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Música na região precisa de outro acorde
Ângela Corrêa
Do Diário do Grande ABC
24/01/2010 | 07:01
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Marina Brandão/DGABC


O produtor musical Sílvio Martins Ferreira, o Alemão, mora em São Bernardo e, entre algumas atrações que ajudou a realizar está o Festival de Inverno de Paranapiacaba. Apesar do histórico bem-sucedido na região, hoje só trabalha fora daqui. Também de São Bernardo, o músico Adolar Marin não faz um show na cidade desde a Virada Cultural Paulista, em maio do ano passado. Sua agenda também costuma se concentrar em São Paulo. "É onde as portas estão abertas".

Os relatos do produtor e do músico resumem o panorama: está difícil variar os acordes no que se refere à programação musical na região. "Existe uma grande confusão entre os conceitos de cultura e entretenimento no Grande ABC. Quando falo em atrações culturais, quero dizer aquelas que trazem diferencial para o que já está estabelecido, e isso não vem acontecendo", avalia Alemão, citando a programação do último Réveillon de Santo André, que contava apenas com nomes dos cenários sertanejo, pagodeiro e forrozeiro.

Desde que deixou o cargo de programador do Teatro Municipal de Santo André, há cerca de um ano, o produtor se concentrou na Capital e hoje está responsável por programar as atrações internacionais da próxima Virada Cultural, em maio. "Estou encontrando mais espaço para música de qualidade no interior do Nordeste do que em casa, infelizmente", lamenta ele, que desenvolve também a programação dos festivais Jazz & Blues, em Guaramiranga, no Ceará, Garanhuns Jazz, no interior do Pernambuco, ambos no Carnaval, e o Festival de Inverno de Pedro II, no Piauí.

Para o produtor, o Grande ABC está deixando gradativamente de formar público. "O fato de as casas de espetáculo que oferecem atrações culturais não se manterem é pura expressão de que não há política cultural. Caso contrário, por que os espaços de música sertaneja continuariam lotando aos fins de semana?", compara.

Substituir atrações popularescas por outra variedade de estilos musicais não é justificativa aceitável, analisa Alemão. "Para se ter uma ideia, os custos de se trazer o Stanley Jordan (guitarrista norte-americano de jazz que se apresentou em Paranapiacaba em 2004), incluindo passagem, equivalem a 1/3 do cachê de bandas como o NX Zero", diz, sem revelar valores.

Para Adolar, as ações isoladas de músicos e produtores para democratizar a arte na região precisam urgentemente de respaldo. "Cada vez mais o aspecto mercadológico domina. Agendam apresentações de quem é famoso com a justificativa de que é o que as pessoas gostam. Mas como ter certeza disso se elas nunca viram outras coisas?", questiona.




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