Economia Titulo Desigualdade
Taxa de desemprego é maior entre negros no Grande ABC

Do total, 13,9% deles estão em busca de
trabalho e os jovens são os mais afetados

Por Paula Oliveira
Especial para o Diário
19/11/2016 | 07:24
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André Henriques/DGABC


Ainda hoje a participação do negro na sociedade se difere da dos brancos e orientais, e isso reflete no acesso à Educação, na ingresso no mercado de trabalho e no salário recebido. A crise, portanto, é mais sentida pelos negros que, além de lidar com as dificuldades da economia, sofrem na pele com o preconceito e com a desigualdade social.

E esse cenário é estampado em dados estatísticos. A taxa de desemprego dos negros no Grande ABC é de 13,9%, enquanto a de brancos e orientais, 10,6%. Isso é o que aponta a PED (Pesquisa de Emprego e Desemprego), elaborada pela Fundação Seade e pelo Dieese em virtude do Dia Nacional da Consciência Negra, comemorado amanhã.

Os dados referem-se a levantamento realizado bianualmente, neste caso, entre os anos 2015 e 2014. Na comparação com 2013 e 2012, o desemprego entre os negros foi o que mais acelerou, 2,6 pontos percentuais. À época, estava em 11,3%, menor percentual desde o início da pesquisa na região, em 1998. Quanto ao dos não negros, era de 9,7%, avanço de 0,9 ponto percentual.

Além disso, no Grande ABC os negros permanecem por mais tempo no mercado de trabalho, seja empregado ou em busca de ocupação; eles começam aos 13 anos e ficam até os 60 anos. Enquanto que brancos e orientais iniciam com 20 anos e seguem até os 55 anos.

“Para o negro ainda continua difícil, ainda mais em empresas tradicionais. Trata-se de uma triste realidade, pois ser negro ou ter cabelo crespo implica sim na seleção de um entrevistado e isso é constrangedor, isso existe, mesmo que tentem colocar debaixo do tapete”, explica o designer Flávio Santos. “Por isso, meu sonho um dia é ter empresa para fazer tudo diferente, e praticar a igualdade salarial entre as funções.”

Na comparação por faixa etária, os jovens negros entre 16 e 24 anos foram os mais afetados pela crise. Para este grupo, a taxa cresceu de 21,7% para 25,5%, enquanto que, para os brancos da mesma idade, passou de 20,4% para 24,4%.

“Principalmente em áreas administrativas que exigem padrão de aparência é comum sentir desdém. Eu já tive que alisar o cabelo só para fazer uma entrevista. Hoje, entendo que não é errado ser negra, errado é exigir um padrão”, afirma Luana Freitas, que trabalhava na área administrativa e migrou para o setor de comunicação por achar que há mais espaço. Hoje, no entanto, ela estuda e está desempregada.

O gerente do Seade, Alexandre Loloian, afirma que os negros ainda possuem legado histórico de discriminação, que reflete em vários âmbitos até hoje. “A igualdade tem a ver com políticas públicas, com crescimento. Só haverá melhorias quando incorporarmos mais negros no mercados de trabalho.”

Do total de trabalhadores do Grande ABC, 28,8% são negros, e esse percentual caiu em dois pontos percentuais ante a pesquisa anterior. Eles estão mais presentes em serviços, com 50,5% do total. O percentual é semelhante ao dos brancos e orientais, com 53,7%. “Eu trabalhava em uma redação de jornal que tinha mais de 60 pessoas, mas dava para contar nos dedos de uma mão a quantidade de negros do local. Ainda a maior dificuldade é o acesso aos empregos e o mesmo salário para a mesma função”, diz o jornalista Vinicius Andrade.

Os negros superam os brancos apenas no serviço doméstico (8,1% contra 4,1%) e na construção (8,5% contra 4,3% brancos). Na indústria e no comércio a presença de brancos é maior, mas a diferença é pequena. “É difícil ver algum lugar em que os negros estão acima dos brancos ainda. Grande entrave é o acesso dos negros a hierarquias maiores”, afirma Loloian.


Salário do negro é 63% do branco

A desigualdade entre negros e brancos está presente em diversos setores, o que pode ser notado no rendimento médio de cada um deles. Segundo a pesquisa do Seade e Dieese, no biênio de 2014 e 2015 o valor pago por hora aos negros, no Grande ABC, era de R$ 9,78, enquanto que, aos brancos e orientais, R$ 15,46. Ou seja, o salário dos negros equivale a 63% do pago aos brancos.

Entre 2012 e 2013, no entanto, a diferença era ainda maior, e a equivalência era de 61,7%. Os negros recebiam R$ 9,91 por hora, enquanto os brancos, R$ 16,06.

De acordo com o levantamento, em todos os setores os negros ganham menos. E a diferença é mais acentuada nos setores de metalmecanica (negros recebem R$ 13,50 contra R$ 20,23 de brancos), serviços (R$ 9,49 contra R$ 15,85) e administração pública (R$ 11,68 contra R$ 18,75).

No Grande ABC, os negros representam 28,5% da PIA (População em Idade Ativa) e, na composição da PEA (População Economicamente Ativa), 29,6%. Apesar disso, a permanência deles no mercado de trabalho é maior. “Eles são, muitas vezes, obrigados a entrar mais cedo e a sair mais tarde, na comparação do tempo do branco. Além disso, as condições de trabalho ainda são diferentes, você pode perceber vendo as categorias que eles se sobressaem, de serviço braçal”, explica Alexandre Loloian.  




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