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Carlos Grana entrega linhas da Guarará para a Suzantur

Empresa assume transporte público em Sto.André
de forma emergencial; ação é questionada na Justiça

Daniel Macário
Do Diário do Grande ABC
04/10/2016 | 07:00
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Divulgação


A Prefeitura de Santo André oficializou, ontem, a entrega das 15 linhas operadas pela Expresso Guarará para a Suzantur, a partir da 0h do sábado. A cidade se torna a segunda da região administrada pelo PT, que seleciona a empresa por meio de contratação emergencial, para assumir a operação parcial do seu sistema de transporte municipal. Nos dois casos, os processos estão sendo questionados na Justiça.

A decisão foi tomada ontem por representantes da SATrans, autarquia responsável pelo sistema de transporte municipal, durante reunião, na qual foram entregues documentações de empresários interessados no certame. Na ocasião, das 26 empresas convidadas pelo Paço andreense, somente a Suzantur compareceu para apresentar sua proposta.

De acordo com o diretor da SATrans, Fábio de Jesus Leite, a ausência de demais empresas convidadas pode estar relacionada diretamente à “falta de atratividade” proporcionada pela contratação emergencial. “Neste tipo de contrato, o empresário entra num alto risco, pois não existe tempo hábil para repor seu prejuízo, diferentemente de uma concessão, em que você possui um período para investir e outro para recuperar. No (certame) emergencial, são 180 dias não prorrogáveis”, detalha.

No entanto, a participação da Suzantur como única interessada no processo de contratação emergencial coloca em xeque a transparência do processo feito pelo Paço andreense para substituir os serviços prestados pela Expresso Guarará, empresa que encerrará suas atividades na cidade na sexta-feira, após 16 anos.

Um dos principais indícios para a suspeita de fraude, segundo representantes do Sintetra (Sindicato dos Rodoviários do Grande ABC), é a aquisição, feita pela Suzantur, de sete ônibus com portas localizadas do lado esquerdo do veículo, padrão dos coletivos que circulam pelo corredor da Avenida Capitão Mário Toledo de Camargo, antes mesmo de a Prefeitura abrir o processo de contratação emergencial, no dia 28 de setembro.

Além disso, a presença do sócio-administrador da Suzantur, Claudinei Brogliato, na gestão da Expresso Guarará desde o fim do ano passado também gerou dúvidas por parte de funcionários.

Ontem, questionado pelo Diário, Brogliato negou a informação de que os veículos foram comprados em virtude da contratação emergencial. “Eu comprei esses ônibus para alugar para a Guarará enquanto eu estava lá. No entanto, eles só chegaram agora. Fiz a aquisição deles em março”. O empresário também ressaltou que, desde o dia 6 de abril, já não possui mais vínculo com a Guarará. “Sai de lá, pois (os donos) não estavam seguindo o que era para seguir.”

No acordo firmado com o Paço, a Suzantur se comprometeu a disponibilizar 71 veículos, número inferior aos 84 ônibus ofertados atualmente pela Expresso Guarará. No entanto, a empresa não deu garantias de que o sistema de bilhetagem eletrônica dos coletivos esteja em operação já no sábado.

A expectativa é a de que a SATrans faça a vistoria dos veículos da Suzantur hoje. O processo é necessário para a assinatura do contrato, válido por 180 dias.</CS><EM>

Duas ações que correm na Justiça podem interferir no andamento do certame. Representantes do DEM andreense e também o candidato a prefeito de Santo André, Paulinho Serra (PSDB), questionam eventuais ilegalidades e improbidades administrativas por parte do chefe do Executivo, Carlos Grana. Em ambos os casos, os solicitantes pedem a suspensão do processo em virtude da contratação emergencial ter sido iniciada às vésperas da eleição municipal, na qual Grana concorre à reeleição.

