Economia Titulo Seu bolso
Bradesco corta juros do
cartão de crédito em 54%

Banco é pioneiro entre privados na queda generalizada a seus
clientes; o mercado deve acompanhar ritmo e baixar os juros

Pedro Souza
Do Diário do Grande ABC
24/09/2012 | 07:30
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O Bradesco pisou mais no acelerador em relação aos seus concorrentes privados na corrida do setor de cartão de crédito. Ontem, o diretor executivo da instituição financeira, Marcelo Noronha, afirmou que a partir de 1º de novembro o rotativo de todos os plásticos que administra, cerca de 95 milhões de unidades, terá juros na casa de um dígito, com taxa máxima de 6,9% ao mês.

Atualmente o banco cobra taxa máxima de 14,9% ao mês pela modalidade, portanto, haverá redução de 54% no percentual. "Nenhum cliente será prejudicado no que se trata aos benefícios que têm nos cartões", garantiu Noronha, durante teleconferência, na qual destacou que a medida não ocorrerá por pressão do governo federal.

O diretor executivo de estudos financeiros da Anefac (Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade), Miguel Ribeiro de Oliveira, destacou a importância da iniciativa do banco. "De modo generalizado, ou seja, para todos os seus clientes de forma única, o Bradesco é a primeira instituição que realmente reduz drasticamente os juros do cartão de crédito."

Miguel coordena a pesquisa de juros da Anefac. Todos os meses são publicadas as taxas médias das operações de crédito das 30 maiores instituições financeiras do País. Com as recentes quedas da Selic, que está em 7,5% ao ano, a maioria dos bancos que atende os consumidores diminuiu seus juros mínimos e máximos de várias operações. Mas o estudo ainda não captou mudança na média do custo do rotativo dos cartões.

"Os bancos mudaram taxas mínimas e pouco as máximas, que continuam em patamares altos. Muitas dessas quedas são vinculadas a algum tipo de pagamento de pacote ou serviço (que não atendem a todos os clientes)", disse Oliveira.

Noronha destacou que o Bradesco estuda a mudança desde o ano passado. Esta contemplou também a taxa mínima do rotativo, que passou de 2% ao mês para 1,9%. O executivo enfatizou a presença do banco na construção de um setor de cartões consistente no País. Estimou elevar a base de clientes e o faturamento com a alteração. E justificou o novo caminho com o movimento de um dos principais motores dos juros. "A inadimplência está controladíssima no banco", garantiu.

Atualmente os juros são construídos com base no spread bancário, que é a diferença entre o custo de captação do dinheiro para o banco e o quanto ele cobra para emprestar na ponta. Esse elemento é formado por quatro pilares básicos. São eles a previsão de inadimplência, o custo administrativo, o lucro do banco e a carga tributária.

O soco do Bradesco no estômago da concorrência privada deve gerar resultados positivos aos usuários dos plásticos. "Acredito que os demais bancos não vão querer perder mercado, portanto deverão acompanhar essa baixa nos juros", opinou Oliveira.

Para o professor do laboratório de finanças da FIA Keyler Carvalho Rocha, o mercado mudará pela concorrência. "Os outros bancos vão acabar fazendo o mesmo (reduzindo drasticamente as taxas máximas do plástico). Eles não vão correr o risco de perder cliente", comentou. A mudança do mercado não deve levar muito tempo, na avaliação do especialista. Isso porque as instituições vão correr atrás do tempo perdido, tendo em vista que o Bradesco saindo na frente fortalece ainda mais o marketing de sua redução de juros.

"Mesmo 54% menor, essa taxa está muito alta em relação ao cenário mundial. Se você tem 6,9% ao mês, é o mesmo que 122% ao ano, o que é elevadíssimo próximo de uma inflação entre 5% e 6% ao ano", completou Rocha.

O professor de Finanças do Insper, Alexandre Chaia, apresenta preocupação com a contrapartida que o banco fará. "Ninguém vai abrir mão de uma receita de 14% de juros para 7% de juros. Provavelmente a instituição vai compensar isso em tarifas para alguém."

 

HSBC e Santander estudam medida para mexer em suas taxas

Após o Bradesco anunciar a queda de 54% em sua taxa de juros no crédito rotativo para todos os clientes, HSBC e Santander, dois dos maiores bancos privados que atendem o consumidor, afirmaram que estudam alterar o custo dos empréstimos em seus plásticos.

Itaú Unibanco, por sua vez, respondeu que já entrou nesta competição com o produto lançado em agosto, o Itaucard 2.0, cuja taxa de juros é fixa em 5,99% ao mês. Mas é necessário que o cliente peça o plástico na agência, que não cobrará tarifas pelo produto.

PÚBLICOS - No fim de agosto, o Banco do Brasil, de capital misto, anunciou redução no rotativo de 58%, deixando a taxa máxima em 5,7% ao mês. Para os clientes que aderirem ao pacote de benefícios, que prevê o recebimento do salário no banco, o percentual do teto foi para 2,88%. Antes, todos chegavam a 13,54% ao mês no máximo.

A Caixa Econômica Federal não tem previsão para novas alterações. Mas apontou, por nota, que o rotativo mais caro no banco custa 5,65% ao mês. Em junho, a instituição pública tinha anunciado que todos os clientes teriam a opção de parcelamento no cartão de crédito com juros máximos de 1,9%.

Ontem, o Bradesco também informou que diminuirá os juros das operações parceladas no cartão de crédito a partir do dia 1º de novembro. Conforme a instituição financeira, o percentual passará de 8,9% ao mês para 4,9%.

 

Jovens da classe média pedem mais os novos plásticos

Consumidores que estão entre a baixa renda e a classe B. Este é o perfil das pessoas que mais entraram no mercado de empréstimos por meio do cartão de crédito neste ano, revela pesquisa da Serasa Experian.

Com base em 300 mil CPFs, no primeiro trimestre, a empresa chegou a conclusão de que 57,6% dos consumidores, cujos documentos foram consultados pela primeira vez para uma proposta de cartão de crédito, têm renda que varia entre R$ 500 e R$ 1.000.

No mesmo período em 2010, a fatia que essa faixa de rendimento mensal ocupava no universo pesquisado era de 51,7%. No ano passado, segundo a Serasa, a representatividade saltou para 55,8%.

MAIS NOVOS - E os que mais solicitaram cartões de crédito, pela primeira vez, no primeiro trimestre, foram jovens trabalhadores de baixa renda, na informalidade, com pouca qualificação, excluídos do sistema financeiro, estudantes e integrantes de famílias que residem nas periferias.

Segundo o estudo da Serasa, o Periferia Jovem, como é denominado o perfil dentro da pesquisa, foi responsável por 42% das consultas de CPFs para algum tipo de propostas dos plásticos pela primeira vez. O resultado é inferior ao registro dos primeiros três meses do ano passado, quanto eram 43%, e de 2010, época em que a fatia era de 45%.

 




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