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Inflação não é bicho-de-sete-cabeças
Por Cristiane Bomfim
Do Diário do Grande ABC
08/06/2008 | 07:09
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"Os preços dos produtos no mercado e na feira sobem mais que a inflação divulgada todo mês na mídia. Não entendo o que acontece", reclama a dona de casa Marlene Vicente, de 56 anos. Acostumada a ir à feira todas as sextas, ela conta que, nesta semana, pagou R$ 1 a mais pelo quilo do tomate em relação ao preço de maio. "No mês passado, custava R$ 1,33 e agora foi R$ 2,33. Isso não é os 2% que eles anunciam de inflação." E para o tomate, não é mesmo. O aumento foi de 43,35%, muito acima da inflação divulgada pelo IPC-USCS (Índice de Preços ao Consumidor) de 1,09% em maio.

A dúvida de Marlene é comum. O cálculo da inflação é desconhecido de grande parte da população. "No geral, as pessoas sabem o que é inflação, porque sentem no bolso o preço subindo. Porém, não conseguem relacionar o aumento dos produtos na hora da compra com os índices divulgados. Mas não é um bicho-de-sete-cabeças", explica o professor de economia da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica), Giuliano Oliveira. Ele atribui parte da culpa aos economistas e à imprensa. "Os dados são divulgados como se todo mundo entendesse do assunto", afirma.

A questão é que os índices de inflação foram criados para medir a variação de preços de uma grande cesta de produtos. O IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), considerado o índice oficial, leva em conta a variação de preços de 465 produtos. Por isso, o impacto de determinada alta - como os 43,35% do tomate - fica diluído e passa praticamente despercebido se os outros produtos não tiverem aumento semelhante.

Cada produto tem um peso diferente na composição dos índices, dependendo de sua importância para o bolso do brasileiro. E mais: cada índice possui metodologia própria, pesos diferentes e períodos distintos em que as informações são coletadas, dependendo da região pesquisada e da faixa de renda que esse índice de inflação utiliza.

Também são consideradas área geográfica que abrange e faixa econômica da população afetada. "A renda familiar e as cidades em que a pesquisa é feita são itens importantes para que o consumidor possa avaliar a inflação", diz o assistente de coordenação do IPC-USCS, Lúcio Flávio Dantas.

Orçamento - Após a definição da região pesquisada e a faixa de renda, são estabelecidos grupos de produtos e serviços que serão pesquisados. São selecionados os itens que fazem parte do orçamento familiar dessa faixa populacional como alimentação, educação, transporte, saúde, habitação e lazer. "No grupo alimentação, por exemplo, entra o preço do arroz, feijão, carne, frutas, legumes e verduras", explica.

"Enquanto o preço do arroz subiu 16,68% em maio, o feijão ficou 4,73% mais barato. Na média geral, o aumento de um produto compensa a queda de outro e, por isso, o valor geral não condiz com o de um item isolado", explica. Os dados são do índice IPC-USCS, que avalia a alteração dos preços de 465 itens nas cidades de Santo André, São Bernardo e São Caetano e a influência desse aumento no orçamento de famílias com renda de dois a 14 salários mínimos. Este é o índice mais indicado para quem mora na região.




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