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Grupo pede Caminho do Mar como patrimônio da Unesco

Complexo de oito quilômetros, localizado entre S.Bernardo e Cubatão, completará 100 anos em 2022

Por Bianca Barbosa
Especial para o Diário
22/01/2018 | 07:00
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Nario Barbosa/DGABC


No intuito de proteger parte importante da história brasileira, grupo formado por integrantes de conselhos de defesa do patrimônio iniciam campanha para que o Caminho do Mar, na divisa entre São Bernardo e Cubatão – totalizando percurso de oito quilômetros –, seja reconhecido pela Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) como patrimônio mundial. Em 2022, o complexo, em meio à vegetação da Mata Atlântica e que esconde monumentos e construções de épocas fundamentais para o desenvolvimento do País, completará 100 anos de existência.

Devido à sua importância cultural e histórica, a área é tombada pelo Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo) desde 1972. No entanto, o presidente do Condepac (Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Cubatão), Rubens Brito, destaca que o Caminho do Mar atende a todos os requisitos da Unesco: importância histórica, estética, arqueológica, científica, etnológica ou antropológica para que mereça estar entre patrimônios que devem ser protegidos e conservados.

“Em 2010, tivemos a visita de vários especialistas na área de patrimônio no Caminho do Mar. As maiores autoridades da Europa atestaram a importância desse conjunto”, destaca Brito. Isso porque as construções representam a história do Brasil, já que retratam a passagem dos bandeirantes e a arquitetura local. A própria Rodovia Caminhos do Mar, mais conhecida como Estrada Velha de Santos, é uma referência. Mais antiga ligação entre o Litoral e a Capital, foi pavimentada em 1913, tornando-se a primeira estrada asfaltada da América Latina.

Para fortalecer a campanha rumo à preservação, integrantes do grupo pretendem agendar, após o Carnaval – 13 de fevereiro –, reunião entre representantes das prefeituras de Cubatão e São Bernardo. “A luta deve unir Cubatão e o Grande ABC. Os monumentos, a rodovia e a usina são importantes para os dois municípios”, afirma o ouvidor público Dojival Vieira, que também integra o grupo.

Além dos monumentos da rodovia, a campanha também defende o tombamento do sistema Henry Borden (usinas e vila operária). O complexo demorou seis anos para ficar pronto. Atualmente, opera com o mínimo possível – cerca de 34 MW –, mas está pronto para ajudar, como já ocorreu em situações isoladas, como o blackout de 2011. “A usina teve importante contribuição ao Estado em 1925, quando a Capital e o Grande ABC sofriam com a escassez enérgica. Salvo engano, existem apenas três hidrelétricas como ela no mundo”, acrescenta Brito.

Visita leva em torno de cinco horas

Quem vê a Serra do Mar de longe não imagina o tesouro guardado em meio à Mata Atlântica. Para percorrer os cerca de oito quilômetros de atrações, o visitante demora cerca de cinco horas. Desde 2015, o Caminho do Mar é cuidado pela Fundação Florestal, do governo do Estado, e, por isso, a entrada no local demanda agendamento prévio e pagamento de R$ 31. Somente no ano passado, o local recebeu 14.064 pessoas.

Gestor do parque, Nilton de Oliveira Peres destaca que as formalidades são necessárias para a preservação. “Houve um tempo em que não era preciso ter guia para acompanhar as visitas, mas as pessoas começaram a arrancar azulejos e a jogar lixo. Para não virar bagunça, adotamos esse método”, diz.

São diversos os monumentos e casarões para apreciação. Destaque para a Casa de Visitas, em estilo bangalô e que recebia funcionários da usina Henry Borden.

Além dela, o Pouso Paranapiacaba, ou Casa de Pedras, também chama a atenção. O local foi construído em 1922, 100 anos depois da Independência do Brasil, e possui bela vista para São Vicente e Praia Grande.

Parte da Calçada do Lorena, originalmente com oito quilômetros, pode ser visitada no parque. Cerca de 200 metros do piso original, feito de pedras de cachoeira, podem ser percorridos. Reza a lenda que por lá passou dom Pedro I a caminho do Ipiranga, na Capital.

Outra construção homenageia o príncipe regente. Trata-se do Rancho da Maioridade, que lembra os fortes portugueses, coberto por pedras. O local funcionava como segunda parada da rodovia, para resfriar os motores dos primeiros automóveis.

Há ainda o Padrão Lorena, monumento em arco, marcado pela única curva que restou da pavimentação original da rodovia, e o Cruzeiro Quinhentista, homenagem às embarcações que chegavam do porto de Santos.

A última restauração do local ocorreu em 2005. Por isso, é possível perceber problemas, como telhas e vidros quebrados. Há, entretanto, promessa de reforma, sem prazos. 




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