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Mulheres de líderes do PCC são comissionadas na Prefeitura de Mauá
Artur Rodrigues e Sérgio Vieira
Do Diário do Grande ABC
08/12/2006 | 00:01
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Mulheres de dois acusados de serem líderes da facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital) na região têm cargos de confiança na Prefeitura de Mauá. Ambas são indiciadas pela Polícia Civil, acusadas de lavagem de dinheiro e formação de quadrilha em postos de combustíveis, e trabalham na Secretaria da Saúde, comandada pelo vereador e médico Cincinato Freire (PSDC). Ele confirmou que elas são funcionárias da secretaria.

Mirian Valério da Silva é contratada da Cobasa – cooperativa que presta serviços na Saúde do município – e trabalha na sede da secretaria, no setor de agendamento de exames. Está no cargo há pelo menos sete meses. Porém já atua na administração municipal, em cargos comissionados, há mais de 10 anos. Mirian é namorada de Felipe Geremias, o Felipe Alemão – considerado pela Polícia o sintonia do PCC (que repassa as ordens aos outros membros da quadrilha).

No início da administração interina do presidente da Câmara Diniz Lopes (PL) à frente da Prefeitura – entre janeiro e dezembro de 2005 –, Mirian foi comissionada como assistente de chefia da Secretaria de Assuntos Jurídicos, na pasta então comandada pelo ex-juiz de Mauá Fernando Brigante Filho. Ganhava mensalmente R$ 1.018,15. Deixou a função em maio deste ano, quando entrou na cooperativa de Saúde.

A outra servidora pública municipal é Milene Rodrigues de Ponte, segundo a polícia, companheira de Gildásio Siqueira, acusado de manter postos de gasolina de fachada para lavar o dinheiro da facção.

Ela é coordenadora da UBS (Unidade Básica de Saúde) do Jardim Flórida, mas é registrada como chefe de seção da Secretaria de Planejamento e Meio Ambiente desde agosto de 2005. Seu salário é de R$ 1.769,94.

As duas aparecem, ao lado de outras 36 pessoas, no inquérito 974/06 da Dise (Delegacia de Informações sobre Entorpecentes). O documento policial relata que “a quadrilha tem grande influência na administração municipal.”

Grampos telefônicos e cópias de extratos bancários mostram a relação de Mirian e Milene com a máfia que movimentaria R$ 500 mil por mês, arrecadados com pelo menos 44 postos.

Segundo o inquérito, Milene é responsável pelas transações bancárias da quadrilha e chegou a movimentar em sua conta R$ 20 mil em um só dia. Apesar de seu salário não chegar a R$ 2 mil, tinha em seu nome até o meio do ano uma Mercedes-Benz avaliada em quase R$ 100 mil. Em depoimento à polícia, justificou o bem dizendo que o adquirira para ajudar Gildásio, com quem tem um filho. Por não ter residência e renda fixas, teria utilizado o nome dela para adquirir o veículo.

Procurada pelo Diário, Milene não foi encontrada em sua residência, na Vila Vitória, nem na UBS onde trabalha. Por telefone, uma colega informou que ela teria saído de férias nesta quinta-feira.

Mirian Valério é acusada de ser a garota de recados de Wilson Roberto Cuba, o Rabugento, torre (uma das lideranças) do PCC e acusado de chefiar a máfia dos postos de dentro da penitenciária de segurança máxima de Presidente Venceslau.

Karin Valério da Silva, sua prima e amante de Rabugento, passaria as ordens para Mirian que, por sua vez, daria os recados ao namorado, Felipe Alemão. Marcar encontros e acertar honorários de advogados fariam parte de suas atribuições.

Nesta quinta-feira, o Diário conversou com Mirian na sede da Secretaria de Saúde. Ela confirma que trabalha na secretaria por razões políticas. “Sempre fui muito ligada a José Carlos Grecco (ex-prefeito de Mauá e homem de bastidores do prefeito Leonel Damo), e trabalho na Prefeitura desde o governo dele (de 1993 a 1996). Quem participa de campanha sempre consegue um cargo.” Ela conta que também ajudou a campanha de Vanessa Damo (PV), eleita deputada estadual em outubro.

Ainda assim, nega qualquer envolvimento seu e de Alemão no esquema denunciado pela polícia. “Ele não tem nada a ver com isso”, diz. “Eu só estou indiciada porque sou namorada dele”, alega. Ela também nega que tivesse sido indicada por Cincinato. Ainda assim, admite que tem contato com o parlamentar.

A Dise não quis se pronunciar sobre o inquérito.




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