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Pode faltar teste de Aids no ABC
Por Márcia Pinna Raspanti
Do Diário do Grande ABC
25/11/2001 | 19:01
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A região corre o risco de ficar sem os testes rápidos de Aids a partir de janeiro. Por motivos burocráticos – disputa judicial envolvendo a licitação da compra dos testes –, o Ministério da Saúde interrompeu o fornecimento dos produtos em todo o país até, pelo menos, o início de 2002. A DIR-2 (Diretoria Regional da Saúde), órgão estadual que atende o Grande ABC, disse que só garante a distribuição aos cinco municípios da região cadastrados no programa nacional (exceção de Rio Grande da Serra e São Caetano) até dezembro. Daí para frente, não se sabe como resolver o problema caso o governo federal não repasse os testes.

O órgão estadual fornece todos os meses 54 testes para cada município cadastrado. “Sabemos que vamos receber a remessa de dezembro, depois, não se sabe como vai ser”, disse Lia Augusta de Souza, interlocutora do programa DST (Doenças Sexualmente Transmissíveis)/Aids da DIR-2. Segundo ela, o número distribuído atualmente já é insuficiente para as necessidades das cinco cidades. Mesmo antes do entrave burocrático, Lia disse que o repasse do ministério já estava escasso e irregular. De abril a setembro, o setembro chegou a ser interrompido completamente.

Os testes rápidos levam apenas cinco minutos para ficar prontos. São usados na hora do parto em gestantes que não realizaram o exame de detecção do HIV (vírus da Aids) durante a consulta pré-natal e em casos de acidentes de trabalho que envolvam profissionais de saúde.

Para contornar o problema, a interlocutora da DIR diz que os municípios procuram saídas alternativas, como pedir emprestado ou comprar os testes de outros fornecedores. Mauá está sem o material desde o fim de outubro. “Não dá para fazer nada. Houve casos de parturientes que não tinham feito o exame e tiveram de dar à luz sem fazer o teste”, disse Maria José Basaglia, coordenadora do programa DST/Aids do município. Segundo ela, na semana passada uma auxiliar de limpeza da rede municipal se feriu com uma agulha usada e não havia testes disponíveis para fazer o exame.

Em Santo André, existe um estoque de cerca de 20 testes, que haviam sido comprados para o laboratório municipal. Porém, falta a solução tampão (reagente) usada no exame. “Sem ele, temos de esperar o sangue coagular e centrifugá-lo para termos o resultado, o que leva cerca de uma hora”, disse Ana Chong, coordenadora do programa DST/Aids de Santo André.

Em setembro, Ribeirão Pires chegou a ficar 20 dias sem os testes. A alternativa foi fazer testes tradicionais, que necessitam de pelo menos 24 horas para o resultado (o que não impede a transmissão vertical – da mãe para o bebê). Segundo a coordenadora do programa DST/Aids, Nanci Garrido Butin, não houve nenhum caso de contaminação no período.

Diadema e São Bernardo não estão com falta de testes, mas porque recorreram a outros meios. A rede de saúde de Diadema conseguiu 100 exames do laboratório municipal de Santo André. Em São Bernardo, o Hospital Municipal Universitário comprou testes de laboratórios particulares.

Atraso – A falta dos exames prejudica o trabalho de combate à doença em todo o país. “É um retrocesso no tratamento da Aids. O risco de contaminação do recém-nascido é quatro vezes maior se não for feito o teste”, disse Alexandre Granjeiro, coordenador-adjunto do programa de Aids do Ministério da Saúde.

O risco de transmissão vertical do vírus (na hora do parto) chega a 30%. Se a mãe receber o AZT injetável (droga utilizada no tratamento da Aids) antes do parto e o bebê tomar o medicamento em forma de xarope, logo após o nascimento, as chances diminuem para 7%. Segundo dados do ministério, antes de 1996, quando começaram a ser realizados os testes, o índice de bebês contaminados era de 3,5%. Em 2000, o percentual foi reduzido para 1,9%.

O ministério só poderá normalizar o fornecimento em janeiro, quando for concluída a licitação internacional para a compra dos testes. “Até lá, não há o que fazer, apesar de já termos a verba para a compra do produto”, disse Granjeiro. Serão adquiridos 300 mil testes, a um custo de R$ 2,2 milhões – cada teste custa cerca de R$ 7,49.

O governo federal ia comprar 90 mil testes em caráter emergencial, em julho, num leilão invertido (ganha quem oferecer o menor preço), mas uma das empresas fabricantes, a Blood Diagnostic System, entrou com uma ação judicial e impediu a compra, pois não poderia participar do leilão por ser uma multinacional. O ministério afirmou ter optado pela licitação entre empresas nacionais por ser um processo mais rápido, que evita trâmites de importação.




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