

 Moradores relatam que era comum sentir cheiro de gás vindo do interior do prédio onde funcionava a academia Tem Esportes. O torneiro mecânico Marcos Aparecido Pardim, 50 anos, morto no acidente, teria, inclusive, liderado elaboração de abaixo-assinado para que fosse apurado suposto vazamento do combustível.
 
 “Isso foi uma tragédia anunciada. Onde já se viu um prédio utilizar lenha e gás no meio de tantas residências?” questiona o aposentado Plínio Afonseca, 75 anos. Na opinião dele, a tragédia poderia ter dimensões ainda maiores, comparáveis às da Boate Kiss, casa noturna que, em janeiro do ano passado, foi incendiada e ocasionou a morte de 142 pessoas.
 
Ontem, antes da explosão, pessoas que estiveram na academia relataram odor forte. “Assim que cheguei, por volta de 9h, já era possível sentir o cheiro”, lembra a recepcionista Letícia Campos, 19. O secretário de Serviços Urbanos de São Bernardo, Tarcísio Secoli, diz que não havia na Defesa Civil registro desse tipo de reclamação. Ele afirma que, há alguns anos, moradores reclamaram contra a fuligem provocada pela queima da lenha da caldeira.
 

Pelo menos quatro casas – dispostas em dois terrenos – tiveram danos severos e foram interditadas preventivamente. Locatária de um dos imóveis na Rua Belém, a montadora Maria de Lourdes Caldas, 42, terá de morar temporariamente em casa de parentes. “Perdemos computador, televisão e alguns móveis. Mas pelo menos eu e minha filha não estávamos em casa. Minha cachorra estava, mas, graças a Deus, ficou intacta”, pondera. Ainda não se sabe se ela poderá retornar à residência.

RESPOSTAS

 A Tem informou, por meio de assessoria de imprensa, que não tinha conhecimento sobre as reclamações do cheiro de gás e que, se soubesse, teria tomado providências. Em relação às casas interditadas, a direção da academia garante que adotará medidas “cabíveis” assim que tiver em mãos os laudos do Corpo de Bombeiros e Defesa Civil. A empresa diz que “a todo momento está auxiliando (as famílias) no que é possível.”


''Ninguém avisou. Soube da morte da minha filha pela internet''
Descaso e desrespeito. É assim que a aposentada Irene Terezinha Boriczeski, 61 anos, classifica a atitude dos gestores da academia Tem Esportes. A empresa não teria avisado a família sobre a morte da funcionária e filha de Irene, Hélne Boriczeski Alves, 26 anos, na explosão ocorrida na unidade do bairro Pauliceia, em São Bernardo.
 
“Ninguém avisou. Ficamos sabendo agora pela internet”, disse Irene, em lágrimas, por volta das 18h30, no IML (Instituto Médico Legal) da cidade. O acidente ocorreu às 11h. Nyna, como era conhecida pelos mais próximos, era a única da família que não participava de evento realizado durante todo o dia de ontem em sua igreja, a Adventista do Sétimo Dia.
 
“Ninguém me avisou! Nada, nada! Nenhum telefonema sequer. Mesmo que eu não atendesse em casa, eles poderiam me ligar no celular. Eles têm o número”, desabafou Irene.
 
Nyna estava em um de seus melhores momentos, conta a mãe. No próximo domingo, completaria 27 anos. Alegre, trabalhadora e estudiosa, estava a poucos dias de assumir o cargo de coordenadora de Esportes na Prefeitura de São Bernardo. “Ela acabou de passar no concurso”, lembrou Irene, destacando que a filha já venceu desafios como a formação em Educação Física na Unesp (Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho) de Rio Claro e a conclusão de pós-graduação em Administração e Marketing Esportivo. 
 

A Tem Esportes informou, por meio de nota, que tentou “contato com os pais da Hélne, insistentemente”, mas recebeu a informação de que “eles estavam em um retiro e, por isso, estava difícil o contato”.

CUIDADOS ESPECIAIS

 A família do torneiro mecânico Marcos Aparecido Pardim, 50, vizinho da academia que também morreu na explosão, precisou de cuidado redobrado para avisar a mãe da vítima, a dona de casa Nizete Roque Pardinho, 80. “Ela tem válvula no coração. Nós viemos para cá e outros irmãos ficaram em Campinas para contar a ela de maneira mais tranquila”, revelou o irmão de Pardim, Cristovão Pereira Pardim, 45.
 
Segundo o agente policial e cunhado de Pardim, Norivaldo Benedito da Silva, 58, o deslocamento de ar durante a explosão causou o impacto fatal. E a tragédia, por pouco, não foi maior. Isso porque segundos antes da explosão, uma das filhas da vítima e o neto foram atender à campainha da residência. “Eles estavam estendendo roupas juntos.”
 
Pardim, lembrou Silva, era exemplar trabalhador e pai responsável, tendo em vista que criou quatro filhos e acompanhava o crescimento de dois netos. Ele será sepultado hoje, no Cemitério da Vila Pauliceia, em São Bernardo. 
 

O enterro de Hélne será realizado hoje, às 16h, no Cemitério do Araçá, na Capital. 

‘Foi cenário de guerra’, diz vizinho

 “O barulho foi ensurdecedor. Achei que soltaram uma bomba. Foi um cenário de guerra.” Esse é o resumo do advogado Eduardo Cavalheiro Bueno, 28 anos, vizinho à Tem Esportes da Pauliceia. Ele conta que chegou à frente do prédio e viu um casal e uma criança sendo retirados. “Eu os levei ao pronto-socorro.”
 
O representante comercial Fernando Lemos Soares, 30, comparou o ruído ao de uma queda de avião. “Tremeu tudo. Quando saí para a rua, vi muita gente machucada, ainda com trajes de banho.” No asfalto e na calçada havia muitas marcas de sangue.
 

O estudante Thales Kaique Moreno, 16, diz ter sido o primeiro a entrar para prestar socorro. “Foi um horror. Vi gente com fratura exposta e outras em estado de choque. O chão havia caído. Nós pisávamos na tubulação”, conta o jovem, que estava com manchas de sangue na roupa.


Professor de natação estava na piscina e viu bebê ensanguentado 

 O professor de natação Tiago Vieira, 30 anos, estava na piscina no momento da explosão. Ele aguardava os alunos, todos bebês, chegarem para a aula das 11h. “Tudo apagou, pessoas começaram a gritar, vidros quebraram e pedaços da estrutura caíram”, afirma a vítima, que viu os pais retirarem os filhos da piscina e uma das crianças sangrando. Ele foi atendido no Hospital Anchieta. 
 
Enquanto saía do local, vestido apenas de sunga, pisou em cacos de vidro e sofreu cortes nos pés. “Não dava para enxergar nada por causa da poeira.” A professora Hélne Boriczeski Alves, vítima fatal, era amiga de Tiago. “Estava na piscina ao lado, uma grande amiga. É difícil saber que ela não escapou.”
 
Thiago Sousa da Costa, 19, foi assistir à aula do primo de 2 anos, que fazia aniversário ontem. “Ao passar a catraca fui jogado no chão. O teto caiu e senti tudo despencar em cima de mim. Todos estavam assustados”, diz o rapaz, que teve escoriações leves e cortes na cabeça e foi atendido na UPA Pauliceia. O tio e o primo não se feriram.
 

 A recepcionista da academia Letícia Campos, 19, teve ferimentos leves e conta que sentiu cheiro forte de gás quando chegou ao trabalho, às 9h. Ao escapar, viu todos se ajudando. Segundo enfermeira do Hospital da Pauliceia, apenas umas das vítimas encontrava-se em estado grave. 




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