Setecidades Titulo Segurança pública
Polícia Civil atua com efetivo 30% menor

Levantamento de novembro aponta deficit de 680 profissionais entre as sete cidades

Bia Moço
Do Diário do Grande ABC
24/12/2018 | 07:00
Compartilhar notícia
Nario Barbosa/DGABC


 O ano está prestes a terminar e o cenário da Polícia Civil da região segue longe do ideal. Levantamento mais recente, de 30 de novembro, do Sindpesp (Sindicato dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo), aponta que a corporação tem deficit de 680 funcionários, ou seja, atua com efetivo 30% menor entre as sete cidades.

Em relação ao estudo anterior, feito em setembro, a falta de profissionais aumentou em 4% – foram abertos 24 postos. Enquanto a corporação precisaria ter, no mínimo, 1.648 agentes na região – conforme resolução 105, de 12 de julho de 2013, que foi revogada pelo governo do Estado em 2016, após questionamentos em relação à falta de trabalhadores da corporação –, somente 1.268 estão em atuação.

A situação mais complicada é observada na seccional de Santo André – que contempla também as cidades de Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra –, onde há deficit de 288 policiais. Entre os cargos, o mais prejudicado é o de carcereiro, tendo em vista que dos 159 postos previstos por lei, 114 estão em aberto.

A unidade de São Bernardo – atende São Caetano – tem 254 policias a menos em seu quadro. Já a seccional de Diadema precisaria de 138 trabalhadores para estar com a equipe completa.

Presidente do Sindpesp, Raquel Kobashi Gallinati acredita que o problema é causado pela falta de interesse política do governo do Estado. “Nos últimos 24 anos os governantes deixaram de investir como deveriam na Polícia Civil, não somente na contratação do efetivo, mas em itens básicos como a estrutura das delegacias, viaturas, coletes, helicópteros, enfim, quase tudo.”

Para Raquel, a situação no Grande ABC reflete o cenário estadual. “Há deficit de 680 policiais civis. Esse número é preocupante, eu diria que é inaceitável.”

PERÍCIA

No caso da Polícia Técnico-Científica – a região atua com apenas duas seccionais para atender as sete cidades –, há defasagem de 45 profissionais. A unidade de Santo André – atende Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra – deveria ter 36 peritos na equipe, mas trabalha somente com 17. Já o posto de São Bernardo – responde por São Caetano e Diadema – conta com 14 profissionais, ao invés dos 40 previstos em lei.

Presidente do Sinpcresp (Sindicato dos Peritos Criminais do Estado de São Paulo), Eduardo Becker avalia a situação como descaso por parte do governo de São Paulo. Para ele, o salário defasado – é o 24º no ranking dos municípios do País – e condições precárias de trabalho fazem com que o efetivo não consiga suprir as necessidades da comunidade.

Além disso, Becker destaca investimento represado de R$ 64 milhões, por parte do Estado, que seriam destinados à compra de materiais. “Só conseguimos trabalhar (perícia) se temos efetivo e equipamentos adequados. Enquanto não formos olhados pelo Estado, não há como atendermos melhor. Faltam profissionais e materiais de trabalho, e tudo isso prejudica, e muito, a atuação”, explica o perito.

JUSTIFICATIVA

Questionada, a SSP (Secretaria da Segurança Pública do Estado de São Paulo) informou, por meio de nota, que “o sindicato distorce dados e fatos para justificar tese equivocada”. Além disso, que o “suposto deficit” inclui cargos já extintos.

A secretaria ressaltou ainda que, no Grande ABC, “foram investidos R$ 13,4 milhões para a compra de 194 veículos”, e que profissionais foram contratados, sem, entretanto, especificar os números.

Crimes graves são priorizados pelos agentes

A defasagem no quadro de funcionários das polícias Civil e Técnico-Científica faz com que haja priorização dos casos graves para a investigação e, com isso, ocorrências menos importantes acabam ou ficando sem esclarecimento, ou demorando mais para ter resposta. À equipe do Diário, profissionais que atuam nas sete cidades reforçaram preocupação em relação ao cenário de precarização das carreiras.

“Crimes mais graves, como latrocínio e homicídio, por exemplo, são priorizados. Se o quadro de profissionais estivesse completo, a investigação conseguiria atender melhor a atuar em mais crimes”, ressaltou um dos profissionais sob condição de anonimato.

No dia a dia, a população é quem acaba tendo dificuldades para registrar boletim de ocorrência nos distritos policiais, conforme os trabalhadores. No caso da Polícia Técnico-Científica, laudos criminais levam tempo maior para serem realizados e não contam com a exatidão necessária, tendo em vista a falta de funcionários e de equipamentos.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;