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Curioso vocabulário musical de Mato Grosso
Por Ângela Corrêa
Enviada a Cuiabá
18/09/2008 | 07:07
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Ao som particular da viola de cocho e sob a base percussiva do tamburi (ou mocho, espécie de tambor) e do ganzá (o reco-reco, em algumas regiões do Brasil), sérios senhores de chapéu, e grupos de mulheres e crianças em roupas coloridas reforçam anualmente em Cuiabá a tradição dos ritmos mais populares do Mato Grosso. É na capital que se realiza em agosto, por ocasião do mês do folclore, o Festival Cururu Siriri, que reúne 40 grupos de várias partes do Estado. Este ano, na 7ª edição, a organização comemorou a ampliação da festa, que teve quatro dias, um a mais que nas anteriores.

O cururu e o siriri são expressões diferentes para a mesma base de som que tem origem no sincretismo religioso e nas histórias rurais. O primeiro é de natureza quase que exclusivamente masculina, e não inspira passos de dança ritmados, enquanto que o siriri, surgido depois, permite mulheres e crianças, e, com isso, abre espaço para gestos que fazem balançar os saiões de chita.

"O cururu nasceu primeiro, era o momento em que os homens se reuniam para tocar. As toadas (as canções) traziam recados velados paras as moças. O siriri é mais livre, e surgiu quando as mulheres e crianças acompanhavam de longe, enquanto cantavam e dançavam", explica o secretário de Cultura de Cuiabá, Mário Olímpio Medeiros Filho.

Há quatro anos, porém, não é possível dizer que o cururu continua restrito aos homens. Por conta da ousadia da ceramista Domingas Leonor da Silva, 54 anos, quebrou-se um tabu. Presidente da Associação dos Grupos de Cururu e Siriri e moradora às margens do Rio Cuiabá, Domingas está envolvida na tradição desde a adolescência e é a única que consegue quebrar a sisudez dos cururueiros. "Eles achavam que eu não conseguiria compor como eles, mas mostrei que podia", diz ela, que, além de tocar viola de cocho e tamburi, escreve toadas e dança siriri no Flor da Ribeirinha, um dos grupos mais expressivos da cidade.

O movimento tem raiz indígena - "é daí que vem os pés descalços", explica Domingas. Mas, como muitas expressões pagãs, logo foi integrado à Igreja. É por isso que os grupos carregam estandarte de santo.

Nas arquibancadas montadas no Centro de Cuiabá, o clima se a assemelha aos desfiles de escola de samba, com direito a camisetas e dancinhas. Cada região do Estado apresenta um estilo bem particular de compor os ritmos. "Os do interior são mais rústicos", afirma o secretário.

As toadas têm como temas a relação com a natureza, a tal paquera escondida e citações religiosas, por vezes complicadas de entender. Até alguns anos, os grupos competiam por um prêmio em dinheiro. "Mas a rivalidade começou a ficar muito grande e decidimos eliminar a competição", conta Domingas. A idéia é levar essa cultura para além do Estado. Em 2009, uma amostra dessa arte matogrossense será apresentada no Centro Cultural São Paulo.




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