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Grande ABC tem dois seqüestros por mês
Gabriel Batista
Do Diário do Grande ABC
22/01/2006 | 09:02
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Responsáveis pela média de dois seqüestros por mês no Grande ABC nos últimos três anos, os seqüestradores de hoje em dia são mais amadores do que os atuantes no começo da década. Tendência essa que representa maior risco de tortura e morte às vítimas, de acordo com a polícia e o Ministério Público. Ocorreram 75 seqüestros no Grande ABC de 2003 a 2005, com base em dados das delegacias seccionais da região. Nesse período, entretanto, os registros desse crime caíram de 34 casos em 2003 para 18 em 2005.

A partir de 2000, o governo do Estado emplacou uma campanha de combate aos seqüestros. Regionalizou as equipes anti-seqüestro e assim anulou as quadrilhas especializadas nesse crime. Mas o lugar antes ocupado pelos “profissionais” é agora explorado por criminosos como ex-assaltantes de banco.

Seqüestro é o crime em que há pedido de resgate e a vítima é confinada em cativeiro. Não entram nos dados fornecidos pela polícia os seqüestros relâmpagos. De 2003 a 2005, 121 pessoas foram presas acusadas de seqüestro no Grande ABC.

Um seqüestro pouco organizado costuma deixar seqüelas. Resulta em nervosismo dos criminosos nas negociações de resgate e na “contratação” de ladrõezinhos desqualificados para fazer às vezes de carcereiro. O delegado seccional de São Bernardo, Marco Antonio de Paula Santos, percebe que hoje paga-se qualquer fumante de crack para tomar conta da vítima. “Esses (os ‘carcereiros’) são os piores homens da quadrilha. Fazem barbaridades com a vítima. Os grandes seqüestradores armavam esquemas diferentes, tinham pessoas ‘profissionais’ do cárcere.”

O resultado do amadorismo tem sido observado no desfecho dos últimos seqüestros. Não é único o exemplo trágico da empresária de Ribeirão Pires Rosa Maria Vera Magnani, de 61 anos, encontrada morta há uma semana com quatro tiros na cabeça, perto da rodovia SP-122 (Ribeirão Pires – Paranapiacaba), após passar dez dias nas mãos de seqüestradores. A polícia afirma que a família da empresária havia pago o valor do resgate.

Em seqüestro ocorrido em julho do ano passado, a também empresária Luana (nome fictício), de São Bernardo, passou fome, três dias sem beber água e ainda sofreu violência sexual de um dos carcereiros (leia relato da vítima na página 3). No mesmo mês, o vendedor de Santo André A., de 44 anos, sofreu espancamento em cativeiro na zona Leste da capital, enquanto a quadrilha negociava resgate com a família.

Entre outros casos violentos, destaca-se o de Emile Perez de Souza, de 10 anos, de Rio Grande da Serra, arrebatada em outubro de 2004 por criminosos totalmente amadores no mundo do crime e maltratada até ser morta com três facadas no coração. Com medo, os seqüestradores da menina não conseguiram nem fazer pedido de resgate.

O promotor de Justiça Luiz Kok Ribeiro, secretário-executivo das Promotorias Criminais de São Bernardo, afirma que houve uma banalização do crime de seqüestro. “Cada vez mais ladrões comuns se aventuram na prática do seqüestro e exigem quantias baixas.” Muitas vezes, bastam R$ 20 mil para pagar seqüestradores – o que não garante integridade física da vítima.

Assaltar banco está cada vez mais difícil em razão da evolução das tecnologias de segurança nesses estabelecimentos. O assalto na rua é arriscado para o criminosos, pois ele anda armado e pode ser pego antes mesmo de praticar o crime. Também não compensa financeiramente. Por isso, segundo a polícia, os ladrões cada vez mais vêem no seqüestro a oportunidade de pôr a mão em dinheiro suficiente para alguns meses ou anos.

O promotor criminal de Justiça Claudionor Mendonça dos Santos, de Santo André, diz que a atual popularização do seqüestro também está relacionada às crises econômicas passadas pelo país e à falta de emprego. “Antes, os seqüestros realmente eram mais sofisticados. A inexperiência dos seqüestradores de hoje aumenta as chances de a vítima perder a vida”, diz o promotor.

Métodos – A polícia observa que a quadrilha seqüestradora geralmente utiliza uma pessoa próxima à vítima como informante. Pode ser parente, funcionário, vizinho ou amigo, entre outros. Muitos casos ocorrem porque alguém ficou sabendo que determinada pessoa vendeu um terreno ou um imóvel e, portanto, tem um dinheiro livre na mão. “Mas o seqüestro também pode ser motivado por vingança ou simplesmente inveja”, diz o investigador chefe da Anti-Seqüestro de Santo André, Gilberto Teixeira.



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