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‘Caminhar com o PT me daria desgaste’, avalia Gilson

Primeiro prefeito da história do partido critica
rumos da legenda e culpa o ex-presidente Lula

Por Leandro Baldini
Do Diário do Grande ABC
16/11/2015 | 07:00
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Orlando Filho/DGABC


Responsável pela primeira vitória da história do PT em eleições, em 1982, o ex-prefeito de Diadema Gilson Menezes (PDT) admite que uma união hoje com a sigla, que ajudou a fundar, lhe proporcionaria “desgaste”.

Em entrevista exclusiva ao Diário, o ex-petista analisa que há culpa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no processo de degradação da imagem da sigla no cenário nacional, detalhando que a falta de punição a correligionários envolvidos em escândalos foi um dos fatores preponderantes para desmanche do petismo.

Aos 66 anos, Gilson anuncia que tenta viabilizar candidatura ao Paço no ano que vem, apostando em legado de trabalhado deixado justamente quando estava no PT.

Confira a entrevista completa

O sr. recentemente se filiou ao PDT. Está com projeto na política?
Estou anunciando minha pré-candidatura a prefeito. O PDT me recebeu muito bem e passamos a discutir isso. Foi avançando e agora concordamos que esse seria o momento. Por onde passo em Diadema, escuto muitas pessoas falando ‘volta, Gilson’. Há esse movimento, por tudo o que pude contribuir. Não temos dinheiro, mas também não precisamos de muito. Nosso plano será do diálogo, na conversa olho no olho. Minha primeira gestão é lembrada até hoje, por muitos. Foi possível naquela época transformar a cidade, dar um novo modelo, com pouco dinheiro. Urbanizamos favela, criamos a participação da população no Orçamento da cidade. Diadema se diferenciou de muitas cidades e agora sinto que isso está perdido, necessitando voltar. É isso que buscarei.

Em 2008, o sr. estava no PSC e também anunciou esse projeto de tentar retornar à Prefeitura. No entanto, acabou desistindo para ocupar o posto de vice na chapa do candidato do PT, que era o Mário Reali. Esse episódio pode ocorrer novamente?
Não vou dizer que desta água nunca mais beberei. Porém, acho difícil voltar a caminhar com o PT. Isso me daria desgaste. O partido hoje está muito mal avaliado e isso ocorreu pelos seus próprios erros cometidos.

O sr. diz isso referente ao PT de Diadema?
Não. No cenário nacional. O PT lutou muito para conseguir nascer e se mostrar diferente. Agora faz força para ser igual aos outros. A realidade de hoje mostra todos muitos perdidos, no meio de acusações de corrupção e tudo aquilo que foi construído está cada vez mais perdido. Nas ruas, existe esse reflexo. Muitas pessoas querem distância do PT.

O sr. sempre foi muito próximo do ex-presidente Lula nas lutas sindicais das décadas de 1970 e 1980. Na sua opinião, ele tem participação nesses erros que o sr. elencou do PT?
O Lula tem parte de culpa neste processo. Sua principal falha foi passar a mão na cabeça desses que envergonharam e prejudicaram o partido, o País, com atos ilegais. Não poderia ser dessa maneira. Eu, quando governava, sempre dizia para minha equipe: ‘não vou segurar pepino de ninguém’. O gestor público não tem o controle de tudo, em tempo real. Porém, cabe a ele punir os que fogem de suas obrigações e são desonestos.

De que maneira o sr. acredita que o partido pode resgatar seu prestígio nacional?
Caberia ao Lula passar o rodo geral. Expulsar políticos como Antonio Palocci, Zé Dirceu, (João) Vaccari (Neto) e tantos outros que comprovadamente agiram de maneira ilegal e foram pegos. Precisa moralizar, dar um basta. Partindo disso, colocar pessoas comprometidas para voltar ao que era no início dos anos de 1980. Com participação popular. Voltar a colocar o partido nas origens. Debatendo e ouvindo a militância, estabelecendo os propósitos junto à população mais carente aos trabalhadores, aos peões. Se não fizer isso, acredito que o partido deixará de existir. Está caminhando para isso e não houve essa postura de reverter.

O sr. é sempre lembrado por ser o primeiro a levar o PT à vitória nas urnas. Além disso, houve também situações que sua refiliação esteve próxima de ocorrer. Por que não voltou mais ao partido desde que se desfiliou em 1988?
Tenho muito respeito pelo PT e por toda a história. No entanto, as trajetórias foram diferenciadas e acho que tudo ocorreu como tinha de ser. Hoje, estou feliz no PDT, com novo ânimo e pronto para buscar novos desafios.

O sr. fala em concorrer à Prefeitura. Conseguindo consolidar essa candidatura, vai enfrentar o atual prefeito Lauro Michels (PV). Como avalia sua gestão?
Não quero falar mal de ninguém. Porém, é notório que sua gestão não está boa. Falhou em muitas coisas, principalmente Saúde, Educação e Cultura. Ele se mostra mal assessorado e mostrando que não dá muito ouvido para os que trabalham com ele. Do seu secretariado, conheço o trabalho do Chico Rocha, que é muito bom (Chico Rocha foi secretário de Finanças na segunda passagem de Gilson pela administração, entre 1997 e 2000, pelo PSB). Agora, nos demais (setores) vejo uma equipe fraca, que não consegue traçar planejamento que funciona para o município.

O sr. citou o secretariado do prefeito e, dentre eles, há o ex-prefeito José Augusto da Silva Ramos (PSDB), que também foi seu titular da Saúde. O sr. não acha que ele poderia ser essa pessoa a aconselhar o Lauro?
Não sei. O José Augusto é uma pessoa difícil. Tive problemas com ele logo na minha gestão. Não tem muitas condições de opinar sobre isso.

O processo eleitoral mostra um cenário desconhecido do PT, que não sabe ao certo que concorrerá, uma vez que o ex-prefeito José de Filippi Júnior afirmou que não quer encabeçar a candidatura. Há também a candidatura do Vaguinho do Conselho (PRB) e a de reeleição de Lauro. Onde encaixaria sua candidatura?
É não sei como o PT vai trabalhar seu nome. Parece que tudo está confuso. O Filippi andou tendo o nome citado na Operação Lava Jato, que é muito ruim. Ele ainda é forte na cidade, mas não sei suas pretensões. Tem os vereadores Maninho e Zé Antônio, que estão tentando se posicionar. E há o Mário (Reali), que é uma pessoa que aprendi a gostar muito. Isso tudo mostra indefinição demais. O Vaguinho deixou o PSB e vem batalhando seu nome. Estava com ele no PSB e hoje vimos que a posição correta foi deixar o partido, porque o mau planejamento se confirmou por lá. Eles (PSB, antigo partido de Gilson) ficaram próximos do PSDB, tudo ficou diferente.

O sr. citou o ex-prefeito Mário Reali, que foi seu companheiro de trabalho entre 2009 e 2012. O sr. consegue avaliar hoje por que não conseguiu emplacar a reeleição, perdendo o pleito justamente para o Lauro?
Como eu disse, o Mário é uma ótima pessoa, de caráter incrível. No entanto, falta pulso a ele e faltou durante a gestão. A equipe de trabalho em muitas vezes o deixou isolado dentro da Prefeitura. Criou-se uma distância com a população e as pessoas que estavam nas ruas, fazendo esse trabalho, pareciam distantes, sem o sentimento da administração. Muitas vezes falei isso a ele, pedi várias vezes para deixar eu participar. Contudo, fiquei isolado também. Eu me senti um jarro no governo. Não houve a percepção do que estava ocorrendo e por isso acabamos derrotados.




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