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Heranças de família, sapatarias resistem às dificuldades na região

Sapateiros, que hoje comemoram seu dia, sobrevivem de pequenos reparos; maioria desses profissionais aprendeu ofício com parentes

Francisco Lacerda
Do Diário do Grande ABC
25/10/2020 | 00:01
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DGABC


Os sapateiros, trabalhadores de uma das profissões mais antigas do mundo, comemoram hoje o seu dia. Há registros na história que revelam que a arte de fabricar e consertar calçados teve início no momento em que o homem sentiu a necessidade de proteger os pés, seja para cobri-los das intempéries ou mesmo de imperfeições do solo por onde andava, isso em meados dos anos 280.

O carro-chefe dessas sapatarias era a fabricação manual de calçados. Mas esses estabelecimentos foram, ao longo dos anos, sendo engolidos por indústrias de produção em escala, o que obrigou-os a tomar outros rumos, tornando-se mais comumente associados a apenas conserto desses itens. Inevitável avanço da tecnologia, seguidas crises econômicas e, nos últimos sete meses, a crise sanitária instalada com a pandemia do novo coronavírus são outros fatores de complicação ao setor. Há ainda reclamações relacionadas à má qualidade <CW-30>dos materiais usados na fabricação desses itens. Mesmo com todas adversidades, ainda existem os que resistem. Detalhe comum à maioria deles o fato de herdar, tanto o estabelecimento quanto o conhecimento na profissão, de avós, pais e tios. 

Um desses obstinados, Rodrigo Augusto Ferreira, 37 anos, está na profissão desde os 12. Ele é dono da Sapataria São Judas Tadeu, na Vila Humaitá, em Santo André, desde 2009. Herdou do tio Rubem Santola Rodrigues, que havia comprado de “um espanhol”, fundador do negócio, e mantido até 1975. “Sou o terceiro dono. Meu tio foi quem me ensinou. Trabalhei com ele até 2009, quando comprei a sapataria.”

Os serviços mais solicitados vêm do público feminino e são, segundo Rodrigo, colagem de “saltinho” de sapato e costura de bolsas. De inusitado os frequentes esquecimentos de materiais por parte dos clientes. “Sem não vêm (retirar), fica aqui <CF51>(o produto consertado)</CF> um ano, um ano e meio. Ligo para a pessoa, mando mensagem. Se não tem mais interesse, daí encaminho para doação”, diz. “Tem também os que não trazem o ‘canhotinho’, ou a pessoa já levou o sapato e esqueceu que levou, ou até nem trouxe, mas vem buscar.” Há três anos Rodrigo repassa ao sobrinho Cauê Henrique Ferreira Correia, 17, tudo que aprendeu.

Outro que herdou o negócio de familiares, Antonio Pavoni Ferreira, 57, lembra que a Sapataria Jato, na Avenida Santo André, Núcleo Colonial, em Ribeirão Pires, está há 55 anos no local, primeiro com seu avô, Antonio Ferreira Miguel, que ensinou a seu pai, Manoel Ferreira, professor de Antonio nessa arte. Diz fazer média de 30 reparos em calçados por dia, mas teme pela continuação do negócio, já que a filha, única herdeira, “preferiu ser bióloga”. “Só me faltam saúde e dinheiro, o resto tenho. Vou tocando até quando der.”

Já Cleber da Silva Costa, 41, reclama da má qualidade do material na fabricação de calçados e bolsas, que faz com que sejam inutilizados pelos consumidores assim que apresentam problemas, “sem condições de conserto”. A sapataria de Cleber, a Vitória, na Avenida Nossa Senhora das Vitórias, Centro de Diadema, está sob comando da terceira geração da família. O maquinário ainda é o mesmo usado pelo avô José da Conceição Costa e do pai, Marcio de Souza Costa. “Faço 40 consertos por dia. Antigamente (os sapatos) eram feitos de couro, tinham durabilidade, tinham conserto. Hoje são descartáveis. Mas sigo nesse ramo, porque meu público é fiel.”

Gabrielly de Melo Simião, 22, é uma das administradoras da Sapataria Nova Vida, na Rua Havana, no Parque das Américas, em Mauá. O comércio, que já foi do avô Maurino Cavalcante de Melo e do tio Marcos Alexandre Melo dos Santos, está instalado no local há 35 anos e tem nos consertos de sapatos, bolsas, malas e até roupas a maior demanda. O movimento ela revela que “está voltando” ao normal, e que pretende seguir à frente do negócio. “É herança da minha família. Apesar de não pôr a mão na massa, não trocaria essa ‘profissão’.”

Reclamação recorrente entre esses profissionais, a pandemia do novo coronavírus, que obrigou a população ao isolamento físico, impossibilitada de sair de casa, fez com que a procura por eles diminuísse “drasticamente”. Ainda assim não desanimam nem pretendem mudar de área. “Enquanto tiver saúde para trabalhar, quero trabalhar nisso. É disso que eu gosto. Peguei gosto. Vou continuar até quando eu puder”, encerra Rodrigo.

A greve de 1917

Ademir Medici

No dia 16 de julho de 1917, milhares de trabalhadores aprovaram o fim da primeira grande greve brasileira, até aquele momento a maior de todas, que durante semanas paralisou a cidade de São Paulo. A greve terminou depois que o Comitê de Defesa Proletária negociou reajuste de salário entre 15% e 30% e os patrões ficaram de atender outras exigências como fim do trabalho infantil, fim do trabalho noturno para mulheres, garantia de trabalho permanente e jornada de oito horas diárias durante cinco dias da semana.

A grande vitória foi o reconhecimento do movimento operário como instância legítima, obrigando os patrões a negociar com os trabalhadores e a considerá-los em suas decisões. Antes, e a greve mostrou isso, trabalhador era caso de polícia.

Nos bairros operários como o Brás, Mooca, Barra Funda, Ipiranga e Lapa os trabalhadores construíram barricadas com pedras, madeiras e carroças viradas para impedir a circulação das tropas armadas de fuzis e metralhadoras, que tinham ordem para atirar em todas as pessoas que estivessem paradas.

O estopim para a greve foi a morte do sapateiro José Martinez durante paralisação na fábrica Mariângela, no Brás. Em três dias, mais de 70 mil trabalhadores já haviam cruzado os braços. O povo estava passando fome. Em razão do aumento de exportação de alimentos para países europeus, por causa da Primeira Guerra Mundial, os preços dos alimentos subiram muito mais que o salário.




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