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Gripe pode esconder
doença pulmonar crônica

Sintomas são confundidos por médicos e pacientes; pesquisa
mostra que no Brasil, 40 mil morrem por DPOC todos os anos

Maíra Sanches
Do Diário do Grande ABC
03/09/2012 | 07:00
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Falta de ar, cansaço e tosse crônica com catarro são sintomas facilmente relacionados à gripe ou resfriados passageiros. É comum pacientes e até médicos, tanto da rede privada quanto da pública, confundirem os sintomas.

O problema é que, quando os sinais são associados ao tabagismo, a chance de o diagnóstico apontar a existência de DPOC (Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica) é quase certa. O alerta vale especialmente àqueles que são fumantes, têm entre 35 e 40 anos e carregam o vício diário desde a adolescência. Sintomas iniciais, como a tosse constante e falta de ar, podem ser indícios de bronquite crônica. A doença, associada ao enfisema pulmonar, que surge por volta dos 50 anos ou mais, é conhecida como DPOC. A junção dos dois males mata anualmente 40 mil brasileiros por ano - ou uma pessoa a cada quatro horas. O levantamento foi divulgado na semana passada pela SBPT (Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia). Em 2020, segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde) a doença será a terceira principal causa de morte no mundo.

A dificuldade para ter acesso ao diagnóstico correto é refletida nos números divulgados pela entidade. Atualmente, estima-se que 7,6 milhões de brasileiros tenham a doença, mas apenas 350 mil tenham conhecimento e estejam em tratamento. "Se o paciente não reconhecer esses sintomas, não chegará ao médico. E se os médicos não souberem perguntar, vão receitar xarope para tosse e o paciente não fará o exame", explica o pneumologista José Jardim, da Escola Paulista de Medicina. Muitos pacientes, inclusive, chegam ao hospital com problemas cardiovasculares causados pela DPOC. Estes recebem remédios para o coração, mas não têm a doença pulmonar diagnosticada.

Para tentar solucionar o problema, é preciso facilitar o acesso ao exame de espirometria, que mede o fluxo do ar colocado para fora dos pulmões. No Grande ABC, segundo a Secretaria Estadual de Saúde, há dez aparelhos de espirômetros. Porém, em todo estado do Maranhão, por exemplo, há dois equipamentos. Em Rondônia, apenas um.

Para o presidente da SBPT, Roberto Stirbulov, é preciso unir esforços em diversas frentes para mudar o cenário atual. "Precisamos de políticas públicas de esclarecimento à população e programas de educação continuada aos médicos. Mas, sabemos que mudança de paradigma não acontece de um dia para o outro."

 

TRATAMENTO

O mais importante para prevenir a doença é não fumar. Cerca de 80% dos casos de DPOC são causados pelo cigarro. Porém, em casos irreversíveis, o tratamento é feito a base de medicações e exercícios físicos. Apesar de prevenível e tratável, a doença não tem cura. Os remédios broncodilatadores ministrados servem apenas para conter o avanço da doença e aumentar o fluxo aéreo nos pulmões.

 

Doentes praticam exercícios para recuperar musculatura

 

Foi há sete anos que o aposentado Iroshi Ishida, 70 anos, hoje morador de Santo André, sentiu os primeiros sintomas da DPOC. Fumante por 50 anos, estava no Japão e trabalhava na linha de montagem de uma indústria que produzia marmitas. "Para chegar ao vestiário precisava subir três andares. Um dia não consegui mais."

Ainda no país oriental, Ishida recebeu o diagnóstico da doença pulmonar crônica e começou a tomar remédios para frear a evolução da moléstia. Em 2008, retornou ao Brasil e logo foi encaminhado ao setor de Reabilitação Pulmonar da FMABC (Faculdade de Medicina do ABC), em Santo André. Desde então, o aposentado não falta às três sessões semanais de exercícios realizadas no campus da faculdade, sob orientação de equipe multidisciplinar. "Estou bem mais disposto. Até voltei a socializar. Era muito calado", revela.

Uma das principais características da DPOC é a fadiga muscular. O atrofiamento é resultado do esforço contínuo feito para respirar. Por isso, é normal que os doentes percam peso. Assim como o Ishida, o aposentado de Mauá Antonio Moreira da Silva, 73, também luta contra os avanços da doença. Ele chegou a pesar 39 quilos e precisou do apoio da família para reagir. "Achava que era uma gripe forte." Até o banho era interrompido por causa das crises de falta de ar.

Preocupados, os filhos pagaram uma consulta com pneumologista e o diagnóstico chegou em dezembro, quando finalmente largou o cigarro após 50 anos de consumo diário. A expectativa de vida era de seis meses. "O médico disse que, caso não parasse de fumar, não adiantaria tomar remédios. O vício me derrubou. Em quatro dias comecei a recuperar o fôlego." A esposa também largou o tabagismo e colaborou com a recuperação do marido.

A volta por cima conta com o mesmo apoio dos profissionais da FMABC, onde também realiza tratamento semanalmente com exercícios físicos. "Recuperei dez quilos. Voltei a ter prazer em viver. Estava isolado e recusava ajuda."

 




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