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Tecnologia é aliada no tratamento e na destinação final de resíduos sólidos

Materiais que não têm condições de ser reciclados são transformados em novas matérias-primas

Por Aline Melo
Do Diário do Grande ABC
27/09/2020 | 00:01
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DGABC


Como transformar materiais que não podem ser reciclados em novas matérias-primas? Como evitar que fluidos como sangue e urina, colhidos para exames de análises clínicas, possam ser lançados na rede de esgoto sem risco de contaminação? Como impedir que restos quase imperceptíveis de óleo combustível contamine milhões de litros de água? Para todas essas perguntas, as respostas passam por inovação e tecnologia, que aliadas à pesquisa, têm encontrado soluções para a destinação e o tratamento adequado de resíduos.

Em Teresópolis, no Rio de Janeiro, a empresa Vem da Serra transforma sacos de cimento em móveis, utensílios domésticos e objetos de decoração. Há dez anos, o moveleiro e artista plástico Alexandre Toscano soube do problema com o descarte de sacos de cimento, que mesmo sendo feitos de papel com gramatura alta e terem uma resistência muito grande, depois de esvaziados nas obras não têm mais utilidade.

O pó de cimento impregna nas fibras do papel e o custo para limpeza e reciclagem se torna altíssimo. “Quando soube que este material tão nobre não era reaproveitado, logo passei a imaginar novas aplicações para ele”, afirmou Toscano.

O material produzido com os sacos é chamado de ecomármore, e ao longo da última década, as pesquisas proporcionaram que o resultado final fosse de peças leves e com tanta resistência quanto móveis feitos de madeira ou plástico.

Algumas vezes, o material até pode ser reciclado, mas precisa de tecnologia para a descontaminação do produto. É o caso das embalagens de óleos lubrificantes automotivos. Em Hortolândia, no interior de São Paulo, a empresa Eco Panplas se dedica, há seis anos, a remover todo o óleo das embalagens plásticas, reciclá-las e transformá-las em matérias-primas para novas embalagens, além de enviar o óleo para empresas de rerrefino.

Foram três anos para o desenvolvimento da tecnologia e outros três na operação efetiva do negócio, que já processou 10 milhões de embalagens, recuperou e vendeu 500 toneladas de plástico reciclável e evitou o despejo de 17 mil litros de óleo. 

Os resultados socioambientais estimados são de 17 bilhões de litros de água preservados e 800 toneladas a menos de gases estufa. A iniciativa já recebeu 21 diferentes prêmios nacionais e internacionais. As embalagens são recolhidas nos postos de troca dos combustíveis.

Por criar um sistema único que separa completamente o óleo do plástico moído e do rótulo, sem utilização de água, sem geração de resíduos e com custo 30% menor que o processo com água, a empresa foi eleita pela OMPI (Organização Mundial de Propriedade Intelectual), uma das agências da ONU (Organização das Nações Unidas), a melhor solução patenteada da América Latina que contribui para causas ambientais e sociais. “Ficamos felizes com esses resultados porque é uma importante validação da nossa solução, tanto no Brasil quanto no Exterior e, principalmente, pelo reconhecimento dos resultados socioambientais de impacto já gerados”, afirmou o CEO e fundador da empresa, Felipe Cardoso.

A tecnologia também impacta no tratamento que é dado aos resíduos de laboratórios de análises clínicas. No Grupo Sabin Medicina Diagnóstica, a unidade da empresa que fica em São José dos Campos, interior do Estado, conta com estação de tratamento dos efluentes. Em um processo que envolve uma espécie de banho de ozônio, todo o material é desinfectado antes de ser lançado na rede de esgoto. “Tudo que sai do núcleo técnico operacional passa por este processo de desinfecção de ozônio, porque tem tanto material biológico, quanto clínico. Isso elimina todos os microorganismos”, explicou a coordenadora técnica do grupo, Claudia Regina Faria. A capacidade de tratamento da estação é de, aproximadamente, 1.600 litros por dia. A estação de tratamento do laboratório é a única na região do Vale do Paraíba.

Para especialista, faltam recursos para pesquisa na área ambiental

Especialista em inovação e tendências, Arthur Igreja avalia que faltam recursos para investir em pesquisas na área de reciclagem e destinação de resíduos no Brasil. “No País, especialmente, com uma pauta ambiental escassa, é algo que não está atraindo todos os interesses necessários”, afirmou. 

“Se tivéssemos visão voltada ao longo prazo, provavelmente, entenderíamos que investir em pesquisas e em soluções eficazes economiza muito dinheiro no futuro em recuperação de rios, lagoas, problemas com desabamento e, até mesmo, com a qualidade da água”, completou Arthur, ressaltando que faz sentido resolver os problemas na origem e não mais tarde, quando tudo custa mais caro.

Arthur ponderou que o Brasil não tem a cultura de olhar muito adiante. “Temos alguns pequenos celeiros de excelência em pesquisa de materiais, realizadas em âmbito municipal, com diversas fundações desenvolvendo trabalhos expressivos e notáveis, porém, como nação, o Brasil está muito atrás se compararmos com pesquisas internacionais, ainda mais com tanto negacionismo em relação a um tema de extrema importância”, afirmou.

Apesar de alguns materiais darem origem a novos objetos, como no caso do saco de cimento, que não pode ser reciclado, mas vem sendo transformado em móveis e objetos de decoração, o especialista afirma que o ideal é que materiais que não possam ser reciclados parem de ser produzidos. “Se está sendo utilizado um material que simplesmente não pode ser reciclado para produção de outros produtos, o destino correto dos resíduos não está ocorrendo”, destacou. “Muito pelo contrário, está causando uma potencialização da não reciclagem. Entendo que, muitas vezes, isso pode ocorrer em razão de problemas relacionados ao design, projetos e escolha de materiais. Com isso, definitivamente, o problema de resíduo continua, já que não foi efetivado um destino para ele”, finalizou.

Concurso incentiva criação de plástico a partir da cana-de-açúcar

A Casa Ondina, espaço coletivo de propagação de arte localizado em São Paulo, e a Electro Plastic, empresa especializada em embalagens plásticas, promovem o 1º Prêmio de Design PlastificARTE, que visa apresentar soluções para proteger as pessoas em aglomerações e promover a socialização segura em espaços públicos no pós-pandemia. A iniciativa premiará com R$ 10 mil o criador do melhor projeto feito a partir do filme plástico flexível proveniente da cana-de-açúcar, da gramatura mais fina até a mais resistente. Os produtos também podem conter em sua composição materiais auxiliares, como madeira e ferro metalon e o projeto vencedor, caso esteja dentro das especificações técnicas e comerciais, será produzido pela Electro Plastic.

De acordo com a diretora comercial da Electro Plastic, Paula Lopes, a premiação busca promover uma discussão positiva sobre o uso consciente do plástico, valorizando produtos que possam ser reutilizados. “É preciso levar em consideração as estratégias de descarte inteligente para que o material não se torne poluente”, completou a executiva. As inscrições são gratuitas e podem ser feitas por qualquer pessoa com mais de 18 anos, pelo site www.electroplastic.com.br/plastificarte até 16 de outubro, onde também é possível consultar o regulamento completo. No dia 20 do mesmo mês serão apresentados os cinco projetos finalistas, que participarão da segunda fase do concurso entre 26 de outubro e 4 de novembro. O vencedor será anunciado no dia 4 de novembro.




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