Setecidades Titulo Descarte
Coleta de medicamentos vencidos ainda é ineficaz
Por Victor Hugo Storti
Especial para o Diário
16/10/2016 | 07:00
Compartilhar notícia
Ricardo Trida/DGABC


Quando o assunto é o descarte de medicamentos vencidos, a população brasileira ainda fica em dúvida sobre o que fazer. Muitas vezes, o destino mais comum destes remédios é o lixo ou até mesmo o vaso sanitário, atitudes que podem comprometer o meio ambiente por meio da contaminação do solo e das águas. O ideal, conforme especialistas, é a incineração dos produtos, que devem ser coletados de forma adequada pelo poder público ou pelas redes de drogarias particulares.

Na prática, nem todas as administrações municipais da região oferecem o serviço de recolhimento de medicamentos, dificultando a vida dos munícipes. Entre as sete cidades, São Bernardo, Mauá e São Caetano informaram que os moradores podem entregar os remédios vencidos em qualquer uma das UBSs (Unidades Básicas de Saúde).

Santo André afirmou, por meio de nota, que tem como estratégia a promoção de ações que garantam o uso racional dos medicamentos “em doses adequadas às suas necessidades individuais por período definido e ao menor custo para si e para a comunidade”. No entanto, o município afirmou não possuir postos de coleta e recomendou que a população procure a rede privada de farmácias, mesma indicação dada pela Prefeitura de Diadema. Já as administrações de Rio Grande da Serra e Ribeirão Pires não responderam aos questionamentos feitos pela equipe do Diário até o fechamento desta edição.

O estudante Bruno Rahal, 22 anos, ainda possui medicamentos que foram utilizados para combater uma inflamação no dente. Vencidos desde 2015, os remédios estão guardados em uma gaveta, já que o lixo comum não é o local certo para o descarte. “Depois que eu utilizei o xarope e os comprimidos, acabei esquecendo no armário, e ainda não joguei fora”. No entanto, o estudante disse que já se desfez de medicamentos vencidos de forma incorreta em outras oportunidades. “Na dúvida, acabei jogando no lixo convencional, o que acredito que não seja recomendado”, confessou.

Ainda de acordo com Rahal, a falta de informações para os pacientes colabora para que mais remédios vencidos sejam descartados no lixo comum ou no vaso sanitário. “Não sei se existe algum ponto específico ou alguma coleta para isso. Se tivesse orientação na caixa do remédio, por exemplo, ficaria mais fácil. Mas é o consumidor que precisa ir atrás da informação”, lamentou.

MEIO AMBIENTE – A professora da FSA (Fundação Santo André) Angela Baeder explica que, quando um medicamento é descartado de forma incorreta, até mesmo a população pode ser diretamente prejudicada. “Ocorre uma contaminação dos rios e, pela falta de tratamento das águas, pode afetar as pessoas que utilizarem essa água contaminada”, disse.

Segundo Angela, o meio ambiente e as espécies animais ainda são os mais prejudicados pela contaminação de águas e solos. “As principais consequências são para a saúde do meio ambiente. Ocorrem diversas mudanças no funcionamento dos organismos, há casos de peixes machos que desenvolveram características do sexo feminino por culpa dos hormônios”, completou.

A professora ainda explica que, quando há uma coleta organizada, os medicamentos acabam incinerados ou descartados em aterros que possuam licenciamento ambiental. “O consumidor tem de estar atento aos riscos que podem ser causados ao meio ambiente e procurar a forma certa de descarte.”


Consumo de remédio fora do prazo de validade é desaconselhado

Consumir medicamentos vencidos também é péssima ideia, já que a atitude pode acarretar graves consequências para a saúde. Segundo a farmacêutica e coordenadora de pesquisa clínica do Cepho-FMABC (Centro de Estudos e Pesquisas de Hematologia e Oncologia da Faculdade de Medicina do ABC) Andressa Tamashiro, os remédios que estão fora do prazo de validade podem apresentar redução do efeito terapêutico, além de contaminação por fungos e bactérias. 

“O paciente que faz uso de medicações vencidas pode estar sujeito a apresentar efeitos adversos indesejados, diferentemente dos esperados normalmente com o uso da medicação em boas condições devido à deterioração de seus componentes”, explicou.

Outra crença comum de grande parte da população é a de que os remédios possuem margem de segurança no cálculo do prazo de validade. Andressa afirma que essa prática não é recomendada e que a orientação é a de respeitar o vencimento e as informações contidas na bula do medicamento. “Após a expiração da validade do produto, o fabricante não poderá garantir que os medicamentos conterão as mesmas características de quando foram fabricados, bem como a sua efetividade”, disse.

 

Ainda de acordo com a farmacêutica, o prazo de validade impresso nas caixas dos remédios só deve ser mantido nos casos em que o produto estiver totalmente lacrado, porque “após aberto (o medicamento), a validade é reduzida, uma vez que o contato com a luz e com o ar acelera o processo de degradação dos componentes e princípios ativos da formulação”, ressaltou Andressa.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;