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Plano de carreira fica no papel

Proposta do Consórcio para oferecer condições semelhantes de trabalho, salário e formação aos professores da região ainda não foi efetivada

Por Daniel Macário
Do Diário do Grande ABC
15/10/2016 | 07:00
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Celso Luiz/DGABC


Discutido no Consórcio Intermunicipal do Grande ABC desde 2013, por meio do Grupo de Trabalho de Educação, o plano de carreira regional para professores que atuam no sistema de ensino municipal ainda segue sem prazo para ser incorporado pelas sete cidades. Embora tenha sido aprovado em junho deste ano, o projeto, cujo objetivo é oferecer condições semelhantes de trabalho, salário e formação aos docentes, permanece sendo apenas documento “com diretrizes que devem nortear o trabalho dos gestores da área”, sem eficácia na prática.

Visto como alternativa para incentivar o ingresso de docentes no sistema municipal de Educação da região, ao mesmo tempo em que promove a capacitação dos professores que atuam na rede, o plano é um dos cinco eixos do Plano Regional de Educação, elaborado em 2015. No entanto, o documento, embora já tenha sido aprovado, sequer estabeleceu parâmetro de índices de salários entre os profissionais da área e planos de carreiras.

Na visão do doutor em Educação e professor da Faculdade de Educação da USP (Universidade de São Paulo) Ocimar Alavarse, a ausência do plano pode impactar diretamente alunos inscritos no sistema municipal. “A diferença salarial e de investimentos numa determinada região só impulsiona cada vez mais que os professores tenham migração maior entre esses municípios. Na prática, uma cidade com mais recursos financeiros ficará com os melhores professores, enquanto a que não tem condições não será atrativa. Nesse caso, quem acaba sendo prejudicado é o aluno, que não escolhe onde nasce.”

Para o especialista, a execução do plano é importante para reverter a defasagem de docentes nas redes. “Os professores têm atuado em condições precárias. A implantação de projeto que invista na capacitação desses profissionais é fundamental para que a categoria volte a ter condições para atuar.”

Composta por quase 14 mil docentes, a rede municipal do Grande ABC ainda é alvo de críticas por parte da categoria. Um dos principais questionamentos é justamente a diferença salarial. Atualmente, um profissional que ingressa em São Bernardo para trabalhar 40 horas semanais, por exemplo, tem rendimento mensal de R$ 3.800, enquanto em Ribeirão Pires esse valor é de R$ 2.200.

De acordo com o Consórcio, “da mesma forma que foi apresentado aos atuais prefeitos, o Plano Regional de Educação será levado ao conhecimento, por meio do Grupo de Trabalho de Educação, aos novos governantes que iniciam mandato no próximo ano”. A entidade não disponibilizou nenhum porta-voz para comentar o assunto e também não citou prazos.

 

CONQUISTA

O governador Geraldo Alckmin autorizou, ontem, a convocação de 20,9 mil professores aprovados em concurso do magistério realizado em 2013. O anúncio foi feito durante evento no Palácio dos Bandeirantes em homenagem ao Dia do Professor e às escolas estaduais com o melhor desempenho no Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica). A autorização dos novos docentes será publicada na edição de hoje do Diário Oficial de São Paulo.

 

Jovens e especialistas citam desafios da carreira

No dia em que se comemora o Dia do Professor, jovens estudantes de Pedagogia e especialistas ouvidos pelo Diário relatam preocupação com o atual cenário enfrentado por docentes e alunos.

Na avaliação do professor da UFABC (Universidade Federal do ABC) e pesquisador em Educação e ensino Fernando Luiz Cássio, uma das principais dificuldades é o andamento da PEC (Proposta de Emenda à Constituição) 241, que limita o crescimento dos gastos públicos à taxa da inflação pelos próximos 20 anos. “É um retrocesso sem precedentes que só tende a prejudicar a Educação. Não houve consulta nenhuma com especialistas da área”.

Também contrário à medida, o professor da Faculdade de Educação da USP (Universidade de São Paulo) Ocimar Alavarse acredita que proposta pode trazer impactos diretos para o Plano Nacional de Educação. “Isso compromete o desenvolvimento das metas”.

Embora o cenário não seja favorável, estudantes de Pedagogia afirmam acreditar na mudança do atual panorama da área no País. “A Educação é a arma mais poderosa que você pode usar para mudar o mundo”, desabafa a auxiliar de classe Jane Lima dos Anjos, 28.

Para a estudante Gabriela Lazarini, 20, a motivação para reverter as dificuldades da área está no sonho de uma sociedade melhor. “Estamos aqui para formar cidadãos melhores. Acreditamos nas pessoas.”

 




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