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Pais separados: nas festas, melhor é deixar garotada decidir
Por Bruno Ribeiro
Especial para o Diário
18/12/2005 | 08:27
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Época de Natal pode ser um verdadeiro teste pa-ra a relação entre filhos e pais separados. A tradição diz que a ceia deve ser realizada em família, mas os filhos se vêem no meio do racha dos pais. Psicólogos afirmam que é comum as crianças serem usadas como ferramentas de ataque nas disputas do casal – com conseqüências desastrosas na formação. O i-deal, segundo especialistas, é garantir um relacionamento razoável para que exista a possibilidade de se chegar a um consenso entre os adultos e decidir o melhor para as crianças, dando peso para a opinião dos filhos.

O pior dos cenários nessa época é que um dos pais use as festas para agredir o outro. As crianças, além de não serem ouvidas, percebem que estão no meio de um campo de batalha. Segundo a psicanalista Marina Massi, membro da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo e professora do Núcleo de Terapia da Família e Casal da Faculdade de Psicologia da PUC-SP, tudo o que for feito para prejudicar o ex-cônjuge afetará as crianças de alguma maneira. “As crianças merecem ser poupadas dos problemas que não dizem respeito direto a elas e, sem dúvida, não possuem preparo emocional para compreender e lidar com tais assuntos”, diz a psicanalista.

A psicóloga Maria Eugênia Trivellato, que trabalha com crianças a partir dos 5 anos, diz que esses casos são comuns. “No consultório, vemos que um dos pais acaba tentando castigar o ex-companheiro por meio da criança. O pai faz algo que irrita a mãe, então ela revida dizendo para as crianças que elas não vão viajar com ele, por exemplo. Isso é muito ruim. Pode gerar quadros de depressão ou rebeldia. A criança passa a desrespeitar os dois.”

A autônoma Vanusa Rodrigues Demarchi, 34 anos, moradora de São Bernardo, afirma que passou por maus momentos durante a separação, há um ano. O casal tem quatro filhos – uma menina de 11 anos, um garoto de 8 e gêmeos prestes a completar 4 anos. “Logo após a separação, foi um pouco complicado. Meu ex-marido também queria a guarda das crianças. Mas mesmo nos tempos de maior a-gressão verbal, não impedi que ele e as crianças ficassem juntos.” Neste ano, as quatro crianças vão passar o Natal com a família do pai, no interior do Estado. “Pretendo ligar para eles na hora da ceia”, planeja a mãe.

Revezamento – A estudante Melissa Zanetti, 14 anos, moradora de São Caetano cujos pais se separaram em 2003, acredita que a forma clara como as coisas foram colocadas a ajudou a compreender e aceitar a situação. “Não havia nada que eu pudesse fazer. Então, o jeito foi aceitar a separação.” No ano passado, ela passou o Natal com a mãe. “Acabei estranhando um pouco, havia pessoas que eu não conhecia na festa”, conta. “Meu pai me telefonou pouco antes da meia-noite.” Neste ano, ela vai inverter e passar o Natal com o pai. “Acho que são direitos iguais: os dois têm direito de ficar comigo. Independentemente do que fala a separação, o que vale é nossa vontade”, diz a adolescente, que pretende falar com a mãe por telefone na hora da ceia, exatamente como fez com o pai ano passado.

Essa saída, conversar por telefone na véspera, é muito usada por pais longe dos filhos. “Mas não devemos mostrar tristeza por estarmos separados. Ao contrário, ressaltar o sentimento de que a distância não cria uma ruptura interna ou de laços tão profundos como entre pais e filhos”, diz a psicanalista Marina.

Regras – O advogado civilista José Sinésio Correia, presidente da subseção de Santo André da OAB, explica que os termos do acordo de separação são parecidos entre os casos. O acordo que regulamenta com quem as crianças devem ficar em cada momento (nos dias de semana, nos fins de semana, nas férias). A diferença é que as decisões podem sair do juiz (separação litigiosa) ou de acordo entre os pais (consensual). Entretanto, ele reconhece que é comum os pais respeitarem a vontade das crianças quando há acordo entre eles. “Mas se algum dos pais se sentir prejudicado e exigir o cumprimento do acordo, pode entrar com uma comunicação judicial de descumprimento da sentença. A outra parte pode até perder a guarda dos filhos.”

Os pais da estudante Nathália Lennert Morales, 13 anos, de Santo André, nunca chegaram a se casar. Por isso, a família precisou criar regras próprias para todas as situações que envolvessem a menina. “Eu costumo escolher. Geralmente passo o Natal com a minha mãe e o Ano-Novo com o meu pai. Eles fazem um drama básico para me influenciar, mas no final vale o que eu decidir. É um pouco estranho porque sei que eles ficam meio decepcionados, mas tenho de lidar com a sensação.”

A psicóloga Maria Eugênia lembra dos riscos da liberdade excessiva. “Respeitar é uma coisa. Outra é fazer todas as vontades das crianças, o que pode gerar pessoas tiranas e com dificuldade nos relacionamentos.”



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