Não se deve restringir Os Sonhadores à fita de sacanagem, como pode acreditar quem não viu no bertolucciano O Último Tango em Paris (1973) nada além de uma sugestão de consumo para a manteiga. A nova obra, ao mesmo tempo que exibe iniciações sexuais e jogos de sedução, procura o dionisíaco na história do cinema e nos acontecimentos que precederam o maio de 1968.
Matthew (Michael Pitt), norte-americano, passa uma temporada de estudos em Paris na primavera de 1968 quando trava contato com os gêmeos Isabelle (Eva Green) e Theo (Louis Garrel). Conhecem-se na Cinemateca francesa - à época administrada por Henri Langlois e freqüentada por Bertolucci na juventude -, bombardeados pelo cinema de Nicholas Ray e pela assimilação da Nouvelle Vague. De lá, Matthew passa a morar com o casal de irmãos misteriosos que exala um aroma de incesto.
Juntos, iniciam jogos de adivinhação com citações visuais em profusão a filmes como Acossado (de Godard), Rainha Cristina (com Greta Garbo) e A Vênus Loira (com Marlene Dietrich). Os Sonhadores configura-se numa homenagem à Nouvelle Vague que influenciou Bertolucci e comporta a mesma alienação política e a mesma masturbação técnico-intelectual atribuídas ao movimento de Godard, Truffaut e Bazin. É louvável como exercício, mas o desfecho do filme sugere que política, ante as urgências da juventude, está mais para utopia que para instrumento de transformação.
Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.