 

OUTROS CASOS

Em Mauá, o ingresso da Suzantur no sistema de transporte municipal da cidade, em 2013, também é alvo de investigação. Isso porque o prefeito Donisete Braga (PT) descredenciou as concessionárias que atuavam no município – a Leblon e a Cidade de Mauá. Na época, a gestão do petista alegou a invasão no sistema de bilhetagem – o caso ainda é questionado na Justiça. A empresa de Claudinei Brogliato ainda é acusada de descumprir edital que previa circulação de veículos novos na cidade.

Já em São Carlos, no Interior do Estado, a empresa também assumiu a operação de linhas municipais neste ano mediante contrato emergencial. O MP (Ministério Público) também abriu inquérito civil para apurar a contratação da viação.

 

Funcionários cogitam paralisar atividades

 

Sem qualquer garantia do pagamento de suas rescisões contratuais, funcionários da Expresso Guarará já cogitam cruzar os braços antes mesmo de a empresa encerrar suas atividades, na sexta-feira, último dia de operação da empresa em Santo André.

De acordo com o diretor do Sintetra (Sindicato dos Rodoviários do Grande ABC), José Souza Araújo Neto, o Califa, a decisão, que pode ocorrer a qualquer momento, foi motivada pela notícia de que a empresa não teria recursos para efetuar o depósito da primeira parcela da PLR (Participação nos Lucros e Resultados). “Os diretores informaram que só vão pagar em juízo, sendo que funcionários já contavam com esse dinheiro no dia 30 de setembro, quando deveria ter sido pago. Agora, eles estão com receio de que nem o salário deste mês seja acertado”, destacou.

Os funcionários, que ontem chegaram a anunciar possível paralisação, acabaram optando por recuar da medida após a empresa quitar o vale-alimentação. “Eles sempre pagam no dia 1º, mas neste mês atrasaram. Os trabalhadores chegaram a anunciar a greve, mas a empresa acabou pagando os sete dias deste mês durante o período da tarde.”

Motoristas e cobradores ouvidos pelo Diário, no entanto, revelaram a intenção de realizar ainda hoje paralisação. “Vamos ver se eles (empresa) vão se posicionar sobre o salário, pois eles sempre estão falando para procurar a Prefeitura. Caso ninguém nos dê um retorno, podemos parar antes de sexta-feira”, afirmou o motorista Adilson Moraes Fernandes, 40 anos.

Ontem, a Suzantur entregou documento para a SATrans, autarquia responsável pelo transporte municipal de Santo André, no qual diz ter a intenção de incorporar os funcionários da Expresso Guarará. No entanto, o diretor da autarquia, Fábio de Jesus Leite, destacou que a decisão de aceitar o convite ficará a cargo dos trabalhadores. O porta-voz do Paço ainda destacou que, caso ocorra qualquer paralisação antecipada da categoria, a administração deverá antecipar a operação da Suzantur. “Caso a Guarará encerre suas atividades antes do previsto, automaticamente já convocamos a Suzantur.”

 

INCERTEZA

Após serem notificados oficialmente, na sexta-feira, sobre o término das atividades da Expresso Guarará, usuários ainda seguem aflitos com a mudança. Por dia, a empresa é responsável por transportar 50 mil passageiros em 15 linhas municipais que circulam na região da Vila Luzita, em Santo André.

“Vi na internet que a mudança da São José foi muito confusa e estou com medo disso ocorrer aqui também. Vai saber se os motoristas vão cumprir os horários”, disse a balconista Rosângela Nóbrega, 36 anos.

Comandada pelos mesmos diretores da Expresso Guarará, a Viação São José também anunciou o término de sua operação, no fim do mês passado. A empresa que era responsável por três linhas intermunicipais que fazia o trajeto entre Santo André até São Caetano prestou serviço pela última vez na sexta-feira.

No sábado, a EMTU (Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos) colocou em vigor operação emergencial, na qual a Trans Bus ficou responsável por prestar serviços dessas linhas.




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