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Estado de saúde de Tortorello agora é mais grave
Por Daniel Lima
Do Diário do Grande ABC
24/11/2004 | 09:54
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O prefeito de São Caetano, Luiz Tortorello (PTB), está internado há uma semana no Hospital Albert Einstein, em São Paulo. O quadro clínico é dramático. O Diário assume essa informação relevante para a atividade econômica e pública de São Caetano depois de ouvir três fontes de informação que acompanham atentamente a saúde do prefeito cujo mandato se encerra no próximo dia 31 de dezembro. Familiares evitam comentar o assunto, mas a internação do chefe do Executivo e a extensão da gravidade dos problemas intestinais que o acometem não deixam margem a dúvida, entre outras razões porque parte do tratamento se verifica com o uso de aparelhos respiratórios.

A direção do Hospital Albert Einstein não confirma a internação do prefeito de São Caetano, mas a medida é puramente de ordem ética. Sempre em situações de pacientes com notoriedade, cujos familiares solicitam discrição, o comando do hospital utiliza ferramental específico de dissimulação. A identidade de Luiz Tortorello foi retirada da lista pública de pacientes e os familiares e amigos mais próximos só têm acesso às dependências por meio de senha específica.

Também assessores e secretários municipais de São Caetano evitam comentários sobre as condições de saúde do prefeito. Procura-se cercar de absoluto sigilo a situação do enfermo. Entretanto, não há dúvida alguma sobre a deterioração clínica nos últimos 10 dias. Luiz Tortorello não está reagindo ao tratamento a que se submete já há quase dois meses. A perda de peso é visível e os efeitos colaterais já se manifestam.

Embora a morbidez do tema seja constrangedora, admite-se até a possibilidade de o prefeito não completar seu terceiro mandato à frente do município de melhor qualidade de vida no Brasil. Tortorello foi reeleito em 2000 com a maior votação proporcional que se conhece na história dos municípios do Grande ABC, quando obteve 78% dos votos válidos. Procurado para falar sobre a possibilidade de não contar com Tortorello em sua posse, por morte ou impraticabilidade de locomoção, o prefeito eleito José Auricchio Júnior (PTB) preferiu mandar recado por meio de sua assessoria: não comentará o assunto.

A enfermidade de Luiz Tortorello é interpretada como elemento a mais de complicação à sucessão de José Auricchio. Mas também é avaliada como enorme possibilidade de autonomia do prefeito eleito. Trabalha-se uma das vertentes de que a ausência de Tortorello é inescapável e que, portanto, provocaria rearranjos nas forças de sustentação do Paço Municipal. Outros, mais precavidos ou otimistas, preferem falar de Tortorello no presente, como poderoso condutor da campanha de Auricchio e, recuperado, atuando como amálgama paralelo da administração pública.

Nem sobre essas variáveis José Auricchio Júnior se dispõe a conversar. Sabe-se, entretanto, por assessores informais, que o prefeito eleito tem preferido postergar eventuais convites para a definição do secretariado e de outros postos-chaves de São Caetano, na expectativa de que o quadro clínico de Luiz Tortorello apresente definição em curto prazo. Articuladores da campanha de José Auricchio afirmam que o prefeito eleito tem dificuldades em teorizar sobre o que será sua administração com Luiz Tortorello entregue a tratamento de saúde mais prolongado e, principalmente, vítima fatal da enfermidade. Auricchio teria afirmado que projetar medidas sob a condicionalidade de qualquer uma das duas situações seria desagradável e pouco ético. Ele preferiria - e aí o prefeito eleito se pronuncia sem contratempo - que Luiz Tortorello esteja em sua posse tão cheio de vida quanto há pouco mais de dois meses, quando o apoiava na campanha eleitoral.

O Diário transformou em manchete principal de primeira página em 6 de novembro a revelação de que Tortorello poderia estar acometido de doença estomacal. A decisão de veicular a informação foi tomada depois de se constatar que havia onda de boatos sobre a enfermidade do prefeito. Falava-se de tudo, inclusive que Tortorello estaria rigorosamente saudável. A notícia só foi veiculada depois que o Diário obteve de fontes seguras e próximas aos familiares que o quadro clínico do prefeito requeria sérios cuidados.

O Diário resolveu, então, investigar mais de perto a rotina do prefeito. Postou repórter e fotógrafo nas imediações da residência de Tortorello, no bairro Olímpico, em São Caetano, e se deslocou também ao Paço Municipal. A movimentação de médicos e paramédicos no domicílio do prefeito e a quebra da rotina administrativa no Paço Municipal confirmaram suspeitas de que Luiz Tortorello não obedecia a regularidade de agenda convencional de chefe do Executivo de um município cuja transposição de comando exige série de encontros.

A manchete de primeira página daquela edição de sábado foi seqüenciada por novas abordagens nos dias seguintes até que, na edição de quinta-feira, 11 de novembro, o Diário estampou uma nova notícia sobre Tortorello, agora de entrevista do prefeito fruto de negociação com o Diário. Tratou-se de trégua de dois dias sugerida pelo irmão Antonio de Pádua Tortorello, depois da confirmação de que o prefeito estava adoentado. Nesse breve período, o jornal desativou o esquema de observação dos passos do prefeito e em troca recebeu a garantia de que o próprio prefeito transmitiria dados sobre seu estado clínico.

Na entrevista ao Diário, um abatido Tortorello disse ser vítima de hepatite C. Estava decidido a eliminar a possibilidade de que não nutriria projetos políticos depois de deixar o Paço Municipal, em janeiro. Tortorello garantiu que seu problema de saúde é contornável e reiterou intenções de se preparar para disputar uma vaga a deputado federal em 2006. Também fez abordagens sobre a administração de José Auricchio Júnior, garantindo que não pretenderia se interpor entre o prefeito eleito e o secretariado. "Posso ajudar com idéias. Quero ficar livre para cuidar da candidatura em 2006", afirmou o prefeito.

A postura do Diário em relação à situação do prefeito de São Caetano volta a se alterar, depois de praticamente duas semanas de completo afrouxamento do sistema de observação que se seguiu à entrevista de Luiz Tortorello. A importância de relatar com absoluta confiabilidade os desdobramentos da internação médica é medida de absoluto respeito ao chefe do Executivo e de responsabilidade social deste veículo, sobretudo para impedir a massificação de informações divorciadas da situação real. O Diário conta com fontes absolutamente confiáveis para sustentar noticiário que demarque a enfermidade do prefeito como diagnóstico jornalístico a salvo de especulações nem sempre respeitáveis, quer no sentido de que se pintam cores excessivamente róseas, quer porque se projetam sombras exageradamente obscuras.

A gravidade do estado de saúde de Luiz Tortorello é uma má notícia, mas é um fato inquestionável, por mais discreto e eficiente que seja o padrão de blindagem do Hospital Albert Eistein.




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