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Ex-fumantes ganham qualidade de vida
Por Caroline Garcia
Especial para o Diário
29/08/2012 | 07:00
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Denis Maciel/DGABC


Parar de fumar não é tarefa fácil. Ter vontade de largar o cigarro e deixar definitivamente o vício pode demorar décadas. Alguns conseguem parar sozinhos e de uma vez, outros vão diminuindo aos poucos a quantidade de cigarros e precisam até mesmo de ajuda médica para vencer a dependência.

De acordo com levantamento internacional divulgado neste mês pela revista médica The Lancet, o Brasil está entre os países com maiores índices de ex-fumantes. Segundo a pesquisa, 46,4% dos homens e 47,7% das mulheres afirmaram ter sido dependentes no passado e largado o cigarro.

"Fumar provoca a liberação de substâncias que causam prazer, chamadas neurotransmissores. Elas diminuem a ansiedade e modulam o humor por um curto período. Algumas pessoas têm como única fonte de prazer o cigarro, por isso é tão difícil quando decidem mudar o hábito", explicou o professor de Pneumologia da Faculdade de Medicina do ABC e coordenador do Ambulatório de Assistência ao Tabagista, Adriano César Guazzelli.

Quem fuma vive de cinco a dez anos menos do quem nunca adquiriu o vício. "Quem não consegue largar o cigarro tem 50% mais chances de morrer de doenças como câncer de pulmão, infarto do miocárdio, acidente vascular cerebral, enfisema e bronquite", destacou o médico.

NÚMEROS
Consumir um maço por dia, ou seja, 20 cigarros, equivale a fumar 7.300 vezes em um ano, dando mais de 70 mil tragadas. Com o passar do tempo, o excesso de fumaça e substâncias tóxicas prejudica o condicionamento físico do dependente. "Muitos cigarros são fumados automaticamente. Passam a ser acesos um atrás do outro, sem que haja prazer ou necessidade da droga (nicotina), apenas pela rotina adquirida ao longo do tempo", explicou Guazzelli.

O especialista destacou inúmeros benefícios em largar o cigarro, que vão desde a melhora no paladar, sono, respiração, até a diminuição da frequência cardíaca e pressão arterial. Mas, de acordo com o pneumologista, ninguém vira ex-fumante só pelo fato de ser cobrado por amigos e familiares. "A chave do sucesso está em motivá-los a pensar em ter uma vida melhor, algo que só a própria pessoa pode fazer, sem pressões, brigas ou chantagens."

Portanto, a decisão de parar de fumar tem de partir exatamente do fumante para que tenha sucesso. Conheça abaixo histórias de quem chegou lá.

Fumante social

A comerciante de Santo André Márcia Cristina Allegrette Corrêa, 46 anos, não se considera fumante, apesar de ‘fumar socialmente' quando encontra amigos. O vício começou por curiosidade, na adolescência, com amigos e namorado. Quando engravidou do primeiro filho, parou totalmente com o cigarro.

"Há 6 anos, abri uma loja de bolsas em São Bernardo e voltei a fumar. Acho que era ansiedade, uma forma de fuga, e me sentia mais relaxada." Nesta época, um maço dava para três dias.

Depois de dois anos, Márcia fechou a loja, e foi também a última vez que teve um maço na bolsa. "Não tenho cigarros em casa desde 2008 e não sinto a necessidade de tê-los."

O ponto fraco da comerciante é a praia. "É o único lugar em que realmente sinto vontade de fumar, mesmo que ninguém esteja fumando por perto. Não sei se é o clima ou a bebida que sempre acompanha o passeio."

A última vez que Márcia fumou foi há um mês. "Minhas amigas dizem que eu poderia parar de vez . Concordo com elas, mas é algo que não atrapalha minha vida e é só muito de vez em quando."

Dez anos de tentativas

Com 15 anos, o empresário de Santo André Eduardo Fernandes Firmiano, 41, já fumava. Começou por status, para não ficar diferente dos amigos. Só depois de 25 anos conseguiu largar o vício.

Há 1 ano e 3 meses sem colocar um cigarro na boca, Firmino perdeu as contas de quantas vezes tentou parar. "Por volta dos 30 anos, comecei a me sentir mais cansado que o normal, mal conseguia subir uma escada, ficava ofegante. Tentei largar diversas vezes, parava por dois ou três meses e voltava."

Somente depois de dez anos de tentativa, o empresário conseguiu se ver livre da dependência. "No começo, fumava um maço por dia e fui gradativamente diminuindo o número de cigarros. Quando parei, fumava pouco. Um maço dava para 3 ou 4 dias. Então não foi um baque."

Assim como a maioria dos ex-fumantes, a vontade persiste. "Sei que essas recaídas nunca vão acabar e o desejo de fumar nunca vai desaparecer, mas me mantive firme até agora e vou continuar assim."

Parar de uma vez também é possível

Após ser fumante por 20 anos, o bancário Ageu Ribeiro, 47 anos, de Ribeirão Pires, começou a se sentir cansado. O cheiro do próprio cigarro incomodava. Há seis anos, resolveu que fumaria pela última vez e parou totalmente com o vício.

"É uma dependência que escraviza desde a primeira tragada. A gente cria o hábito e não se dá conta. Quando vê, é um cigarro atrás do outro", disse o bancário, que fumava, em média, um maço por dia.

Depois que parou, Ribeiro ganhou peso e se sentiu mais ansioso, mas conseguiu controlar os sintomas. "Tenho amigos que pararam de fumar e ficaram muito nervosos. Para mim foi mais tranquilo, acho que é porque sou baiano", brincou.

O bancário também não se incomoda com pessoas fumando ao seu lado. "Até hoje sinto falta, mas sei que se colocar um cigarro na boca de novo, vai voltar tudo outra vez."

Decisão em conjunto

Há dois meses, o supervisor financeiro Bruno Gallonetti, 26 anos, de São Caetano, e a namorada Natália Nobeschi, 25, radialista e atriz, de Santo André, resolveram parar de fumar juntos.

Ambos começaram cedo. Ele aos 15, e ela aos 14. Natália deu uma trégua aos 20, quando sua filha nasceu, e voltou ao hábito depois de três anos. "O Bruno começou a sentir que o rendimento físico estava caindo. Meu problema nem era tanto esse, mas tinha que lavar a mão e passar perfume toda vez que ia brincar com a minha filha, porque não achava justo ela ficar com cheiro de fumaça", disse Natália.

A meta era parar de uma vez. "Até tentei diminuir gradativamente, mas não deu certo. Nesse tempo estruturei meu pensamento para colocar em prática a perda do hábito. Minha intenção é viver mais 70 anos e fumando seria impossível", afirmou Gallonetti.

O último cigarro foi difícil para o supervisor. "Tentei não pensar muito nisso. Acordei já sabendo que daquele dia em diante nunca mais daria uma tragada."

A vontade, assim como para todos ex-fumantes, nunca acaba. "É muito difícil e é preciso se manter forte. Mesmo tendo parado definitivamente há pouco tempo senti alívio, minha rotina mudou completamente", disse a namorada.

Os dois juntos gastavam cerca de R$ 150 por semana com o cigarro. Segundo Natália, esse dinheiro passou a ser usado para a programação cultural do casal. "Um cinema ou teatro de fim de semana é uma forma melhor de aproveitar o valor."




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