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Cesta básica passa de R$ 800 no Grande ABC pela primeira vez

Pandemia fez com que kit encarecesse 15,33% neste ano, 9,34 vezes mais que inflação, de 1,34%

Soraia Abreu Pedrozo
Do Diário do Grande ABC
10/10/2020 | 00:06
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Denis Maciel/DGABC


Não bastasse a pandemia do novo coronavírus e seus efeitos nocivos sobre a humanidade, o consumidor tem sofrido como nunca na hora de ir às compras no supermercado. Os efeitos da Covid-19, somados à estiagem provocada por mudanças climáticas, fizeram com que a cesta básica no Grande ABC rompesse, pela primeira vez, o patamar de R$ 800.

Desde o início da série histórica da pesquisa realizada pela Craisa (Companhia Regional de Abastecimento Integrado de Santo André), há 20 anos, nunca foram vistos preços tão elevados nem altas tão expressivas num curto espaço de tempo.

Para se ter ideia, em janeiro, o conjunto de 34 itens considerados essenciais para o consumo de uma família de quatro pessoas (dois adultos e duas crianças) durante um mês, era vendido por R$ 678,27 e, em setembro, chegou a R$ 801,11. No ano, portanto, houve aumento de 15,33%, ou R$ 122,84. Ao mesmo tempo, o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor) avançou 1,64% nesses nove meses de 2020. Ou seja, os alimentos encareceram 9,34 vezes mais que a inflação.

E, ao comparar o custo da cesta básica ao salário mínimo, atualmente em R$ 1.045, tem-se que 76,6% do piso salarial é destinado à aquisição dos alimentos de primeira necessidade. “A população mais pobre é a que mais sente os impactos desse aumento desenfreado nos preços dos alimentos, pois a maior parte dos rendimentos é deixada no supermercado”, assinala o engenheiro agrônomo da Craisa, Fábio Vezzá De Benedetto.

Ao analisar a escalada de preços da cesta básica neste ano, quase a metade do incremento se deu no mês passado, quando o conjunto de itens encareceu R$ 47,02, ou 6,24%. Se o comparativo for com setembro de 2019, de lá para cá o custo do kit subiu R$ 181,38, ou 29,27%. que, à época, custava R$ 619,73.

COVID-19 E SECA

Segundo De Benedetto, a pandemia puxou para cima principalmente os custos dos alimentos que são commodities, ou seja, negociados em cenário internacional, caso do arroz, ou que têm ingredientes negociados no mercado externo, como o óleo de soja. “Como a nossa moeda está extremamente desvalorizada, os preços, calculados em dólar, elevam e muito os valores praticados pelos estabelecimentos”, diz. Ontem, a moeda norte-americana era cotada a R$ 5,52.

No cenário de Covid-19, o arroz sumiu das prateleiras porque a China, grande produtora, decidiu fazer estoque para abastecer o mercado interno e, o Brasil, por outro lado, aproveitou para exportar. E, mesmo com o governo tendo reduzido imposto para importar o cereal, o preço não baixou em setembro porque a oferta não aumentou. Com isso, houve alta de 24,21%, para valor médio de R$ 21,89 o pacote de cinco quilos.

O óleo de soja subiu ainda mais: 30,44%, para R$ 5,87 a embalagem de 900 ml. Quem planta soja, como diz Benedetto, está “nadando de braçada” neste ano, pelo maior direcionamento do produto ao comércio exterior – e, ao mesmo tempo, menor disponibilidade no País. Até o suco de soja encareceu. “O problema maior foi que, como estamos em um ano muito quente, de poucas chuvas, a estiagem está forte e, com isso, o gado não tem pasto para comer, o que reforça a necessidade de alimentá-lo com ração de soja e milho. Mas com a soja mais cara, a ração encareceu e, consequentemente, a carne e o leite. E, dificilmente, esses produtos baixam o patamar atingido”, explica o engenheiro agrônomo.

De fato, a carne subiu quase 10%, sendo 8,59% a de primeira, para R$ 32,81 o quilo, e 9,09% a de segunda, para R$ 24,40 o quilo. E o leite subiu 4,69%, para R$ 3,74 o litro.

Neste cenário, o consumidor direcionou as compras para o macarrão, que, diante da maior procura, aumentou 20,21% e o pacote de dois quilos foi a R$ 2,91 – a alta do trigo também colaborou. Com isso, por outro lado, o feijão, que havia encarecido também em agosto, recuou 5,84%, para R$ 7,68 o quilo, devido à queda na demanda.

“Vai acontecer com o arroz o mesmo que ocorreu com a soja no ano passado. Com preço em alta, muita gente passa a plantar. Só que, como em 2021 o cenário, espera-se, não seja dominado pela pandemia, a oferta deve ser normalizada e, ao mesmo tempo, a demanda pode recuar, o que pode gerar sobra do cereal.” 




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