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Computatudo

Quando as estatais não dão certo, a saída oficial é sempre a mesma: gastar ainda mais dinheiro para ampliar suas atividades

Do Diário do Grande ABC
13/01/2016 | 07:00
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Quando as estatais não dão certo, a saída oficial é sempre a mesma: gastar ainda mais dinheiro para ampliar suas atividades. Tem suas vantagens: se já não funcionava com menos atividades, com mais é que não anda mesmo. E abre-se caminho para investir mais uns trocados. Não vai funcionar, claro; e investimento novo será necessário. A festa só termina quando acaba o nosso dinheiro.

A novidade é a Grande Empresa Estatal de Informática, Comunicação e Tecnologia, juntando DataPrev, Serpro e Telebras (a Telebras nega, mas a decisão final será tomada em nível superior, e à Telebras só caberá concordar ou concordar).

Não deixa de ser interessante: se a Apple nasceu numa garagem, se a Microsoft foi criada por dois estudantes, se o Google foi criado quase sem capital, imagine uma empresa que nasce com 7.000 funcionários e perto de US$ 1,5 bilhão de capital! Só que não: se o governo se mete, até dinheiro demais atrapalha.

Há alguns anos, quando tentaram criar na marra uma indústria brasileira de computadores (com investimento do Banco do Brasil), o sistema operacional Sisne não deslanchou, e o computador, descobriu-se pouco depois, era um Ferranti inglês, projetado para ajustar a mira de canhões de navios. Não era inteiramente importado, claro: em cima da marca Ferranti havia uma placa com o nome Cobra. E o Cobra reconhecia acentos e cedilha melhor que o Ferranti.

Em resumo, nada deu certo, apesar do esforço do governo e do investimento maciço.

Que nome terá a nova empresa? Computabras? Brascomputa? ComPutaTudo?

Lalau Tower
Uma empresa-gigante, uma campeã nacional, precisa de um prédio condigno para funcionar. Simples: fundos de pensão ligados ao setor contratam uma empreiteira habituada ao trato com investimentos públicos, recém-saída de um acordo de leniência, para construir um belo prédio. A gigante da computação irá então alugá-lo por um período de pelo menos 20 anos, mobiliá-lo em concorrências públicas rigorosamente legais, contratar os serviços terceirizados de segurança, limpeza, alimentação, talvez – sejamos modernos! – computação. E, já instalada, poderá se dedicar à implantação de subsedes em todo o país. Exagero?

Torre de prata
Tour d’Argent ficaria meio besta, né? Traduz-se, então. Mas a história vale ouro. O setor financeiro da Petrobras Distribuidora, BR, funcionava sem problemas nas amplas instalações da Petrobras, no Rio. Mas ninguém quer regular micharia. E a Odebrecht foi escolhida para construir um belo prédio em Salvador – investimentozinho, pouco mais de meio bilhão de reais – para que o financeiro ali se instalasse. E a BR paga o aluguel. Como funciona a engenharia financeira: a empresa aluga o imóvel da construtora por 20 anos. A construtora emite CRIs, Certificados de Recebível Imobiliário, e os vende com desconto (em economês, deságio) aos fundos de pensão interessados. Num período de oito a 12 anos, a venda dos recebíveis paga terreno e obra. Com tudo pago, o prédio continua sendo da construtora. Quem paga o aluguel continua pagando sem ser dono de nada.

Coisa fina
Louve-se a sofisticada engenharia financeira. O fundo de pensão poderia mandar fazer o prédio, do qual seria dono, talvez com a mesma empreiteira, e receber os aluguéis para sempre. Mas a opção deve ter sido boa. Uma decisão dessas não é individual, ninguém toma sozinho: sempre é uma comissão que decide.

Como é lá fora
O primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, tirou férias com a família no Caribe. Ele só pôde viajar no avião oficial. E escolheu levar a família no voo. Por isso pagará, por pessoa, o preço de primeira classe em linhas comerciais.

Férias em bases militares especialmente preparadas? Não, isso lá não existe. Ele alugou uma casa pela qual paga, de seu dinheiro, US$ 2.500 por dia. 




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