De vez em quando, um estúdio de Hollywood lança uma fórmula de sucesso e aposta que os inteligentes espectadores irão assisti-lo. O novo filme com Russell Crowe, Master and Commander: The Far Side of the World, que estreou no último dia 14 nos Estados Unidos, é esse caso raro. “É um filme de arte de US$ 135 milhões”, disse Crowe, que vem colhendo elogios por sua robusta interpretação do herói marítimo do livro homônimo de Patrick O’Brian, o capitão do HMS Surprise, Jack Aubrey. “Estou confiante que haverá público”.

Master and Commander conseguiu ser finalizado porque o estúdio contratou um forte e confiante diretor, o australiano Peter Weir, que fez o que quis. Ele se concentrou na ação do décimo livro da série de aventuras de O’Brian, aproveitando elementos do primeiro. Ele pediu que Crowe estivesse pronto para filmar em 2002, não em 2003.

Também exigiu um longo tempo de pós-produção para tornar os efeitos de computação gráfica tão reais como se fossem invisíveis, forçando o estúdio a adiar sua estréia em junho e só fazê-la em novembro (no Brasil a estréia está prevista para 8 de fevereiro).

E ele se recusou a fazer mudanças na configuração, algo exigido pelos parceiros financeiros da 20th Century Fox, apesar de representar um imenso desafio de marketing. “Eu olho para trás e sinto que acabei de descer de uma linha esticada sobre o Grand Canyon”, disse Weir, 59 anos, em uma recente visita a Los Angeles.

Finalmente, Master and Commander evita a maior parte das convenções de Hollywood, usada na maior parte dos épicos com mega-orçamentos. O filme chega até a deixar o romance de fora da história; o capitão observa saudosamente uma nativa, mas é só. E o capitão francês, caçado incessantemente pelo capitão Aubrey, não é demonizado.

Você quase não o vê. Ele e seu barco, o Acheron, são fantasmas, objetos de uma temida superstição pela tripulação que navega pelos mares da América do Sul na época de Napoleão (no livro, a ação se passa durante a guerra de 1812 entre a Grã-Bretanha e os Estados Unidos).

O diretor pesquisou veleiros na Inglaterra, então pediu a Fox para comprar uma reprodução de uma fragata do século XVIII, chamada Rose, que foi remodelada como o Surprise para o longa. Weir também convenceu a Fox a filmá-lo quase inteiramente em mar aberto.

O caro empreendimento precisava de uma estrela. No final de 2001, quando Weir ofereceu The Far Side of the World a Crowe, ele se mostrou interessado em interpretar o durão, mas benevolente, capitão Aubrey, mas já estava comprometido com um filme de Ron Howard, Cinderella Man. Havia chance de o diretor esperar um ano? “Não”, disse Weir firmemente a ele. “O barco navega com a corrente”, replicou o astro, convencido.

Weir e Crowe trabalharam juntos por diversas semanas com o roteirista vencedor do Oscar (por Uma Mente Brilhante), Akiva Goldsman. “Russell estava interessado em acrescentar as confusões, metáforas e aforismos de Jack”, contou Weir.

Durante os árduos meses de filmagem nos Fox Studios em Baja, no México (onde Titanic foi filmado), o orçamento do filme cresceu. Foram filmadas 730 cenas para o uso nos efeitos visuais. É muito mais difícil fazer uma recriação autêntica de um período que criar uma fantasia como Piratas do Caribe: A Maldição do Pérola Negra.

Weir disse que a Fox ficou “terrivelmente decepcionada e deprimida” em ter que adiar o filme para depois da aventura da Disney, que foi lançada em julho, mas Rothman disse que isso acabou sendo uma benção.

“Nós odiamos seguir outro filme”, afirmou Rothman, que agora é co-presidente do estúdio. “Mas Piratas lembrou ao público o quão divertido é um filme sobre piratas”. Feitas as contas, Master and Commander custou US$ 150 milhões.