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Carcereiros levam a vida no limite
Fabiana Chiachiri
Do Diário do Grande ABC
05/07/2003 | 18:38
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Amor à profissão e respeito às pessoas, independentemente do artigo no qual elas tenham sido enquadradas antes de entrar na cadeia. Essas são as duas frases que os carcereiros têm como lema de trabalho. "Não estamos aqui para julgar ninguém. A partir do momento em que o preso passa por aquela porta, ele se torna igual a qualquer outra pessoa que cometeu um delito. Tem de ser assim para você não ficar louco", diz um dos carcereiros de São Caetano, João (todos os nomes desta reportagem são fictícios), 37 anos, há cinco na profissão.

O salário inicial é R$ 890, mas chega a R$ 1,5 mil. Contratados para cuidar apenas do preso, das revistas nas celas – feitas para acomodar seis pessoas, mas que aglomeram pelo menos 20 – e do jumbo (alimentos levados por familiares), atualmente, pelo quadro escasso de policiais, os carcereiros das cadeias da região acumulam outras funções, como levar detentos ao Fórum para depoimentos e julgamentos, fazer escolta, administrar fichas de entrada e saída dos detentos e confecção de carteirinhas para os visitantes. São ainda alvo e, algumas vezes, reféns em rebeliões.

Porém, é na hora da revista pessoal (leia reportagem nesta página) e na censura das cartas que os carcereiros têm de demonstrar sangue frio. "Não é fácil ler uma carta na qual a mulher do preso escreve que aquele pedaço de papel ficou por horas na calcinha para que o companheiro sinta seu cheiro. Tem de ter estômago para essas situações", disse a agente penitenciária do CDP (Centro de Detenção Provisória) de Santo André Fernanda. O lado engraçado da censura é quando os detentos escrevem a mesma carta para duas ou mais mulheres. "Até parece que eles tiram xerox. As palavras são as mesmas e quem não sabe que aquilo é escrito por um preso se apaixona." Os fatos comprovam: o Maníaco do Parque, Francisco de Assis Pereira, depois de preso, recebia várias cartas e se casou com uma das fãs.

Família – Nem todos os carcereiros conseguem fechar a porta da cadeia depois do expediente. Para Paulo, um dos encarregados da Cadeia Pública de Santo André, a profissão pesou na separação. "Fiquei casado sete anos e há um estou separado. Meus pais também se preocupam com a insalubridade da minha função", afirmou.

Sentimento oposto é o experimentado por uma das carcereiras de São Caetano, Júlia. "Desde os 4 anos queria ser policial." Hoje, aos 45, ela que entrou para a polícia há dez, não gosta de trabalhar com mulheres e afirma que lida melhor com homicidas. "Muitos dizem que quem trabalha na cadeia é frio, mas eu fiquei mais sentimental."




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