Política Titulo Eleições 2016
População da região prioriza os aspectos morais a políticas públicas
Por Vitória Rocha
Especial para o Diário
15/02/2016 | 07:00
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Em tempos de mensalões, tucano e petista, de escândalos desvendados pela Operação Lava Jato e avanço da Operação Zelotes, o eleitor do Grande ABC espera dos candidatos na eleição de outubro valores éticos em detrimento de políticas públicas que possam contribuir com o dia a dia da população das sete cidades.

A conclusão está nas respostas coletadas pela enquete “O que você espera dos seus candidatos nas eleições de 2016”, aberta no dia 9 de novembro no site do Diário. Das 56 respostas nos sete municípios, 30 pediam (53,5% do total) que os postulantes demonstrassem “verdade”, “honestidade” ou “compromisso” durante o pleito.

Para a cientista política da FESPSP (Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo) Jacqueline Quaresemin, restringir o debate político à ética é “reducionismo” do processo. “A opinião pública reage ao que está sendo discutido pela imprensa. A mídia tem focado mais densamente, desde o segundo turno da eleição presidencial, no debate sobre corrupção. Portanto, a população faz debate moral porque o foco é no caráter dos denunciados. Mas a política não pode ser reduzida a questões morais, pois se perde a possibilidade de resolução de outros conflitos de natureza econômica, social, etc”.

A tese de que o debate ético pode trazer prejuízos por pouco falar sobre problemas estruturais da cidade é compartilhada pelo cientista social da FGV (Fundação Getulio Vargas) Paulo Barsotti. “Não adianta você só ter político com uma postura ética. Com essa postura, eles vão fazer o quê?”, indagou. “Isso é muito abstrato (as respostas). O que é honra? O que é dignidade? Isso é um juramento moral e não algo de concreto. As pessoas estão mais preocupadas com a ética na política do que com os resultados efetivos da política, o que me parece contraditório porque você só pode ter um efetivo atendimento das reivindicações populares tendo ética. Essa é uma questão que vai estar presente em todas as eleições municipais”.

O professor acredita que a confusão dos eleitores quanto a relação entre a ética e a execução de políticas públicas é resultado direto de falha dos partidos políticos. “Se os partidos são medíocres e falidos, eles não podem cumprir essa tarefa (de conscientização). A confusão é ausência de consciência política diretamente ligada à questão dos partidos. Basta a gente olhar para o panorama de Brasília onde você tem o presidente do Senado (Renan Calheiros, PMDB) e o presidente da Câmara (Eduardo Cunha, PMDB) totalmente questionados na sua condição ética.”

Ao analisar respostas como “a verdade”, “lealdade e governança digna para a cidade” e “transparência e comprometimento, que eles conheçam as reais necessidades da nossa cidade” para a pergunta da enquete do Diário, o cientista social e político da UFABC (Universidade Federal do ABC) Vitor Ferraz viu preocupações pouco palpáveis por parte dos eleitores e acredita que o maior problema será se os candidatos só visarem a questão moral. “Quando você fala de construção de um hospital, é mais tangível. A ética para cada um dos leitores é questão subjetiva que depende da formação de cada um e as interpretações são muito flexíveis em relação a isso. Muito diferente do que se você for discutir sobre uma questão como saneamento básico.




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