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Música canadense? k.d. lang
Melina Dias
Do Diário do Grande ABC
19/05/2005 | 08:50
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Esqueça a estridente brega-chique Céline Dion e a rebelde fabricada Avril Lavigne. Se é para ouvir uma voz canadense, que seja a de Kathryn Dawn Lang, ou simplesmente, k.d. lang. Assim, com letras minúsculas como ela faz questão desde que conquistou o direito de exigir o que bem entende no meio artístico.

E essa liberdade é reafirmada em seu último álbum, lançado no semestre passado lá fora e agora no Brasil. Hymns of the 49th Parallel faz um tributo a sua cidade natal, Vancouver, acompanhada em 11 canções por instrumentistas e compositores conterrâneos.

O disco começa com uma versão para piano e guitarra de After the Gold Rush, de Neil Young. Segue, sempre cool, com Helpless, também de Young. Outro canadense famoso Joni Mitchell é requisitado nas duas faixas seguintes A Case of You e Jericho. Há espaço para lang divulgar gente menos conhecida, como Jane Siberry (The Valley). Outros convidados: Leonard Cohen (Hallelujah e Bird) e Bruce Cockburn. Lang assina com o baixista David Piltch a inédita Simple.

O disco, além de prazeroso, é uma bela porta de entrada para o trabalho de artistas daquele país gelado, que apesar de universal, guarda uma singularidade: o primor pelo bem-feito.

Até o pop canadense sempre estará um degrau em refinamento acima do que se faz no vizinho, os Estados Unidos. O que talvez explique isso seja a própria essência do Canadá, forjada por colonizadores ingleses e franceses, e tolerante às diversidades a ponto de incorporá-las.

A trajetória de lang é emblemática. Do punk industrial que produzia na adolescência ela aprendeu a respeitar o country, gênero que soube ler, refinar e que a tornou conhecida em todo o mundo. Como talento não lhe falta também foi recebida pelo jazz. Canta bem o que for bom. “k.d. lang é a maior cantora de sua geração, a maior desde Judy Garland”, declarou Tonny Bennet, o maior crooner da América desde a morte de Sinatra.

Para encerrar as apresentações algo que a aproxima do nosso universo. Na platéia de sua única apresentação no Brasil, no Tim Festival, em 2003, estavam, boquiabertas, Marisa Monte, Zélia Duncan e Daniela Mercury. Saíram todas impressionadíssimas com sua agradável presença de palco.

Outro aspecto da diversidade de lang é sua opção sexual, ou melhor, o momento em que a assumiu publicamente. De cabelo escovinha, visual andrógino, mas sóbrio (terno bem cortado, camisa desabotoada), ela escolheu justamente o auge de sua popularidade no country para assumir sua homossexualidade. Foi um golpe para o público, mas para ela tudo estava resolvido desde os 17 anos, como gosta de declarar. Talvez tenha sido uma forma de reafirmar-se em um meio que lhe rendeu alguns Grammy, mas momentos intragáveis, como participações em shows para lá de bregas.

Acabou virando a cantora preferida das lésbicas descoladas e mais velhas. Hoje, aos 43 anos, a vegetariana rejeita bandeiras e prefere militar pelos direitos dos animais.




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