Cinco títulos mundiais, quatro da Eurocopa e duas camisas que botam medo em qualquer outra seleção. O clássico entre Espanha e Itália, os dois últimos campeões do mundo, hoje, às 16h, no Estádio Castelão, em Fortaleza, reúne alguns dos melhores jogadores do planeta e times que têm razões mais do que suficientes para entrar em campo motivados a conseguir vaga na final da Copa das Confederações, contra o Brasil, domingo, no Maracanã.

Muito mais do que a chance de ir à final, outra decisão no premiado currículo espanhol, vencer a Itália significaria ter a grande chance de, finalmente, encarar o Brasil e coroar campanha fantástica, que soma 28 jogos consecutivos desde 2010 sem derrotas, a maior série da história, mas que durante o percurso não teve duelo contra os brasileiros.

Do outro lado, os desprestigiados italianos não admitem, mas estão engasgados com a humilhante derrota na final da Eurocopa 2012, quando caíram por 4 a 0 e querem dar o troco, além de derrubar equipe considerada imbatível.

Por tudo isso, o torcedor que comprou ingresso deve assistir a um jogo de alto nível técnico e muito disputado taticamente, no qual um detalhe pode fazer a diferença, tanto que os dois treinadores esconderam o que puderam dos times nos trabalhos durante a semana.

Sabendo que o forte da Espanha é o envolvente toque de bola, o técnico italiano Cesare Prandelli deve congestionar o meio de campo, escalando seis homens no setor, além de três zagueiros. Nesse esquema, ele sacrifica o atacante Gilardino – escolhido para ocupar a vaga deixada por Balotelli –, que ficará isolado no ataque.

“Não existem muitos segredos entre essas duas equipes. Sabemos que ele são os melhores do mundo, mas creio que nos últimos anos a Itália foi quem conseguiu ameaçá-los”, comentou Prandelli, lembrando que, além da derrota na final, o outro confronto na Euro 2012 terminou 1 a 1.

Na Espanha, Vicente Del Bosque não revelou se poderá contar com Fábregas e Soldado, que não participaram dos últimos treinamentos. “Eles me parecem muito bem, mas temos que fazer algumas avaliações para saber se poderão jogar”, limitou-se a dizer o treinador espanhol, que não confirmou o retorno de Casillas ao gol. “Ainda não decidi qual goleiro começará jogando como titular”, despistou.

Espanha ou Itália, difícil imaginar quem vai ganhar. O jogo tornou-se ainda mais imprevisível diante das disposições táticas das seleções, mas, seguramente, vitorioso saíra o torcedor brasileiro, que vai ver de pertinho um dos maiores clássicos mundiais.

Simpático e sincero, Prandelli diz que rival é mais completo e ensina receita para surpreender

Cesare Prandelli tem estilo bem diferente do seu adversário de hoje, o espanhol Vicente Del Bosque. O italiano cativa com seu jeito sincero, além de tentar responder às perguntas da forma mais completa possível.
Experiente, ele sabe que vencer a Espanha é uma das tarefas mais difíceis, já disse por várias vezes que o rival é o favorito, e tem na ponta da língua a diferença entre os times.

“A Espanha reuniu nesses últimos anos uma equipe fantástica. Não é um time, mas 23 jogadores tecnicamente perfeitos, enquanto nós estamos conseguindo lentamente formar grupo com qualidade”, explicou o italiano.
Para vencer, o técnico tem a receita: “É preciso ter coragem para atacar, responsabilidade, além de vigor físico”, finalizou.

De poucas palavras, Del Bosque minimiza ausência de Balotelli e evita clima de revanche

Não pergunte a Vicente Del Bosque o time que ele vai mandar a campo e nada sobre a Copa do Mundo. Aliás, se possível, não questione o treinador espanhol porque ele, definitivamente, não gosta de responder.
Carrancudo e de poucas palavras, ele evita antecipar os fatos e adota cautela extrema até mesmo com a óbvia classificação da Fúria para a Copa do Mundo de 2014.

Sobre o jogo contra a Itália, o treinador evitou a euforia do ‘já ganhou’ e enalteceu a força do adversário mesmo sem Balotelli. “É preciso entender que a Itália tem ótimos jogadores e vai conseguir suprir a falta do atacante”, comentou o técnico, que evitou comparar o jogo à final da Eurocopa 2012. “É totalmente diferente, outro clima aqui no Brasil.”

Espanhóis têm o primeiro grande teste sob o forte calor de Fortaleza
Incomodados, jogadores sugerem partidas à noite; já italianos evitam usar clima como desculpa

A superioridade da Espanha durante a primeira fase da Copa das Confederações foi tão grande que a equipe chegou ao ponto de se poupar em alguns momentos para evitar o desgaste físico por conta do calor – na segunda rodada, aliás, o time atuou com os reservas. Por isso, o confronto de hoje com a Itália é encarado como grande teste não só técnico, mas principalmente físico, para um time que esbanja toques rápidos o tempo todo.

Sem esconder o desconforto com a alta temperatura, que vem ultrapassando facilmente os 30ºC, os espanhóis sugeriram à Fifa marcar os jogos da Copa do Mundo de 2014 no período noturno. “Sim, atrapalha muito. O ideal seria jogar à noite, por volta das sete horas (19h), no Mundial. Não estamos acostumados a temperaturas tão altas e clima tão úmido. Isso prejudica também a Itália e quem perde ainda mais com tudo isso é o espetáculo”, comentou o lateral-direito Arbeloa.

