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Sem Saúde, vida fica ainda mais difícil em Santo André
Por Vanessa de Oliveira
Do Diário do Grande ABC
01/01/2017 | 07:00
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Nario Barbosa/DGABC


Debaixo de garoa fina ou chuva forte, frio intenso ou sol de rachar. Não importa. Em qualquer situação, o casal Mileide Aguiar dos Santos, 35 anos, e Evandro Alves Lavarias, 33, moradores do Sítio dos Vianas, em Santo André, acorda diariamente antes de o sol nascer, às 4h50, e percorre as ruas da cidade em busca de materiais recicláveis. “Se deixar de ir algum dia, a gente não come”, ressalta a matriarca.

É da venda desses objetos que vem a maior parte da renda que sustenta a família, nascida e criada em terras andreenses e composta ainda por três filhos – Kaue, 12; Aidan, 15; Larissa, 17; além do neto, Kaua, 1 ano e 4 meses, filho da primogênita. Os dois cômodos que os abriga foram cedidos pela irmã de Mileide, que mora na parte superior da casa, com dois filhos e o marido.

O trabalho do casal era feito com a ajuda de uma Variant, ano 1977, que pifou. Agora, a tarefa só pode ser realizada na caminhada. Os quilômetros percorridos são tantos que eles nem conseguem mensurar.

Kaue e Aidan também acompanham os pais na peregrinação por recicláveis. Para complementar o dinheiro e colocar o mínimo de alimento na mesa, o caçula improvisa bazar na rua de casa, com roupas, sapatos e brinquedos cedidos pela ONG (Organização Não Governamental) A Casa do Jardim. “Com o que ganho compro leite com chocolate e pão”, conta Kaue, que tem dois sonhos na vida. “Quero ser empresário e conseguir uma casa para minha mãe, porque essa não é a casa dela.”

Assim como o carro que auxiliava a família no trabalho um dia pifou, chega uma hora em que o corpo também não aguenta as adversidades da vida. A família e os demais moradores do periférico bairro teriam uma USF (Unidade de Saúde da Família) bem próxima de suas casas, situada no entorno da Praça da Árvore, caso o imóvel não estivesse abandonado há quase cinco anos. “Falaram que seria um posto de Saúde, mas a única coisa que tem ali é usuário de drogas”, lamenta Mileide.

Se alguma enfermidade chega, é preciso caminhar quase dois quilômetros até a UBS (Unidade Básica de Saúde) da Vila Luzita. “Quando fico doente, vou bem molinho, devagarzinho, porque é longe”, relata Kaue.

“O espaço está caindo aos pedaços e nunca foi usufruído pela população. E ninguém fala nada sobre o que acontece”, reclama Mileide.

A distância torna-se ainda mais árdua tendo em vista as condições do sistema público de Saúde. “Faz três anos que estou com pedido de endoscopia para o Kaue para saber se ele tem a mesma doença que o irmão (Aidan é celíaco – tem intolerância radical ao glúten)”, fala a mãe. “Até consulta com o clínico geral demora, tem vez que chega a três meses de espera”, completa.

Com dinheiro limitado para adquirir só o básico da alimentação, Mileide diz que nunca conseguiu comprar os itens da dieta que Aidan precisa fazer. “Ele come de tudo. A médica disse que agora ele pode não apresentar nenhum problema, mas futuramente pode ter um câncer de estômago.”

O ano se renova e, com ele, os sonhos e a esperança do casal em conquistar trabalho que permita renda fixa, além de condições de proporcionar à família dias melhores. “Já ficamos sem ter o que comer. Quando meus filhos perguntam: ‘Mãe, não tem uma bolacha?’, penso: ‘Meu Deus, por que estou passando por isso?’. Se tivermos emprego, o resto a gente corre atrás”, confia Mileide. 




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