ABC da Economia Titulo Análise
A era digital e o trabalho bancário
Belmiro Aparecido Moreira*
08/01/2021 | 00:05
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O setor financeiro passa por diversas transformações. Verifica-se a presença de novas ferramentas, práticas, atores e instituições, tais como: moeda digital; blockchain; banco digital; mobile banking; open banking; jovens clientes que só usam mobile banking; PIX; biometria; webchat; chatbot; startups; fintechs; bigtechs; coworking. Canais que até há pouco eram ‘modernos’, como os ATMs (autoatendimento), os PABs e os contact centers tornaram-se ‘canais tradicionais’. Os bancos buscam reduzir e reconfigurar as agências bancárias.

Mas a modernização do sistema bancário não significa melhor atendimento aos clientes. Ainda são milhões os desbancarizados que não têm acesso aos serviços financeiros. As taxas e tarifas continuam muito elevadas. Clientes de menor renda foram deixados ‘de fora’ da agência para realizar suas operações em máquinas de autoatendimento e serviços terceirizados. São pouco transparentes as informações sobre os produtos oferecidos, cobranças e movimentações das contas dos clientes.

E tampouco melhorou a eficácia do sistema financeiro como alavanca de crédito. A modernização também tem contribuído para aumentar a instabilidade das finanças em todo o mundo, com acentuados impactos sobre a atividade industrial, agrícola, comércio e demais serviços. No Brasil, o quadro se agrava em razão da elevada concentração bancária, altas taxas de juros e spreads bancários, bem como dificuldades de acesso ao crédito, tornando proibitiva a atividade de produção de bens e serviços no País. A privatização dos bancos públicos distancia ainda mais o sistema financeiro de suas funções públicas e sociais.

Não obstante, seguem velozes as mudanças no sistema financeiro. E elas serão potencializadas, já que o Banco Central brasileiro vem acelerando um conjunto de regras que regulamenta a implementação do open banking. Com o open banking e o PIX, o Banco Central espera incrementar a concorrência no setor e propiciar uma oferta grandiosa de novos produtos mais baratos e acessíveis ao consumidor bancário. Pergunta-se: como será o mundo em que ‘qualquer um’ pode vir a oferecer serviços bancários, principalmente as bigtechs, já detentoras de tantos dados?

Os impactos sobre o mundo do trabalho em razão das transformações diversas rapidamente mencionadas nesta apresentação são imensos. E não se trata apenas de formar os “times de colaboradores” para lidar com as novas tecnologias e os novos métodos de trabalho como sugerem os bancos. É muito mais do que isso. O trabalho se precariza por meio da terceirização, o que faz crescer o número de trabalhadores com menores remunerações e benefícios, maiores jornadas, condições precárias de trabalho e contratos mais flexíveis e instáveis na forma de PJs e autônomos.

É intensa também a pressão sobre os empregados que permanecem nos bancos, seja por meio das exigências crescentes de capacitação e certificações, seja pela necessidade dos trabalhadores bancários diariamente alcançarem metas quase sempre inatingíveis. Em um cenário de seguido incremento da automação e reestruturações organizacionais, com a redução constante do quadro de pessoal, é grande o medo da perda de emprego ou de interrupção na ascensão da carreira. Assim, a pressão ocorre mesmo quando, aparentemente, o trabalhador ganha maior autonomia e tempo livre, como no caso do teletrabalho ou home office. Sob estresse constante, crescem o adoecimento e os problemas psicológicos. A diversidade de raças e orientações sexuais e a equidade de gêneros ainda estão longe de se tornar uma realidade. A desigualdade é a marca.

TEMA VIROU LIVRO

O Sindicato dos Bancários lançou, no dia 12 de dezembro, o livro A Era Digital e o Trabalho Bancário (edição conjunta Coopacesso e Didakt, 465 páginas, 29 artigos, 38 autores), que aborda o tema das transformações tecnológicas e organizacionais em curso e os impactos sobre o mundo do trabalho. A publicação reúne uma série de artigos de especialistas, professores (muitos deles do Observatório da USCS), assessores, dirigentes sindicais e convidados.

O livro possui uma particularidade de realizar diagnósticos aprofundados sobre os temas contemporâneos. Mais: depois de entregues os seus respectivos textos, solicitou-se aos autores que, em página à parte, eles e elas apresentassem subsídios de propostas para a reflexão e discussão pela categoria. Estes subsídios estão expostos no livro em forma de ‘box’ em destaque ao fim de cada artigo.


* Presidente do Sindicato dos Bancários do ABC e um dos autores convidados da 15ª Carta de Conjuntura da USCS (Universidade de São Caetano). 




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