O técnico Vicente Del Bosque já havia dito que alguns jogadores sentiram demais a alta temperatura nas últimas partidas e caíram de rendimento nos instantes finais alegando cansaço. A grande preocupação do treinador é com a repetição da situação, agora contra um adversário muito mais poderoso, o que pode comprometer a classificação para a final. “Precisamos dosar o nosso ritmo e ter equilíbrio no jogo”, sugeriu o espanhol.

Do outro lado, os italianos evitaram reclamar das altas temperaturas em Fortaleza e contemporizaram para não usar como desculpa em caso de derrota para Espanha. “Isso é ruim para os dois times. Se estamos sentindo, com certeza os espanhóis também estarão”, avaliou o goleiro Buffon.

Mais do que o clima diferente ao que os jogadores estão habituados na Europa, o técnico italiano Cesare Prandelli chamou atenção para os longos deslocamentos que o time precisou fazer, ao atuar no Rio de Janeiro, depois Recife e Salvador na primeira fase e agora Fortaleza. “É muito cansativo. Viagens muito longas entre um jogo e outro, mas isso não tem muito como corrigir. Temos que aproveitar o máximo do tempo para descansar”, comentou o treinador.

Apesar do calor, tanto espanhóis como italianos garantiram que o Brasil está preparado para receber a Copa do Mundo de 2014. “Fomos muito bem recebidos aqui e não tenho nada a reclamar das condições que nos deram para trabalhar”, avaliou o técnico espanhol Vicente Del Bosque. “Está ocorrendo tudo dentro do planejado. É um grande teste e tenho certeza de que o Brasil estará ainda mais preparado durante a Copa do Mundo”, completou Cesare Prandelli.

Sergio Busquets tem a missão de brecar Pirlo

A chave da vitória espanhola hoje contra a Itália passa pelos pés do volante Sergio Busquets, um dos poucos jogadores com características defensivas da Espanha. Ele terá a ingrata missão de anular o meia Pirlo, principal homem de criação dos italianos em campo.

“Não será fácil. Pirlo é um jogador sensacional, que tem um ótimo passe longo e sabe bater faltas muito bem, como vimos na primeira fase. Temos que tirar o espaço dele, mas nos preocupar com os outros jogadores também”, avaliou o atleta do Barcelona.

Busquets aproveitou para elogiar os outros meias italianos que, segundo ele, podem definir o jogo. “Temos que tomar cuidado também com o Giaccherini e Marchisio, que não têm a mesma visibilidade do Pirlo, mas são jogadores que chegam o tempo todo ao ataque. Isso sem contar com o Gilardino”, ressaltou o volante, referindo-se ao substituto de Mario Balotelli.

Outro atleta do sistema defensivo espanhol, o lateral-direito Arbeloa chamou atenção para o espírito dos adversários, que devem estar mordidos após a derrota na final da Eurocopa 2012. “Todo nós sabemos que cada partida é uma história diferente. Eles certamente têm uma motivação enorme. Não sei se existe uma vontade de revanche, mas com certeza uma vontade de mostrar que aquilo que aconteceu na Euro foi um acidente do futebol”, comentou o jogador do Real Madrid.

Italianos jogam favoritismo para o lado do adversário

Os italianos foram unânimes ao garantir que a Espanha é a favorita no clássico de hoje. Para o técnico Cesare
Prandelli, a força coletiva da Fúria faz a diferença e esse é o principal ponto a ser anulado.

“Assim como nós, a Espanha atua com apenas um atacante de fato, mas temos de entender que os meias deles são inteligentes o suficiente para ocupar todos os espaços do campo e isso causa enorme volume de jogo. Isso sem contar na qualidade do passe e no entrosamento dos jogadores”, comentou o treinador italiano.

Líder do time, o goleiro Gianluigi Buffon, 35 anos, foi sincero ao avaliar a condição do adversário. “Se eu disser que a Itália é favorita, mostraria muito otimismo. Pareceria até um pouco louco. Quando você joga contra a Espanha é um pouco difícil não achar que ela é favorita. É a melhor seleção há bastante tempo, é a favorita se olharmos apenas os resultados”, comentou.

Buffon, aliás, vem sendo alvo de críticas da imprensa italiana, principalmente após as falhas contra o Brasil. “Realmente errei na falta cobrada pelo Neymar, mas acho que tenho acertado bem mais do que errado. Como sempre digo, ainda bem que temos mais um jogo pela frente para podermos fazer as coisas diferentes e melhorar”, respondeu o jogador da Juventus.

Atletas da Fúria desconversam sobre polêmica com mulheres

Era inevitável. Entre uma pergunta e outra na entrevista o assunto ainda era a polêmica que os espanhóis se meteram na madrugada de segunda-feira, quando tentaram levar mulheres ao hotel onde estão concentrados, em Fortaleza, e foram barrados pela segurança.

Questionados se as informações partiram com o intuito de desestabilizar o ambiente, tanto o técnico Vicente Del Bosque como o lateral-direito Arbeloa e o volante Sergio Busquets deram resposta padrão: “A Federação Espanhola emitiu nota a respeito. Não temos nada a acrescentar.”

No comunicado, a entidade desmentiu as informações de festa e mulheres em Recife, onde a seleção enfrentou o Uruguai, como a tentativa de entrar com garotas de programas no hotel em Fortaleza.

A única informação confirmada pelos espanhóis foi o furto que teria acontecido em Recife. “Seis dos jogadores da seleção foram objeto de furto no hotel de concentração em Recife durante o período do jogo Espanha e Uruguai, correspondente à Copa das Confederações. Esse fato foi denunciado prontamente para a polícia brasileira”, diz o comunicado.

O caso segue sob investigação em Pernambuco e os nomes das pessoas que são acusadas do roubo no hotel não foram divulgados para não atrapalhar as investigações.