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Moradores se adaptaram às enchentes
Por Renan Fonseca
Do Diário do Grande ABC
26/10/2010 | 07:20
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A imigração italiana deu forma a São Caetano e alguns bairros até são comparados à Veneza. Assim como na cidade italiana, os moradores de localidades como Vila São José e bairro Fundação aprenderam a lidar com ruas tomadas pela água. Comportas são equipamentos comuns nas casas que sofrem com as chuvas de verão. Na maioria das vezes a água vence as barreiras e invade os cômodos. A solução é esperar o nível abaixar.

Na Vila São José, a dona de casa Maria Jesus Moreira de Camargo desistiu de comprar móveis novos e até reformar quartos e salas. Ela perdeu mais de R$ 4 mil em móveis e eletrodomésticos durante as chuvas no início do ano. "Tinha comprado geladeira, armários e outras coisas a prazo. Não faço mais isso, já sei que a chuva consome tudo", lamentou.

Dona Maria é uma entre 1,3 mil famílias que vivem em zonas de alagamento, de acordo com a Prefeitura, e aprenderam na prática as técnicas para escapar das cheias. "Quando a água ultrapassa o meio-fio da calçada, levanto a comporta e subo para cima da casa", explicou.

Os oito bairros que sofrem com o problema (Nova Gerty, Mauá, Jardim São Caetano, Vila São José, Santo Antonio, Centro, Fundação e Prosperidade) são acompanhados pela Defesa Civil. Leituras de boletins meteorológicos são feitas 24 horas de novembro a abril para monitorar o nível do Ribeirão dos Meninos, Ribeirão dos Couros e Rio Tamanduateí, que margeiam o município.

No início de cada chuva, viaturas são enviadas para áreas estratégicas de cada bairro. Através das informações meteorológicas, os agentes da Defesa alertam os moradores antes das cheias, impedindo que sejam pegos de surpresa.

A remoção de moradores e encaminhamento temporário para áreas públicas são auxiliados por 100 voluntários capacitados para emergências além de 40 guardas civis com treinamento da Defesa Civil.

Dono de um botequinho na Estrada das Lágrimas, próximo à Avenida Guido Aliberti, seo Adelson Giraldi Mota, 60 anos, reserva dinheiro o ano todo para comprar uma televisão de segunda mão sempre nos meses de janeiro e fevereiro. O pé de meia é a certeza que o boteco vai ficar quase todo debaixo d'água nesses meses. "Em 2000, fiquei com água até a altura do pescoço. A água subiu muito rápido enquanto eu recolhia a mercadoria", lembrou. Nas paredes, ele mostra as marcas feitas pelas enchentes e lamenta a perda anual. "Cervejas e petiscos sempre vão embora com as enchentes. Não posso fazer nada, é uma situação que se repete há muitos anos", falou.

INDIGNAÇÃO
No bairro Fundação, o sentimento é de revolta. A aposentada Maria Batista Medeiro Silva, 71 anos, não se conforma em ver móveis sendo destruídos pela água.

Só neste ano ela teve de comprar dois colchões e um sofá. "A água entra na dispensa e tenho que jogar toda a comida fora. O nível abaixa e preciso correr para a loja e comprar tudo novo", lamentou.

O encarregado de portaria, Antonio Oliveira Souza, 55 anos, não passa pelas mesmas dificuldades de Maria Batista, mas tem de desviar a rota para o trabalho quando as chuvas começam. "Tenho de procurar um caminho diferente todos os dias para não entrar na água", contou.




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