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‘Coupling’ estréia sua mais nova temporada
Por Caryn James
Do New York Times
16/06/2003 | 19:02
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Quando a rede de TV norte-americana NBC anunciou que faria uma nova versão para a sitcom britânica Coupling, a revista The Economist deu a notícia sob a manchete mordaz: “Sem sexo, por favor. Somos americanos”. A frase brinca com o puritanismo norte-americano – os ingleses acolheram a série, muitas vezes chamada de um Friends mais sexy –, mas a idéia foi direto ao que a NBC queria. Anunciando os programas da nova temporada, o presidente da rede, Jeff Zucker, prometeu que Coupling iria “empurrar as coisas” e falou dos seis membros do elenco como “o sexteto mais sensual da TV norte-americana em uma década”. A versão européia de Coupling é exibida no Brasil pelo canal de TV a cabo Eurochannel (TVA/Canbras) sempre às 21h30 de quinta-feira.

Repórteres de TV, então, começaram a descrever a série como “quente” e “apimentada”, como se estivessem falando de um programa que juntaria sexo e receitas de bolo. A propaganda pseudochocante da NBC pode funcionar, mas os telespectadores do Coupling original (agora sendo exibido na BBC norte-americana no que parece ser uma reprise interminável) verão rapidamente como ela é falsa. A série da BBC tem algo que as sitcoms da TV norte-americana não têm. Como uma comédia sofisticada sobre comportamento sexual, Coupling é um Seinfeld refeito como uma farsa francesa. O programa vê as diferenças entre homens e mulheres sem cair em clichês e é divertido sem ter palavrões, além de ser escrito de forma mais inteligente que qualquer série de televisão de hoje em dia.

O programa, sobre os hábitos de relacionamento de seis amigos por volta dos 30 anos – Steve dorme com Susan, que dorme com Patrick, que está namorando a melhor amiga de Susan, Sally – não tem muito mais palavras fortes ou cenas de nu que as emissoras não tenham permitido antes. Até sua abertura em relação a sexo e pessoas solteiras já se tornou comum. Friends já deu o empurrãozinho nestes aspectos. Compare o feliz nascimento do bebê de Rachel, no ano passado, com a confusão orquestrada por Dan Quayle sobre a maternidade solteira de Murphy Brown uma década atrás e verá como nós já caminhamos.

Seja por serem tão inteligentes quanto Coupling ou tão bobas quanto a agora extinta Mind of the Married Man, da HBO, todas as comédias sexuais têm sucesso ou falham segundo a mesma questão. Quão bem elas conseguem fazer com que tenhamos simpatia por bebês crescidos? O sexo, no fim das contas, é a última das auto-indulgências. Os melhores programas, como Coupling, são escritos com uma esperteza de adulto que abarca o comportamento adolescente que nunca desaparece totalmente nas relações sexuais. Apesar de Coupling ser mais freqüentemente comparado a Friends – o grupo de Coupling se encontra num bar que lembra o café de Friends, e eles também são seis.

A série foi criada por Steven Moffat, que escreveu todos os episódios e produz alguns programas com sua mulher, Sue Vertue, e sua sogra, Beryl Vertue. (elas também são produtoras executivas na versão da NBC). Os autobiograficamente nomeados personagens centrais são Steve (Jack Davenport) e Susan (Sarah Alexander). Ela é uma bela com um passado selvagem (é bem possível que, durante umas férias quaisquer, ela tenha dormido com a Austrália inteira); ele é um cara apaixonado, lidando com as dificuldades de ser o adulto na relação dos dois.

Jane (Gina Bellman), a bobinha ex-namorada de Steve, é ainda mais irritante que Phoebe, de Friends, e é o elo mais fraco entre os personagens. Os outros são histericamente reais mesmo quando fazem tipos. Patrick (Ben Miles) é um homem bonito, vaidoso e pouco inteligente que é salvo por ter um coração bom; ele não é malicioso, só descolado. Sally (Kate Isitt) tem tanto medo da idéia de envelhecer que controla seus sorrisos: ela sorri apenas para homens solteiros, a fim de evitar ter de rir sem necessidade. É só depois de três temporadas que Patrick e Sally reconhecem uma atração que aterroriza ambos porque ela pode significar a coisa real, o fim da vida de bebê crescido. E eles nem gostam um do outro.

As similaridades entre todos esses programas centrados em amigos sugere que a TV e o cinema criaram uma cultura global. Coupling precisa de tão poucas traduções que o piloto inglês mal foi reescrito quando levado para Chicago pela NBC. O humor da série é puramente contemporâneo e não particularmente britânico. Ainda é cedo para saber, com base no episódio preliminar que a NBC enviou à imprensa, se a versão norte-americana terá a sofisticação do original ou partirá para o furor barato em moda na TV.

Pelo fato de o Coupling da BBC ter apenas seis episódios por temporada, ao contrário dos 13 da NBC, novos capítulos serão escritos por Phoef Sutton, que reestruturou o piloto inglês. A versão norte-americana de Coupling tem um elenco suficientemente sedutor e uma Jane menos chata; também tem um Jeff menos engraçado, que arrisca menos. Sitcoms norte-americanas em geral arriscam pouco. Em um episódio do Coupling da BBC, Susan descobre que Steve estava assistindo escondido a um vídeo chamado Inferno do Espancamento Lésbico. O programa acha graça na diferença entre o que homens e mulheres gostam. Mas em Friends, quando Monica descobre Chandler se masturbando na frente da TV, uma reviravolta faz com que ela se preocupe com o fato de ele se excitar com tubarões (ele rapidamente desligou o vídeo pornô e, na TV, apareceram tubarões). Como a maioria das comédias norte-americanas para televisão, Friends opta pela piada inócua.

Friends, agora, é sobre casamentos e bebês. E no fim da terceira temporada de Coupling uma personagem central fica grávida. Mas, como Sex and the City ilustra, o crescimento pode significar sentir-se obsoleto. A série, que já foi bem ousada, perdeu sua característica quando as personagens começaram a tentar arrumar alguém para sempre (embora sem sucesso) ao invés de focalizar o próximo a ser seduzido. Carrie quase se casou, Charlotte casou e se divorciou, e Miranda teve um filho. Comédias sexuais têm de ser sobre bebês crescidos, não sobre os pequenos.




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